Nos anos 1980, País chegou a ser o segundo maior produtor do fruto no planeta. Hoje ocupa a sétima posição
São Paulo – Atualmente na sétima posição dos países que mais produzem cacau no planeta, o Brasil tenta recuperar uma indústria que já foi vice-líder global. E, para isso, o plano é segmentar e expandir internacionalmente um produto que já foi bem conhecido do brasileiro, principalmente daquele que mora no sul da Bahia.
Produtores baianos estão cientes. Com olhar atento, Henrique Almeida observa um técnico abrir com precisão 100 grãos de cacau antes de colocá-los em uma bandeja de madeira, enquanto um colega coleta amostras em sacos, para verificar se esse lote está de acordo com a indicação geográfica “Sul da Bahia”, uma esperança para os agricultores em crise.
A produção de cacau fino e a criação da indicação geográfica transformam nossa atividade em algo rentável e impulsionam a região”, explica à AFP o agricultor de 63 anos, de uma família de cultivadores de cacau e que adquiriu em 2006 a fazenda centenária de Sagarana, de 60 hectares em Coaraci, sul da Bahia.
Antes dedicado à produção de cacau comum, destinado à indústria de chocolates, Henrique Almeida, como outros produtores do sul da Bahia, optou por melhorar a qualidade de seu cacau para poder continuar sua atividade. Essa mudança começou após a doença da “vassoura-de-bruxa” que reduziu drasticamente, a partir de 1989, a produtividade dos cacaueiros baianos, que cobriam até 86% da produção nacional.
“Quando comprei a fazenda, os preços do cacau comum estavam baixos, e os cacauicultores estavam desanimados, enquanto o mercado do chocolate andava bem. Comecei a fazer cacau fino para fabricar meu próprio chocolate de origem e agregar valor ao meu produto”, ressalta o produtor.
Assim, ele estabeleceu um método de produção preciso e mais longo do que para o cacau comum. Depois de colher e abrir os frutos e classificar os grãos de qualidade, ele os coloca para fermentar em cubas de madeira por sete a oito dias, misturando a cada 24 horas para deixar o aroma do chocolate se formar. Depois, leva os grãos para secar ao sol por vários dias, cobrindo-o em caso de forte calor, ou chuva.
Esses esforços valem a pena: em média, o cacau fino, como aqueles com o selo de indicação geográfica, é pago entre 40% e 160% a mais do que o cacau comum.
O cacau fino agora responde por quase metade de sua produção, e 40% desses grãos de qualidade atendem às especificações de indicação geográfica “Sul da Bahia”.
Volta do protagonismo
Se um dia o Brasil foi um grande produtor de cacau, agora o País vem tomando um chocolate de seus rivais globais. Em 1986, o País só produzia 458,7 mil toneladas da matéria-prima do chocolate. Mais de 30 anos depois, a safra caiu para menos de 255,2 mil toneladas, conforme números de 2018.
Recuperar os números do passado é a missão de Almeida e de outros produtores, cada vez mais orientados para grãos finos e de aroma, que exigem mais cuidados, mas que, segundo um relatório do Banco Mundial de julho deste ano, constituem “um nicho promissor de preços mais altos”, que pode dobrar ou triplicar o do grão clássico.
É uma estratégia ousada, mas válida para adoçar números ainda amargos ao paladar da indústria. No Brasil, o cacau fino ou premium representa apenas 3% da produção nacional, mas quase todas as exportações, de acordo com o Sebrae, entidade de apoio às micro e pequenas empresas.
As exportações brasileiras de cacau fino atingiram 616 toneladas em 2018, destinadas principalmente ao Japão, França e Holanda.
Os produtores de cacau, apoiados por uma comissão especializada (Ceplac) do Ministério da Agricultura, desenvolvem variedades adaptadas e refinam seus métodos, principalmente na fermentação, um momento-chave que determinará o aroma do chocolate e a qualidade do grão.
Os agricultores, por sua vez, também buscam valorizar a origem do grão, com rótulos de indicação geográfica de três regiões: Linhares (Espírito Santo desde 2012), sul da Bahia (desde 2018) e Tomé-Açu (Pará, desde o início a partir de 2019).