Com menos de duas décadas, o século XXI tem se mostrado uma época promissora para a conquistas de espaço político, social e cultural por parte das mulheres — tanto no Brasil, quanto em todo o mundo. Recentemente, a jornalista ucranianaSvetlana Alexievich tornou-se mais um ícone para nos inspirarmos: ela foi a vencedora do prêmio Nobel de Literatura de 2015. Além da premiada ser uma mulher, chama atenção também o fato de ela ser uma autora de não ficção — o que não acontecia desde 1964, quando Jean-Paul Sartre, filósofo francês, foi indicado, mas recusou o prêmio.
Breve história da autora
Svetlana Alexievich nasceu em 31 de maio de 1948, em Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, mas cresceu em Belarus com os pais, ambos professores rurais. Estudou jornalismo na Universidade de Minsk, se formou em 1972 e passou a trabalhar em jornais locais.
Devido à sua veia crítica e engajada, Svetlana Alexievich exilou-se de Belarus em 2000, uma vez que foi perseguida por Alexander Lucashenko, ditador do país na época. Durante onze anos, ela viveu em vários países da Europa, como Suíça, França, Itália e Alemanha. Já de volta ao seu país, ainda hoje o governo bielorrusso parece ignorar a existência da autora, como ela mesma afirmou em uma entrevista coletiva dada após o anúncio do prêmio. Mas isso não a impede de continuar lutando por seus ideais, como ela fez ao criticar atitudes do presidente Vladmir Putin nessa mesma entrevista.
Suas obras
A escrita de Svetlana Alexievich reúne relatos de pessoas que passaram por grandes eventos históricos, tais como o colapso da União Soviética ou a Segunda Guerra Mundial. Considerada uma grande cronista da União Soviética, é também classificada por alguns como escritora de história oral, de modo que ela procura, em suas obras, “esculpir a imagem de uma época”, como afirma em entrevista. A autora também diz não se considerar nem jornalista, nem historiadora, pois não escreve “a história dos fatos, mas a história das almas”.
“War’s unwomanly face” (“A face pouco feminina da guerra”), sua obra de estreia, foi publicada em 1985 e registra relatos de mulheres que lutaram na Segunda Guerra. Porém, a obra só foi liberada para lançamento alguns anos depois, após a reforma do sistema, aplicada por Mikhail Gorbachev. A fama na União Soviética foi alcançada já no primeiro livro e, assim, devido aos livros que se seguiram, ficou conhecida pela escrita em formato de crônica pessoal a dando voz a homens e mulheres comuns que viveram momentos marcantes da história.
Sua obra mais conhecida é “Voices from Chernobyl: The history of a nuclear disaster” (“Vozes de Chernobyl: A história oral de um desastre nuclear”), publicada em 1997, e trata do maior acidente nuclear mundial, ocorrido em Chernobyl, onze anos antes da publicação.
Apesar de ser traduzida em 40 países, Svetlana Alexievich não tem livros traduzidos no Brasil. Contudo, é possível encontrar o livro “O fim do homem soviético – Um tempo de desencanto” em língua portuguesa, publicado em Portugal neste ano.
Prêmio Nobel de Literatura 2015
Desde 1901, Svetlana Alexievich é a 14ª mulher a ser premiada. A última foi a canadense Alice Munro, há dois anos. Ela é também a primeira escritora das antigas repúblicas soviéticas a ganhar o prêmio desde a dissolução do bloco. Tantas surpresas e peculiaridades merecem a nossa atenção e admiração a essa incansável e paciente mulher.
Devido à riqueza de detalhes e realidade em suas obras, a autora, aos 67 anos, contou em entrevista à TV que demora de cinco a dez anos para escrever um livro, e a quantia recebida pelo prêmio proporcionará maior liberdade e tranquilidade para colocar mais um ou dois projetos — que já existem — em prática.
Svetlana Alexievich nos ensina que não devemos desistir de nossas lutas e dos nossos ideais, mostrando que o trabalho duro será recompensado e reconhecido, cedo ou tarde. No caso dela, foi o Prêmio Nobel de Literatura, mas esse foi só uma consequência de um trabalho consistente e bem feito. Se sentindo inspirada? Compartilhe com a gente o que você achou do trabalho dessa escritora maravilhosa que é Svetlana Alexievich.