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Banco Central reduz Selic em 0,25 ponto e juros vão a 2% ao ano

Trata-se da nona redução consecutiva da Selic, cujo atual ciclo de queda começou em julho do ano passado; colegiado deixa porta aberta para mais cortes

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Janeiro de 2020 (Andre Coelho/Bloomberg)

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou nesta quarta-feira, 5, um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.) na Selic, taxa básica de juros da economia, que foi de 2,25% a 2% ao ano, uma nova mínima histórica. A decisão foi unânime e novos cortes estão no radar.

Trata-se da nona redução consecutiva da Selic, cujo atual ciclo de queda começou em julho do ano passado.

A pandemia continua provocando a maior retração econômica global desde a Grande Depressão. Nesse contexto, os  membros do colegiado consideram que o ambiente para as economias emergentes segue desafiador:

“Os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”, diz o comitê em comunicado.Na opinião da autoridade, embora a conjuntura econômica continue a prescrever estímulo “extraordinariamente elevado”, não há mais muito espaço para cortes até o fim do ano: “Se houver, deve ser pequeno”.

Novos estímulo dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, diz o BC, ou na trajetória de inflação.

O mercado prevê uma alta de 1,63% para o IPCA em 2020, para quando o centro da meta oficial é de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (5,5%) ou menos (2,5%). E o cenário segue sob controle pelos três anos seguintes, pelo menos.

O BC alerta ainda que incertezas sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Embora o desempenho de junho da indústria e de serviços indique uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) em relação a fase mais aguda da crise, os impactos da pandemia no desemprego e no consumo deverão ser mais duradouros.

Desde o início de maio, 2,8 milhões de postos de trabalho foram fechados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e a expectativa é que a taxa de desemprego suba dos atuais 13% para 17% no fim do ano.

A taxa Selic deve se manter em 2% até o final do ano, pelo menos, segundo previsão da consultoria 4E.

Já Estevao Garcia, coordenador de cursos de pós-graduação da Fipecafi, considera que pode haver estabilidade até março ou abril do ano que vem.

Um novo ciclo de alta só deve ocorrer a partir do segundo semestre de 2021.

Em maio, passado o pior mês para a economia, a autoridade chegou a considerar que mais dois cortes de 0,75 (p.p.) completaria o estímulo necessário como reação aos efeitos econômicos da covid-19. Na última reunião de junho, porém, quando anunciou o segundo desses, deixou a porta aberta para mais ajustes.

Veja o comunicado na íntegra:

Copom reduz a taxa Selic para 2,00% a.a.

Em sua 232ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 2,00% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

No cenário externo, a pandemia da Covid-19 continua provocando a maior retração econômica global desde a Grande Depressão. Nesse contexto, apesar de alguns sinais promissores de retomada da atividade nas principais economias e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador;

Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial.  Os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente permanecem abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;

As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 1,6%, 3,0% e 3,5%, respectivamente;

No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$5,20/US$*, as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 1,9% para 2020, 3,0% para 2021 e 3,4% para 2022. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2,00% a.a. e se eleva até 3,00% a.a. em 2021 e 5,00% a.a. em 2022; e

No cenário com taxa de juros constante a 2,25% a.a. e taxa de câmbio constante a R$5,20/US$*, as projeções de inflação situam-se em torno de 1,9% para 2020, 3,0% para 2021 e 3,7% para 2022.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional.

Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 2,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022.

O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno. Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva.

Apesar de uma assimetria em seu balanço dos riscos, o Copom não antevê reduções no grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022. Essa intenção é condicional à manutenção do atual regime fiscal e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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