Escolha de secretários, políticas econômicas, entre outros fatores, podem influenciar mercado cripto não só nos EUA, mas no mundo todo.
Daqui apenas dois dias, em 1º de janeiro de 2021, Joe Biden assumirá o posto de 46º presidente dos Estados Unidos. O líder máximo da maior economia do planeta pode ter influência direta sobre uma série de questões e assuntos globais, e o mercado de criptoativos é um deles.
A escolha de secretários e diretores de órgãos reguladores, as políticas econômicas, entre vários outros fatores, podem ter influência direta sobre o mercado de criptoativos não apenas nos EUA, mas em todo o mundo.
“Eles [novos secretários e dirigentes de alto escalão] podem exercer maiores pressões regulatórias nas empresas e pessoas que participam do mercado. Porém, não é um grande risco, já que os fundamentos dos criptoativos não podem ser modificados por nenhum governo, por serem descentralizados”, disse Marco Castellari, CEO da exchange Brasil Bitcoin.
Mesmo sem haver risco de ataque aos fundamentos dos criptoativos, uma eventual saída de um mercado relevante como os EUA traria, certamente, enorme prejuízo à indústria cripto. O CEO da Binance, CZ, apontou que “um contratempo em termos de regulação poderia ser um balde de gelo na indústria”, sem se referir especificamente aos EUA. Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin, também apontou possíveis riscos para o mercado de criptoativos “se um país relevante para a economia global aplicar algum tipo de sanção à negociação ou custódia de criptomoedas em seu território”.
Apesar de rumores sobre uma possível mudança na legislação que a administração Trump supostamente pretendia colocar em prática nos últimos dias de seu mandato, trazida à tona pelo CEO da Coinbase, maior exchange dos EUA, no início de dezembro — e que obrigaria empresas de custódia de criptoativos a identificar seus usuários —, não há nenhum indicativo de que os EUA podem rumar para este caminho.
E se por um lado Biden indicou Janter Yellen, antiga detratora do bitcoin, para o cargo de secretária do Tesouro, o novo presidente poderá ter como conselheiro financeiro Gary Gensler que, ao contrário, tem opinião positiva sobre os criptoativos. Além disso, a campanha de Joe Biden nas últimas eleições recebeu uma doação de 5 milhões de dólares do fundador da gigante exchange FTX, Sam Bankman-Fried, o que indica que o mercado de criptoativos local vê com bons olhos a sua eleição.
Assim, em termos de regulação, apesar de ser difícil prever os caminhos que a nova gestão irá tomar, uma legislação anti-cripto soa bastante improvável, especialmente quando se observa a magnitude que este mercado atingiu no país – para ficar em dois exemplos, a Coinbase, que deve fazer seu IPO em 2021, é avaliada em mais de 20 bilhões de dólares; já a FTX negocia mais de 3 bilhões de dólares em ativos digitais por dia.
Combate à pandemia pode beneficiar criptos
O partido Democrata, do qual Joe Biden é parte, tem indicado apoio à emissão de trilhões de dólares em estímulos para combater os efeitos negativos da pandemia na economia. Essa opção é polêmica e, apesar dos benefícios no curto prazo, pode gerar desvalorização da moeda e inflação.
Esses problemas, entretanto, podem ser positivos para o bitcoin e outros criptoativos descentralizados, que não estão sujeitos à interferência de governos e têm oferta limitada, se tornando um possível “refúgio” para os investidores.
“O aumento da oferta monetária que vem acontecendo neste ano por conta da pandemia deve seguir no ano de 2021 e está trazendo grande valorização do bitcoin, que é uma criptomoeda extremamente escassa frente ao dólar”, citou Castellari, em referência ao fato de que um governo pode optar por imprimir novos dólares, mas ninguém pode interferi na emissão de novos bitcoins.
Para o executivo, uma eventual desvalorização da moeda norte-americana também poderá ser positiva para o mercado de criptoativos no Brasil: “A queda do dólar pode ser uma excelente oportunidade para quem negocia cripto no Brasil. O Tether [stablecoin lastreada em dólares], por exemplo, possui paridade com o dólar e, dessa forma, é possível se aproveitar dessa eventual queda para se expor à moeda sem burocracia e sem as taxas altíssimas que as casas de câmbio tradicionais cobram”.
Uma possível desvalorização do dólar afetaria imediatamente o preço dos criptoativos no Brasil, que usam a sua cotação na moeda norte-americana como referência de preço, o que levaria a uma queda nos preços dos ativos digitais no país, mesmo se os criptoativos se mantiverem estáveis no mercado internacional. Isso não é bom para quem já investe, mas pode ser uma oportunidade para atrair novos investidores.
Ainda é cedo para afirmar ou prever o impacto que Joe Biden poderá causar no mercado cripto global, mas, até agora, os indícios apontam para uma convivência pacífica. O ano de 2021 trará a resposta.