As empresas acusam a Apple de monopolizar a sua loja de aplicativos
As brigas da Apple com outras gigantes de tecnologia parecem não ter fim. Na última terça-feira, 15, a disputa que já estava quente com a Epic Games apagou em incêndio, quando a empresa americana afirmou que a fama do principal aplicativo da desenvolvedora, o Fortnite, já estava “em queda” e que eles precisavam iniciar uma batalha judicial para “se tornarem mais famosos”. Como se não bastasse esse embate, um outro vem sendo traçado entre a Apple, a Microsoft, o Google e o Facebook — que acusam a maçã de monopolizar a sua loja de aplicativos e permitir que apenas os seus próprios sejam aproveitados pelos usuários de iPhones e iPads. Mas quem perde mais com essa discussão?
A resposta não é exata. Ter seus aplicativos na App Store é uma grande jogada, pensando que a Apple é a segunda maior fabricante de celulares no mundo, com 25,15% do mercado global, atrás apenas da Samsung, que tem 31,04%, segundo a companhia irlandesa StatCounter. Fato é que, para os desenvolvedores, o preço para estar no radar da Apple é alto — e às vezes pode não valer a pena (é dai que vem a briga com a Epic Games). Isso porque a Apple cobra uma comissão de 30% sobre qualquer transação que acontece nos apps disponíveis em sua loja de aplicativos. “A ideia da Apple é ter um sistema de pagamentos fortes. Para se adequar a política de dados atuais, é importante colocar formas de associar um usuário do Fortnite, por exemplo, a uma conta da Apple. Essa associação cria, a quem vende o jogo, um potencial para entender o cliente fora do jogo”, explica Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto Tecnologia Social (ITS).
A batalha com a Epic Games estourou no mês passado, e o jogo “Fortnite”, como resposta, lançou uma campanha contra a Apple chamada #FreeFortnite (#LiberteOFortnite, em português), na qual dava presentes anti-Apple para seus jogadores. O fato de a Epic não estar mais presente na App Store significa que os jogos não podem mais ser vendidos para cerca de 1 bilhão de usuários de iPhones, iPads e Macs. Dor de cotovelo ou medo de perder receita?
Segundo o site americano Business Insider, a Apple afirmou que “o interesse no aplicativo tinha caído em 70% em julho deste ano se comparado a outubro de 2019”. “Esse processo parece ser parte de uma campanha de marketing feita para aumentar o interesse no Fortnite”, afirmou a companhia — jogando ainda mais lenha na fogueira.
Em uma auditoria realizada no congresso americano em julho, quando perguntado sobre a relação a acusação de monopólio nos apps da loja dos dispositivos iOS, o presidente da empresa, Tim Cook, afirmou que as medidas são uma “forma de aumentar a segurança dos dispositivos”. Sobre as comissões de 30%, Cook afirma que desde 2008 o valor tem sido o mesmo. “São portanto dois pontos centrais: o bloqueio de um app, o Fortnite, e de um motor de games (a conta de desenvolvimento). O app tem receitas, e as receitas tem 30% abocanhado pela apple. Dessa forma, o motor é usado por diversas empresas, e bloqueá-lo pode tirar outros players do mercado”, continua Steibel.
Mas outras empresas têm reclamado da atitude da gigante americana.
Apesar de permitir o aplicativo da Amazon, é impossível comprar livros para o Kindle em iPhones, por exemplo, uma vez que a companhia criada por Steve Jobs tem seu próprio serviço de compra de livros, o Apple Books.
É também possível instalar o aplicativo do Google Play Filmes, ver a biblioteca se o usuário já tiver comprado filmes, mas não adquirir novas produções nos dispositivos Apple, visto que ela tem seu próprio serviço de compra de filmes e outros podem ser adquiridos no streaming Apple TV+.
É daí que vem a queixa da Microsoft e do Google. Ambas as empresas alegam que as regras da maçã restringiram o que seus aplicativos de jogos podem fazer no iOS. Por exemplo, o serviço da Microsoft xCloud não está disponível no sistema operacional e o aplicativo de games do Facebook… simplesmente não tem games.
A Apple afirma que os aplicativos de streaming de games do tipo são permitidos em sua loja de aplicativos, mas com algumas condições: os jogos nos serviços da Microsoft e no do Google precisam ser baixados individualmente, e não diretamente dentro de apenas um aplicativo.Steibel acredita que essas brigas e discussões tendem a escalar em um futuro próximo. “Só vai aumentar. Na China vemos brigas como essas a todo tempo, e o que estamos vendo é uma discussão séria, internacional, sobre concentração de mercado similar ao que vimos quando o mercado finaceiro surge, e é regulado”, explica.
Os serviços de streaming de games do Google, o Stadia, no entanto, quer agir como uma plataforma para desenvolvedores e jogadores, sendo responsáveis individualmente pela decisão de quais games farão ou não parte de suas plataformas, mas a Apple quer ter um controle sobre quais jogos serão colocados, analisando cada um deles individualmente. O que quer dizer que, se um serviço destreamingde games tem 100 jogos, cada um deles será analisado e listado individualmente pela Apple — o que pode aumentar expressivamente o valor que a marca de Steve Jobs pode faturar em cima de cada um deles, uma vez que, como já foi citado anteriormente, a companhia recebe cerca de 30% dos lucros dos apps publicados em sua loja.
Agora a Apple pisou também no calo do aplicativo sueco de streaming de música, o Spotify, com o lançamento de seu pacote de assinaturas, o Apple One. Segundo o Spotify, o pacote de serviços aumenta ainda mais o monopólio da Apple. “Mais uma vez, a Apple está usando a sua posição dominante e práticas injustas para tirar vantagem de seus consumidores e privando seus clientes ao favorecer apenas seus próprios serviços. Nos queremos que as autoridades tomem uma ação urgente para restringir o comportamento anti-competitivo da Apple, que, caso não seja checado, irá causar um prejuízo irreparável na comunidade de desenvolvedores e ameaçar a nossa liberdade de ouvir, aprender, criar e nos conectar”, disse a empresa em um comunicado enviado à imprensa americana.
A Apple Music, serviço de streaming da companhia, passou dos 60 milhões de assinantes em junho deste ano, enquanto o Spotify tem mais de 138 milhões de inscritos. Mas o temor é claro, uma vez que as ações da companhia caíram em até 7% um dia depois do pacote da Apple.
Para Steibel, nenhuma das empresas pode sair como vencedor desse jogo de xadrez — exceto a Apple, que parece ter dado um xeque-mate. “A Apple está puxando para aumentar seu domínio em outros mercados, que não o seu. Não foi ela quem puxou a briga, mas sim quem discordou do processo. E nessa briga muitos podem perder, porque atrai o tema do monopólio de mercados para o debate”, afirma.