Divergência em torno da emissão de títulos de dívida do bloco, o coronabônus, separa países do Norte e do Sul
Os chefes de Estado ou de governo dos 27 países da União Europeia fazem hoje (23) uma reunião para discutir um plano de recuperação da região após a pandemia do novo coronavírus. A reunião do Conselho Europeu, por videoconferência, deverá expor mais uma vez as diferenças entre os países do Sul e do Norte. O Sul, tendo à frente Itália e Espanha, as nações mais castigadas até agora pela covid-19, cobram mais ajuda do Norte, liderado por Alemanha e Holanda.
O principal motivo de divergência é o eurobônus, agora rebatizado de coronabônus, títulos de dívida que seriam emitidos pelos países membros, de forma conjunta, para financiar a recuperação da União Europeia. No entanto, os países do Norte se opõem ao uso desse mecanismo de solidariedade com os países do Sul, que estão altamente endividados e são considerados mais perdulários na gestão da política fiscal.
No último dia 9 de abril, após quatro dias de negociações, os ministros das Finanças dos 27 países do bloco chegaram a um acordo sobre um plano de ajuda de 540 bilhões de euros para os países atingidos pala pandemia. A contribuição financeira gira em torno de três eixos: uso do mecanismo europeu de estabilidade, no valor de até 240 bilhões de euros; um fundo de garantia de 200 bilhões de euros para empresas via Banco Europeu de Investimento; e liberação de 100 bilhões de euros para apoiar a manutenção de empregos.
O coronabônus acabou ficando de fora do acordo e o tema deve voltar à tona na reunião desta quinta-feira dos líderes europeus. Uma convergência em torno desse assunto, porém, parece pouco provável. Em uma entrevista no início da semana, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que uma emissão de dívida conjunta exigiria a celebração de novos tratados entre os países membros, um processo que levaria “dois ou três anos” para ser concluído. “O que precisamos para lidar com esta pandemia é de respostas rápidas”, afirmou. Uma pesquisa publicada no final de março apontou que quase 65% dos alemães são contra a emissão do coronabônus.
Já o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, também em uma entrevista nesta semana, fez um apelo por mais solidariedade dos outros países europeus. Ele criticou a Alemanha pelo tamanho de seu superávit comercial – segundo ele, com esse excedente, a Alemanha não serve como uma locomotiva, mas como um “freio à Europa”. No início de abril, um grupo de prefeitos e outros políticos italianos fez publicar um anúncio no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung para lembrar a Alemanha de que “o país nunca foi obrigado a pagar suas dívidas após a Segunda Guerra Mundial”.
O coronavírus abriu velhas feridas e, ao que tudo indica, elas não vão se cicatrizar tão cedo.