De acordo com o head de Digital Assets do maior banco de investimentos da América Latina, preço do bitcoin pode ser menos afetado que as ações e imóveis em novos aumentos da taxa de juros nos EUA
O preço do bitcoin vem caindo desde o início de 2022. Em meio a um turbilhão de acontecimentos macroeconômicos e geopolíticos que incluem as medidas do banco central norte-americano para combater a alta na inflação e até mesmo o início de uma guerra no Leste Europeu, a maior criptomoeda do mundo – e toda a sua classe de ativos – não conseguiu se manter ilesa, despencando mais de 50% desde sua máxima histórica.
Tais movimentos despertaram a discussão entre especialistas de todo o mundo sobre a correlação entre o bitcoin e os mercados tradicionais, como as ações, que apresentaram desempenho parecido em 2022 até o momento.
Para André Portilho, head de Digital Assets do BTG Pactual, a correlação não só existe, como atua em outras criptomoedas também. “Não só o bitcoin, mas outras criptomoedas que podem estar ligadas ao mercado de tecnologia estão se comportando da mesma forma”, afirmou em entrevista à CoinDesk.
Enquanto os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia parecem ter diminuído no mercado de criptomoedas, o terremoto causado pelo aumento da taxa de juros nos Estados Unidos pode estar apenas começando, segundo o executivo.
Isso porque a inflação, que bate recordes no país, não dá sinais de que irá aliviar tão cedo e André Portilho acredita que o banco central norte-americano possa precisar ser ainda mais agressivo do que está sendo agora. No entanto, o momento é de análise sobre a situação, disse Portilho, que acredita que “tudo que o Fed fizer, irá afetar os mercados”.
No entanto, o impacto pode ser maior em outras classes de ativos que não as criptomoedas. “Isso deve afetar muito mais as classes de ativos que geram fluxo de dinheiro. Tudo relacionado a ações, títulos, mercado imobiliário, deve ser afetado por um ambiente com maiores taxas de juros”, explicou Portilho, que acrescentou que “já o bitcoin e o blockchain, não são afetados por fluxos de dinheiro, eles não geram fluxos de dinheiro”.
Enquanto isso, a principal criptomoeda oscila entre os US$ 29 e US$ 30 mil, faixa de preço considerada importante por especialistas, que afirmam que caso o bitcoin consiga se manter acima de US$ 30 mil, novos movimentos de alta podem ser favorecidos.
Para o head de Digital Assets do banco BTG Pactual, o que está havendo é uma forte correção no preço da criptomoeda quando ela cai para níveis abaixo dos US$ 30 mil, onde até agora não permaneceu por muito tempo. Para sustentar sua tese, André Portilho utilizou dados sobre demanda, fornecimento e os fluxos de entrada e saída da criptomoeda nas corretoras especializadas.
“Temos todo o lado da demanda, ou seja, adoção, novas pessoas entrando para o mercado. Se você olhar para o número de endereços [de carteira digital] que não estão zerados em bitcoin e ether, ele aumenta toda semana. Mas por outro lado, você tem o lado do fornecimento também. E o que vemos no bitcoin é que o fornecimento está ficando cada vez menor”, disse o executivo.
Segundo ele, os dados das corretoras sinalizam uma forte intenção entre os investidores de guardar a criptomoeda, pensando em valorizações de longo prazo. Isso porque quando unidades da criptomoeda são transferidas para as corretoras, aumentam as chances de venda, e vice-versa.
“Então mesmo que nas últimas semanas tivemos muitas moedas voltando para as corretoras, se você olhar desde março de 2020 quando a pandemia [de coronavírus] começou, o número de moedas saindo das corretoras está caindo desde então. O que isso me mostra é que existem novas pessoas entrando no mercado e pessoas que estão comprando [bitcoin] para guardar por períodos de tempo mais longos”, explicou Portilho.
De acordo com um estudo da Chainalysis, uma empresa de análise de dados em blockchain, a maior parte dos investidores guarda unidades de bitcoin por um longo tempo. 59,66% do fornecimento total de bitcoin está guardado em carteiras digitais há mais de 52 semanas, segundo um gráfico apresentado pela empresa contendo dados dos últimos 7 dias. Ainda de acordo com a Chainalisys, este número é 54,72% maior do que nas últimas 25 semanas.