Uma das mobilizações tem artistas de diversas vertentes para a produção de um documentário que servirá de alerta para conservação
O cerrado depende da seca ou é a seca que depende do cerrado? Nem um, nem outro. Dessa relação intrínseca e evolutiva, nasceu o bioma com um clima que traz o dourado ao Distrito Federal todos os anos e explode em pôr do sol, ipês e sucupiras. “Quando começa a seca, o que vejo é beleza. As folhagens, o capim, isso é o cerrado vivo, brilhante”, garante a fotógrafa Melissa Maurer, que, a partir de um projeto fotográfico, reúne artistas de diversas vertentes para alertarem sobre a urgência da preservação. “Agora, somos um coletivo. É foto, música, cinema, ilustrações, poesia, tudo para tentar conservar o bioma. No fim do trabalho, vamos lançar o documentário Caminhos do cerrado”, conta.
A seca não é desaparição, mas ressurgimento — uma amostra dos ciclos da natureza. E, mesmo com as altas temperaturas registradas em 2016, ela tem sido mais amena do que no ano passado. A meteorologista Maria das Dores de Azevedo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que o período começou em maio e deve encerrar na segunda quinzena de setembro. “Até o momento, o dia que registrou o mais baixo índice de umidade relativa do ar foi 9 de agosto, quando chegou a 13%. Em 2015, tivemos dois dias em que ela ficou em 11%”, lembra.
Mesmo assim, os termômetros têm sido inclementes desde 2015. Em 14 de julho deste ano, a temperatura chegou a 30,8ºC, a maior registrada no mês desde 1961. O ano de 2015 teve a temperatura mais alta registrada no Distrito Federal desde que os índices começaram a ser medidos. Em outubro, o calor alcançou 36,4ºC, batendo o recorde de 2008, quando foi aos 35,8 ºC. Entre 1º e 22 de outubro, todos os dias tiveram marcações acima dos 30 ºC. Maria das Dores, porém, acredita que isso não deve se repetir. “A umidade pode baixar, mas o período de seca está chegando ao fim”, afirma. Além disso, a previsão é de que as chuvas retornem até outubro.