Com 215.000 militares, o exército ucraniano enfrenta desde 2014 um conflito com os separatistas pró-Rússia do leste do país, uma guerra que já provocou 13.000 mortes
Em uma área florestal próxima à capital da Ucrânia, Kiev, tropas russas falsas cercam os reservistas do exército ucraniano, com uniformes de camuflagem.
Os aspirantes a soldados, que incluem arquitetos e pesquisadores, respondem aos tiros com réplicas de fuzis Kalashnikov, enquanto granadas de fumaça explodem ao redor.
Acredito que todos neste país devem saber o que faze… caso o inimigo invada o país”, declarou à AFP Daniil Larin, estudante universitário de 19 anos, durante uma pausa no treinamento.
Larin é um dos 50 civis ucranianos que viajaram de Kiev até uma fábrica soviética de cimento abandonada para treinar durante o fim de semana e aprender como defender seu país de uma possível invasão russa.
Dezenas de civis alistaram ao exército de reservistas da Ucrânia nos últimos meses, diante do medo de invasão da Rússia, que Kiev acusa de concentrar 100.000 soldados em suas fronteiras.
Com 215.000 militares, o exército ucraniano enfrenta desde 2014 um conflito com os separatistas pró-Rússia do leste do país, uma guerra que já provocou 13.000 mortes.
Moscou nega qualquer plano de invasão, mas o presidente russo, Vladimir Putin, não descarta uma resposta militar se a Otan, organização que a Ucrânia deseja integrar, persistir com sua expansão para o leste.
O corpo de reservistas ucraniano, que alcançou 100.000 membros, aprende “como usar armas, como deve comportar-se no campo de batalha, como defender cidades”, explica Larin à AFP.
Marta Yuzkiv, médica de 51 anos, acredita que o exército russo é “amplamente superior” ao da Ucrânia, mas que o risco de uma escalada militar é “muito alto” e justifica a adesão aos reservistas.
“Só teremos uma chance se estivermos todos preparados para defender nossa terra”, disse.
Desde que se uniu aos reservistas em abril, Yuzkiv treina várias horas a cada domingo: ela fornece assistência médica, atira com os fuzis e cria pontos de controle.
O exército forneceu um uniforme militar, mas ela comprou o capacete, o colete à prova de balas e óculos táticos com o próprio dinheiro.
Seu grupo de aprendizes é parte de um batalhão treinado para defender Kiev em caso de ataque contra a capital da Ucrânia.
Vadym Ozirny, comandante de batalhão, explica que após uma reunião em um ponto de encontro, os reservistas devem trabalhar para proteger edifícios administrativos e infraestruturas críticas, assim como ajudar na retirada dos moradores.
“Com o equipamento, as armas e as ordens de comando, estas pessoas devem ter a capacidade defender sua casa”, afirma Ozirny.
Denys Semyrog-Orlyk, um dos reservistas mais experientes, disse que está preparado para enfrentar a uma ofensiva real.
“Há oito anos, estou vivendo com o pensamento de que, até que consigamos dar um bom golpe na cara da Rússia, eles não nos deixarão em paz”, disse o arquiteto de 46 anos à AFP.
“Entendo perfeitamente que sou um soldado. Posso ser convocado e tenho atuar como um militar”, completou.