População de baixa renda se expõe na retirada do auxílio emergencial em agências bancárias e na compra de alimentos
Apesar de o Peru ter seguido todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a Covid-19, causada pelo novo coronavírus, o país se tornou um foco da doença na America do Sul, com quase 124.000 casos, atrás apenas do Brasil. A desigualdade social força boa parte da população a violar as regras de confinamento, seja para buscar os meios de sobrevivência ou para obter o auxílio emergencial, em um quadro similar ao brasileiro.
O presidente, Martín Vizcarra, estendeu pela quinta vez o estado de emergência do país na sexta-feira 22. A nova data prevista para o fim da quarentena é 30 de junho e, até lá, o confinamento e toques de recolher continuarão em vigor. Vizcarra condenou a atitude dos peruanos que saíram de casa desde que o país entrou no combate a Covid-19.
“Esse tipo de comportamento é individualista, egoísta e ignora o que está acontecendo ao nosso redor e, principalmente, o que trouxe essa situação sobre nós, não apenas no Peru, mas no mundo todo”, afirmou o presidente.
Com 123.979 casos confirmados e 3.629 mortes, a situação no sistema pública de saúde começa a preocupar as autoridades. Segundo o governo, 85% dos leitos de UTIs já estão ocupados, e com uma média de 4.000 novos casos por dia, não irá demorar muito para que os hospitais entrem em colapso.
Seguindo a tendência de outros países, o governo peruano aprovou um pacote de estímulo econômico para auxiliar a população mais vulnerável, porém a distribuição do recurso foi alvo de críticas. Segundo dados oficiais, 38% dos adultos no país não possuem uma conta bancária na qual o governo possa fazer o depósito. A consequência é clara: milhares de pessoas vão aos bancos para sacar o dinheiro, assim como acontece no Brasil.
O dinheiro do auxílio é gasto principalmente nos mercados para a compra de alimentos. Segundo o senso de 2017 do país, 49% das casas peruanas possuem um refrigerador, sendo que a maioria deles se encontram nos grandes centros urbanos. Esse fator força metade das famílias a fazer compras diárias nos mercados.
“Nós devemos enfrentar (as aglomerações) porque não há outra alternativa”, disse uma peruana para a emissora CNN. “Se não, nós não vamos ter comida. Nós não temos o que comer, por isso viemos aqui”.
A prorrogação do estado de emergência veio com novas medidas. Agora, o governo permitirá a reabertura de alguns estabelecimentos, como salões de beleza, serviços de entregas de comida e consultórios de dentistas. Na segunda-feira 25, Vizcarra anunciou que a prioridade será reforçar os protocolos de saúde nos supermercados do país.