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segunda-feira, 23/12/24
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Fazendeiros podem reduzir poluição ao ensinarem gado a ir ao banheiro

Estudo publicado na revista Current Biology mostra que é possível ensinar animais a atender ao “chamado da Natureza” e trazer benefícios ao meio ambiente

No experimento, foram treinados 16 bezerros, que ainda tinham “tempo livre” para aprender a nova habilidade (Agência/Getty Images)

Ensinar gado a ir ao toalete pode parecer um tanto estranho, mas tem efeitos positivos no meio ambiente. É o que mostra um estudo publicado na revista Current Biology, feito em setembro por pesquisadores na Alemanha. Por lá, os estudiosos treinaram vacas para usarem uma pequena área cercada com piso de grama artificial como se fosse um box tradicional de banheiro — o que permite às fazendas tratar a urina das vacas, que frequentemente polui o ar, o solo e a água.

Além disso, componentes presentes nessa urina, como nitrogênio e fósforo, também podem ser usados para fazer fertilizantes, como apontam os pesquisadores à revista Science News.

No experimento, foram treinados 16 bezerros, que ainda tinham “tempo livre” para aprender a nova habilidade, já que não estavam tão envolvidos com a rotina de ordenha, como afirma Lindsay Matthews, profissional focada no comportamento animal na Universidade de Auckland. Cada animal passou por um treinamento de 45 minutos por dia para entender onde deveria fazer as necessidades. Para que os bichinhos entendessem o processo, os pesquisadores colocaram os bezerros dentro dos boxes improvisados e recompensavam os animais com uma guloseima a cada vez que faziam xixi por lá.

“Tivemos 11 dos 16 bezerros treinados em cerca de dez dias. As demais vacas também devem passar por esse processo de forma rápida, só não tivemos tempo suficiente para garantir que isso acontecesse. Mas são animais muito inteligentes, muito mais do que as pessoas pensam”, afirma Lindsay.

É algo especialmente útil, considerando que uma vaca pode fazer dezenas de litros de xixi por dia e há cerca de um bilhão de cabeças de gado em todo o mundo, como aponta a revista Science News. Sem o tratamento, a urina desses animais pode se misturar às fezes e criar uma “lama” que emite amônia, um gás poluente. Ao mesmo tempo, nas pastagens, a mesma urina pode atingir água potável e liberar óxido nitroso, que também contribui para o efeito estufa.

Para que ganhe cada vez mais popularidade, não só na Alemanha, mas no mundo, os pesquisadores defendem que o treinamento do gado passe a ser um processo automatizado. É algo que ainda não existe, mas que os pesquisadores acreditam que possa ser desenvolvido em breve. O impacto que pode gerar é motivador: de acordo com projeções anteriores, se 80% da urina do gado for coletada em latrinas, isso poderia diminuir as emissões de amônia pela metade, melhorando a qualidade de vida das pessoas.

No Brasil

No País, 71,85% das emissões de metano vêm da agropecuária, segundo dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Remoções de Gases de Efeito Estufa. Para reduzir isso, um método que propicia mais eficiência é o de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que mistura ao menos dois desses sistemas produtivos em uma mesma propriedade. Ele é utilizado, por exemplo, há mais de dez anos na Fazenda Santa Silvéria, na região de Bauru, no interior paulista.

Além de 37% de sua área ocupada por reserva nativa, a propriedade integra a lavoura de soja à pecuária de corte, conforme conta o gerente da fazenda, Fulvio Domenek. A Santa Silvéria tem cerca de 1.300 hectares de terra, com cerca de 1.800 cabeças de gado.

“O principal benefício do sistema integrado foi o aumento da arroba produzido por hectare no ano. Porque se entrega uma melhor fertilidade do solo”, diz. “Com uma maior produção de volumoso, diminui-se a necessidade de suplementação por ração. O gado se desenvolve com pasto, principalmente, e o ciclo de produção, na engorda, ficou mais rápido.”

Domenek conta que o gado do tipo Bonsmara, produzido ali, em dois anos já está fora da fazenda, como touro ou carne. Queiroz indica que o tempo médio de abate no Brasil é de 36 meses. Menos tempo no pasto significa menos fermentação entérica.

Utilizando os dejetos do gado, em Rondônia, o projeto Energias Renováveis da Amazônia (ERA), do Centro de Estudos Rioterra, busca também mitigar os impactos climáticos. Desde 2017, foram instalados 28 kits biodigestores em fazendas de produção leiteira das cidades de Itapuã do Oeste, Cujubim e Rio Crespo.

A instalação do equipamento nas fazendas não é completamente gratuita, mas o custo é acessível, conforme explica Alexandre Queiroz, biólogo e coordenador de Educação da Rioterra. Com subsídio, os agricultores precisam arcar com 20% do valor do equipamento – um montante que gira em torno de R$ 800 e que pode ser pago em 12 vezes.

O equipamento permite fazer a gestão de resíduos da propriedade. Acrescidos de água, o esterco do gado e resto de alimentos são transformados em biogás e adubo.

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