Correram boatos nesta semana que Salim estaria deixando o governo, abalado por uma disputa sobre quem comandaria a privatização dos Correios e da Telebras
Existem pessoas teimosas. E há aquelas que são obstinadas.
Muitas vezes, confundimos um tipo com o outro. Mas o fato é que as características dessas personalidades são completamente diferentes. Os teimosos têm cabeça dura e se mostram sem jogo de cintura algum. Já os obstinados têm missão e propósito. Miram em um objetivo e marcham céleres para alcançá-lo. O mundo empresarial conta com inúmeros obstinados no rol dos bem-sucedidos. E tem uma verdadeira montanha de teimosos no campo dos fracassos.
Como todo empresário de sucesso, Salim Mattar pode ser considerado um obstinado. Além disso, parece ser movido por uma energia inesgotável, como aquele coelho do comercial de pilhas alcalinas. Quando resolveu sair da iniciativa privada, ele já estava se dedicando há um bom tempo à causa liberal. Patrocinava institutos que defendiam os pensamentos de Friedrich Hayek, Adam Smith, Milton Friedman e Ludwig Von Mises – nessas entidades, envolvia-se diretamente em suas ações e não raro colocava mais a mão na massa nos projetos do que os próprios funcionários das instituições.
Além disso, tinha preocupação especial em formar novos talentos e jovens lideranças. Voava pelo país para conversar com quem tinha ideias modernas e mostrava uma curiosidade espantosa para quem já havia passado a barreira dos 60 anos.
Diante de tudo isso, pode-se dizer que ocupar um cargo em Brasília foi coroar a vocação que surgiu nos últimos tempos. À frente da secretaria que comanda a desmobilização e a melhoria na gestão de ativos públicos, ele é um dos primeiros a chegar e, não raro, o último a sair.
Alguém com esse perfil iria desistir facilmente de sua missão? Seguramente não.
Mesmo assim, correram boatos nesta semana que Salim estaria deixando o governo, abalado por uma disputa sobre quem comandaria a privatização dos Correios e da Telebras – se ele ou o ministro das Comunicações, Fábio Faria.
Faria, a nova estrela da Esplanada dos Ministérios, está conseguindo o que ninguém havia obtido até agora: fazer o presidente Jair Bolsonaro ouvir mais do que falar e abdicar da paradinha obrigatória na portaria do Palácio Alvorada para geralmente uma solapada na imprensa, no Poder Legislativo ou no Judiciário.
A eventual trombada com um ministro poderoso colocaria qualquer um em maus lençóis. Mas estamos falando de alguém que fundou sua empresa com seis fuscas financiados e hoje fatura mais de R$ 10 bilhões por ano. Além de obstinado, ele costura seus movimentos com a discrição e a sagacidade daqueles que nasceram nas Minas Gerais. Tem trânsito direto com mais de cem parlamentares. Quando está em Brasília, toma café da manhã, almoça e janta com deputados e senadores. E tem, todas terças-feiras, uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro.
Um eventual atrito seria o suficiente para demovê-lo da missão de tornar o Estado brasileiro mais leve? De jeito nenhum. Curiosamente, os dois lados envolvidos na fofoca não podem ser considerados turrões, pelo contrário. Tanto Salim como Faria são figuras marcadas pelo diálogo e pragmatismo: prezam mais a solução de um problema em vez dos louros da vitória.
Por isso, o ministro apressou-se a dizer, quando surgiram os boatos de atrito entre os dois: “Estou 100% alinhado com o Salim sobre as privatizações, que serão conduzidas de forma conjunta entre o Ministério das Comunicações e o Ministério da Economia. O BNDES já está trabalhando na contratação da consultoria que vai modelar a venda dos Correios”, afirmou Faria ao site Antagonista.
Quem ganha com essa intriga? Justamente quem prefere manter o Estado inchado e aberto a um maior número possível de nomeações para cargos públicos. Ao criar uma indisposição com um dos ministros mais populares junto a Bolsonaro, os fuxiqueiros de plantão queriam criar um clima irreversível que resultasse na demissão do secretário. Mas não contavam com a paciência e a resiliência de Salim Mattar. No que depender dele, o peso estatal nas costas do contribuinte vai diminuir. Talvez não do tamanho que ele esteja planejando. Mas será uma redução substancial e reconfortante, com a qual todos brasileiros sairão ganhando.
Apoiar a privatização é mais importante do que defender o governo A, B ou C. Além de reduzir o tamanho da máquina pública e, portanto, diminuir a carga tributária, a venda de estatais melhora significativamente o serviço oferecido à sociedade. Até os petistas mais empedernidos usam com desembaraço seus aparelhos celulares de última geração, cuja rede suportou o uso intenso desta fase pandêmica. Na época das operadoras estatais, contudo, os celulares ficavam restritos nas mãos de uma elite e o sinal caia a todo momento. O exemplo da telefonia mostra o quanto as empresas privadas podem alavancar as atividades dessas companhias, a economia como um todo e a oferta de empregos – além de reduzir o déficit público.