Com derrota do Orçamento e colapso da “Geringonça”, governo socialista entra em compasso de espera, mas outros partidos também perdem.
Os portugueses amanheceram contabilizando os prejuízos deixados pela derrota do governo do premiê socialista António Costa, que não conseguiu aprovar o Orçamento do próximo ano e ainda viu naufragar a coalizão de esquerda, mais conhecida como Geringonça, que dava as cartas no país há seis anos.
É difícil apontar um vencedor neste impasse em que Portugal mergulhou depois que comunistas, a extrema esquerda e os verdes se juntaram à direita e à extrema direita para rejeitar o Orçamento. A manobra deverá antecipar em dois anos as eleições gerais, a contar pela ameaça feita pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa: sem Orçamento, o Parlamento será dissolvido.
Todos os partidos saíram perdendo com o impasse político em que Portugal mergulhou. O premiê António Costa confiou muito nos louros recebidos por alçar Portugal a modelo de estabilidade entre seus vizinhos europeus. Levou uma rasteira de seus sócios.
O premiê expressou num desabafo o que definiu como irresponsabilidade de seus sócios ao vetarem o Orçamento. “Ninguém fora do país vai entender como se pode bloquear um Orçamento que traz creches gratuitas, progresso fiscal e serviços públicos mais fortes.”
Uma nova eleição deve ratificar o Partido Socialista como o mais votado, embora sem a maioria desejada pelo premiê, sobretudo agora que os sócios de esquerda lhe viraram as costas. De acordo com pesquisa publicada nesta terça-feira pelo “Jornal de Negócios”, os socialistas têm apoio de 37% dos eleitores, 12 pontos à frente do PSD, de centro-direita e maior partido de oposição.
Se o cenário se mostra difícil para Costa, também é para seus ex-aliados e adversários políticos. Os partidos Comunista, Bloco de Esquerda e Verdes negaram apoio ao premiê para aprovar o Orçamento, acusando-o de não fazer mais para aumentar o poder de compra dos portugueses e melhorar os serviços públicos.
Sabem, no entanto, que têm muito a perder com a dissolução do Parlamento. Preferem negociar um novo Orçamento com o governo a ter que encarar novas eleições.
O timing é péssimo também para o PSD, que corre o risco de embaralhar duas eleições: a interna, para a escolha da nova liderança, e a geral, para a disputa da maioria no Parlamento e o cargo de primeiro-ministro. O partido conservador CDS e o Chega, de extrema direita, também enfrentarão eleições internas.
A bola está no campo do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que tem até 60 dias para marcar as eleições, caso decida cumprir a promessa de dissolver o Parlamento. Como o prazo coincide com as festas de fim de ano, tudo indica que o país navegará até o início de 2022 no modo político instável e ainda sem usufruir das benesses conquistadas pelo equilíbrio político e pelo controle da pandemia.