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terça-feira, 24/12/24
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A tatuagem como caminho para a ressocialização

Oficina para adolescentes na Unidade de Internação de São Sebastião oferece cultura e arte, além de caminho profissional na reintegração social

| Fotos: Paulo H Carvalho/Agência Brasília.

“É necessário sempre acreditar que o sonho é possível / Que o céu é o limite e você, truta, é imbatível”. Os versos da música A vida é desafio, do grupo de rap Racionais MC’s, servem de inspiração para um grupo de adolescentes destacar trechos que possam inspirar desenhos. A atividade faz parte da oficina de tatuagem promovida na Unidade de Internação de São Sebastião (UISS), administrada pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus).

A intenção do workshop, organizado pela equipe de psicólogas da UISS, é proporcionar aos socioeducandos um espaço de reflexão sobre suas trajetórias de vida e apresentar uma possibilidade de inserção profissional na área.

Durante quatro encontros, os adolescentes participantes serão apresentados a diversos aspectos da cultura da tatuagem, como desenhos, expressão visual, orientações sobre biossegurança, equipamentos para tatuar e até uma oficina prática sobre peles artificiais, como cascas de laranja.

A oficina de tatuagem é uma ação pontual desenvolvida na UISS dentro de um amplo espectro de atividades de caráter cultural, esportivo, pedagógico, profissionalizante e de lazer. Os adolescentes praticam esportes como futebol e queimada, assistem a filmes, realizam atividades de escolarização e participam de cursos de profissionalização em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), além de também receberem atendimentos pela equipe multidisciplinar e saúde da unidade.

Para ministrar as aulas da oficina, foi convidado o tatuador brasiliense Taiom Almeida, que trabalha no ramo há mais de 18 anos tanto no Brasil quanto no exterior e também já pesquisou sobre a relação histórica e cultural entre tatuagem e confinamento.

Durante o encontro que a Agência Brasília acompanhou, os dez adolescentes participantes ouviram músicas dos grupos Racionais MC’s, Tribo da Periferia e Gog e, a partir de trechos destacados por eles, desenhos e outras expressões visuais foram trabalhados.

Para Taiom, a parte mais importante da oficina é levar o sentimento de integração e oportunidade aos socioeducandos. “O que eu tentei trazer para eles foi mostrar a tatuagem como uma cultura da qual eles já fazem parte, aliar isso ao lado profissional e também servir de inspiração para outras áreas; mostrar que a arte pode trazer essa proximidade da sua vida pessoal com a sociedade e ver que você não está à parte, que você não está excluído”, afirma.

A psicóloga Iara Flor, que atua na UISS e foi uma das idealizadoras da oficina, ressalta o incentivo que as aulas trouxeram na promoção à saúde mental dos adolescentes e a união que a experiência levou à unidade.

“É importante para eles que essas dinâmicas tenham essa mediação por meio da arte, da cultura, e que seja algo vinculado à realidade deles. A oficina já teve um impacto muito importante na unidade toda, os agentes estão achando superlegal. Restaura o sonho, a capacidade de planejamento por outras vias”, enfatiza.

Para o tatuador Taiom, a parte mais importante da oficina é levar o sentimento de integração e oportunidade aos socioeducandos

Atividades do tipo são incentivadas e apoiadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF), como explica a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani: “Iniciativas como a oficina de tatuagem fortalecem a política de socioeducação, proporcionando aos nossos adolescentes acesso às expressões artísticas e culturais, além do intuito de profissionalização e ressocialização”.

As aulas da oficina começaram a ser ministradas no meio de julho e seguirão até o início de agosto, sempre um encontro por semana de aproximadamente três horas. A UISS foi inaugurada em 2014 e atualmente possui 67 adolescentes cumprindo medida socioeducativa de internação.

 

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