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Mundo onírico e pop se misturam ao circo em exposição de Rafael Silveira

Rafael Silveira explora a linguagem onírica em exposição na Caixa

Referências pop estão na obra do artista
(foto: Rafael Silveira)

Quando pensa em circo, o artista Rafael Silveira passa longe do picadeiro e vai buscar nos gabinetes de curiosidades, uma prática muito comum nos séculos 16 e 17, a ideia que norteia boa parte do trabalho apresentado em Circonjecturas. Naquela época, as grandes navegações proporcionaram encontros entre povos que mudaram as configurações do mundo. Os gabinetes de curiosidades tornaram-se um hábito bastante eurocêntrico: exploradores europeus levavam de volta para suas terras objetos reunidos durante as viagens. O circo moderno, na visão de Silveira, nada mais é que uma consequência dessa prática. “O circo, de certa forma, era uma versão ampliada, exagerada desse tipo de aglomerado, era uma representação do universo”, explica.

O termo Circonjecturas é uma fusão das duas ideias que pautam a criação artística desse curitibano de 41 anos. “Circo não no sentido que estamos acostumados, mas no sentido de uma versão ampliada do antigo gabinete de curiosidades, das coleções privadas, de coisas curiosas, exóticas e científicas. Eu estou no plano das conjecturas e das ideias, e essa exposição é quase um gabinete de curiosidades do mundo das ideias”, avisa. Com curadoria de Baixo Ribeiro, a exposição faz um passeio por boa parte da produção de Silveira e reúne de desenhos e pinturas, a instalações, algumas bem imersivas, outras interativas, além de esculturas, arte cinética e até uma incursão têxtil com uma série de bordados. É, ele avisa, um universo complexo e não apenas uma reunião de obras.

Esse universo tem origem no que Silveira chama de ponto comum entre o mundo das ideias e o material: a intimidade do pensamento. “A gente tem o plano material, que é o aqui e o agora, e o plano das ideias, que está entre uma orelha e a outra”, explica. “Esses universos convivem o tempo todo com a gente. Convido o público a uma imersão num universo mais onírico, porque tudo que está no plano material parte de nossas escolhas. Nessa intimidade onde a ideia se forma, é onde converso com o público.”

Corredor de ilusões serve de passagem para o mundo onírico
(foto: Rafael Silveira)

Nessa conversa, ele avisa, não há temas, mas reflexões sobre a condição humana. Para isso, as obras podem servir de metáforas ou suportes. Na escultura Sorvete, por exemplo, ele quer falar de efemeridade. “Uso o sorvete como um ícone da urgência. Tudo na condição humana é efêmero, o tempo corre pelas mãos como um sorvete que derrete. É quase uma questão filosófica da tragédia humana, mas a abordagem que faço é lúdica”, explica. No Corredor das ilusões, Silveira propõe uma travessia por uma espécie de portal entre dimensões reais e oníricas com olhos e óculos que observam o público. “É um portal dimensional, a pessoa vem do ambiente externo da cidade, passa pelo corredor para entrar num portal e num universo onírico”, garante.

Técnicas

As obras, ele acredita, podem provocar efeitos hipnóticos, por isso a cinética é um dos recursos explorados. As peças híbridas, nas quais mistura diversas técnicas, são fruto de uma visão interdisciplinar necessária para encarar a contemporaneidade. “Meu trabalho flutua entre as disciplinas porque é uma característica da arte contemporânea não se ater a essa questão disciplinar. O novo é criado a partir dessas fusões. Embora tenha influências e referências de vários períodos históricos e estéticos, a interdisciplinaridade permeia todas as obras”, avisa.

Cada trabalho de Silveira é acompanhado de uma alegoria específica e de uma narrativa. Um monstro tem na boca teclas de piano que podem ser tocadas pelo público. A imagem remete a desenhos animados antigos nos quais os personagens aparecem com dentes de teclas depois de receberem um piano na cabeça. Silveira quis falar dos fardos carregados diariamente e da postura diante das dificuldades: “A gente não controla o que acontece ao nosso redor, mas controla a nossa reação. Independentemente do momento que estamos vivendo, escolhemos como reagimos”.

Bordado também faz parte do universo do artista
(foto: Rafael Silveira)

Na pintura Exaustão, um monstro formado por dezenas de pequenos monstrinhos fala da hiperconectividade e do excesso de informação que exaure o homem do século 21. Com o “ponto-cruz-credo”, ele constrói o que chama de desenhos tridimensionais: tecido e bordado tomam forma como fruto da convivência com a mulher, a artista têxtil Flávia Itiberê, que trouxe para o trabalho referências da moda.

Penduradas e sob uma iluminação especial, as esculturas formam sombras que projetam desenhos gráficos, uma referência à origem do próprio artista, cuja formação e principal atuação profissional vêm do designer gráfico e da ilustração. As diferentes linguagens utilizadas por Silveira trazem para a galeria uma estética muito ligada ao universo da publicidade e à cultura pop. A combinação, segundo o curador Baixo Ribeiro, seria responsável pelo sucesso de público: Circonjecturas foi vista por mais de 100 mil pessoas em Curitiba e mais de 30 mil em São Paulo.

Circonjecturas

Visitação até 15 de dezembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural de Brasília (Setor Bancário Sul, quadra 4, lotes 3/4). Classificação indicativa livre. Entrada gratuita.

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