Falta de transparência na divulgação dos dados do novo coronavírus gerou forte reação da sociedade civil, membros do judiciário e especialistas em saúde
Após dias de pressão pela falta de transparência na divulgação dos dados do novo coronavírus, o Ministério da Saúde anunciou na noite deste domingo, 07, que vai lançar uma plataforma interativa sobre a doença no país. O objetivo, diz a pasta, é proporcionar as informações de forma “mais simples e de fácil entendimento e acesso à população em geral”.
Desde a semana passada, os números de novos casos confirmados e de óbitos em decorrência da covid-19 têm sido divulgados após às 22 horas. A contagem vem omitindo o número total de mortos registrado no país desde o início da pandemia, em fevereiro.
O Ministério da Saúde chegou a dizer que queria recontar os óbitos, alegando vítimas a mais por outras doenças. Na avaliação da cúpula da pasta, Estados e municípios estariam manipulando informações para se beneficiar de recursos federais.
O novo modelo de divulgação vai atualizar os dados de óbito com base na data da morte e não mais na data em que se confirmou que a pessoa morreu por coronavírus. “O uso da data de ocorrência (e não da data de registro) auxiliará a se ter um panorama mais realista do que ocorre em nível nacional e favorecerá a predição, criando condições para a adoção de medidas mais adequadas para o enfrentamento da covid-19 nos âmbitos regional e nacional”, diz a Saúde.
A pasta promete, ainda, voltar a disponibilizar o número de casos acumulados. A partir de agora, a nova plataforma pretende mostrar dados do Brasil, de regiões, estados, capitais e regiões metropolitanas “com os respectivos gráficos de evolução diária dos novos registros”.
Apesar do anúncio, o governo não informou qual horário serão divulgadas as informações. Na gestão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a publicação ocorria às 17 horas. Com Nelson Teich, passou para 19 horas.
Reação
A falta de transparência na divulgação pelo governo gerou forte reação da sociedade civil, integrantes do Judiciário, parlamentares e especialistas. O Ministério Público Federal abriu procedimento extrajudicial para apurar o atraso e a omissão na divulgação dos dados.
Já a Defensoria Pública da União foi à Justiça Federal de São Paulo para obrigar o governo a apresentar os números. Ao mesmo tempo, partidos de oposição também planejam acionar o Supremo Tribunal Federal.
Diversas iniciativas alternativas foram anunciadas durante o fim de semana. Uma delas é do médico João Gabbardo, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde e atual chefe do centro de combate ao novo coronavírus em São Paulo, que anunciou uma plataforma com atualização de hora em hora, com base nas informações dos estados.
Um consórcio de veículos de comunicação, que reúne o Grupo Globo, Estadão e Grupo Folha, também passarão a divulgar os dados diários, às 20 horas, com base nas informações estaduais.