Encontro hoje entre Lula e Alckmin — quando o ex-tucano será indicado pelo PSB para vice do petista — terá o objetivo, também, de criar fato positivo após a má repercussão de declarações do ex-presidente e pesquisas apontarem crescimento de Bolsonaro
O PSB apresenta formalmente, nesta sexta-feira (8/4), ao PT, o nome do ex-governador paulista Geraldo Alckmin como pré-candidato do partido a vice-presidente da República na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O evento, em São Paulo, terá a presença dos principais dirigentes das duas legendas, que selaram aliança para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição.
Em princípio, a apresentação do nome de Alckmin seria mais um passo na liturgia que envolve a união de PT e PSB para o pleito de outubro. Mas, diante de uma semana em que o noticiário foi pouco favorável à candidatura petista, o encontro de hoje terá como objetivo, também, injetar ânimo na pré-campanha. Não será, ainda, o lançamento oficial da chapa Lula-Alckmin, que deve ocorrer entre o fim de abril e meados de maio.
A fala de Lula sobre aborto e a sugestão que o ex-presidente deu ao eleitor para que vá à casa dos políticos fazer pressão foram amplamente criticadas por grupos ligados ao bolsonarismo e criou constrangimento dentro do próprio PT. O ex-presidente teve de se explicar, ontem, para amenizar a repercussão das declarações. No caso do aborto, depois de se dizer favorável à prática como política de saúde pública, Lula declarou que, como pai e avô, é contra, mas defende que as mulheres possam ser atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“É melhor ele (Lula) ficar calado. Bolsonaro fechou a boca e está subindo (nas pesquisas). Não que o prejudique na campanha, mas cria ruídos, principalmente na elite política”, queixou-se um parlamentar lulista.
Às declarações polêmicas de Lula somaram-se fatos da corrida eleitoral que deixaram pouco espaço para notícias positivas. O bom desempenho das legendas da base do governo no fechamento da janela partidária sinalizou palanques fortes para a campanha de reeleição do chefe do Executivo. PL, PP e Republicanos, que formam a base de sustentação de Bolsonaro, comemoraram o crescimento de suas bancadas federais. A esquerda, ao contrário, amargou perdas. O PSB, por exemplo, tinha 32 deputados no início da legislatura. Minguou nesta semana para 25. Só o PT seguiu praticamente do mesmo tamanho na Câmara.
As mais recentes pesquisas de intenção de voto também ajudaram a alimentar o otimismo do lado bolsonarista e acenderam o alerta na campanha do PT. Já sem o nome do ex-ministro Sergio Moro, cujo futuro político segue indefinido, os levantamentos confirmam a tendência de Bolsonaro herdar boa parte do eleitorado do ex-juiz da Lava-Jato. E a aprovação do governo também subiu.
Na pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem, a aprovação do governo Bolsonaro voltou ao seu melhor nível desde julho do ano passado, com 26%. E a avaliação negativa caiu, dentro da margem de erro, de 49% em março para 47% no início deste mês. Em um hipotético confronto no segundo turno, a diferença para o líder, Lula, cai de 18 pontos percentuais (em março) para 13 p.p. em abril (45% votariam em Lula, contra 31% em Bolsonaro).
São números semelhantes aos da pesquisa Ipespe, divulgada no início da semana. A avaliação negativa do governo Bolsonaro ficou em 54%, contra 29% de avaliação entre ótima e boa.
Terceira via
A movimentação dos partidos de centro não ligados ao bolsonarismo em direção a uma chapa única que represente a chamada terceira via também ocupou o noticiário da semana. MDB, União Brasil, PSDB e Cidadania decidiram fechar questão em torno de um nome que represente o que chamam de “centro democrático”. Se o compromisso se mantiver, o candidato à Presidência escolhido pelo grupo será anunciado em 18 de maio.
É nesse cenário pouco favorável que Lula e Alckmin reúnem os cardeais dos dois partidos aliados para um evento que também ganha contornos de estímulo à militância. A base lulista precisa se convencer de que o ex-tucano é uma boa escolha para caminhar com o petista até as eleições de outubro. Analistas apontam que sim, principalmente para quebrar resistências do empresariado brasileiro ao nome do ex-presidente.