Para um dos formuladores do Plano Real, a volta de um imposto sobre movimentações financeiras oneraria, proporcionalmente mais, os mais pobres
Ex-presidente do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real, Persio Arida criticou nesta quarta-feira, 19, a ideia defendida pelo ministro Paulo Guedes (Economia), de criação de um imposto sobre transações eletrônicas, considerada uma repaginação da antiga CPMF.
Ao participar de um debate com o economista Arminio Fraga, que presidiu o Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, Arida disse que a volta de um imposto sobre movimentações financeiras teria efeito regressivo — ou seja, oneraria, proporcionalmente mais, os mais pobres —, produzindo uma “distorção importante” na dinâmica econômica.
“Seria um retrocesso reintroduzir a CPMF. É algo regressivo e que gera uma distorção importante no funcionamento da economia”, disse Arida durante o evento virtual promovido pelo Santander Brasil.
O economista lamentou que a proposta de reforma tributária do governo não elimine nenhuma isenção tributária. “Surpreendentemente, a proposta do governo foi mais tímida do que a do Congresso. Geralmente é o contrário”, afirmou Arida.
Ele, por outro lado, considerou um “avanço enorme” o propósito, contido na matéria encaminhada pela equipe econômica, de simplificar o sistema tributário.
Convicção do presidente
Persio Arida afirmou ainda que reformas são parte de uma agenda permanente de um governo, mas que, se o presidente não estiver convicto disso, não adianta. “Reformas são sempre necessárias, mas se não faz a agenda do Congresso, ele faz sua própria agenda”, disse. “Precisamos de um presidente que esteja convicto da necessidade da reforma. Ele é quem tem a caneta e que manda em última análise”, acrescentou.
Para Arida, os desafios hoje do governo de Jair Bolsonaro são enormes, com a necessidade de retomar a credibilidade em meio a uma onda de desesperança. Nesse contexto, ele sinalizou que nas próximas eleições o país terá a oportunidade de fazer mais e de forma rápida. Para isso, contudo, depende de um presidente com perfil reformista, capacidade de articulação política e que tenha uma boa equipe.
“Nas próximas eleições, se o presidente eleito tiver uma visão clara de país, articulação política e boa equipe conseguirá fazer muito mais”, disse ele, citando, por exemplo, as mudanças com o Plano Real. “Problemas não nos faltam. Distorções também não. Dá para fazer muito mais do que se imagina”, acrescentou.