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Prefeitura de SP não tem plano para vacinar moradores de rua contra febre amarela

No Canindé, também na zona norte, falta informação sobre a vacina

Após o início da campanha de vacinação contra a febre amarela com doses fracionadas para a população de São Paulo, a gestão João Doria (PSDB) ainda não definiu uma política de imunização para os mais de 15 mil moradores de rua da capital paulista.

A nova etapa da campanha, com entrega de senhas em casa, começou no dia 25 de janeiro e, antes disso, a vacinação já vinha ocorrendo na zona norte, considerada área de risco desde outubro, quando houve a confirmação de que um macaco encontrado morto no Horto Florestal estava contaminado com o vírus. No entanto, moradores de rua daquela região relatam não ter recebido informações a respeito do assunto e afirmaram que não houve um mutirão nas unidades.

Agora, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) informou que reuniões para definir como será realizada a vacinação dessa população na atual etapa da campanha estão sendo realizadas e que um cronograma será divulgado nos próximos dias.

Há oito anos morando na rua, Kumakali José Pereira Monteiro, de 35 anos, está em um Centro Temporário de Atendimento (CTA) em Santana, na zona norte, desde o dia 5 de janeiro e afirma que o processo de imunização não está sendo feito no local. “Para o lado de cá, não teve a vacina. Muitos falam que a vacina tinha de ser para área de mata e de risco, mas tem o Parque da Juventude aqui. Eu nunca tomei essa vacina.”

Na unidade, um funcionário informou que orientações para imunização ainda não tinham chegado e disse que o local não estava em área de risco, embora a imunização de toda a zona norte tenha começado em outubro do ano passado. Na região, segundo dados da Smads, há 16 centros de acolhida que atendem cerca de 1.300 moradores de rua.

De acordo com a secretaria, há 15.905 pessoas em situação de rua na capital – o censo foi realizado em 2015 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A pasta oferece atendimento para 13 mil pessoas em 114 centros de acolhida.

No Canindé, também na zona norte, falta informação sobre a vacina. “Até agora, não tem vacinação. Ninguém tomou. A gente só vê falando sobre essa doença na televisão, mas não tenho dinheiro para me locomover para tomar vacina. A gente está em situação de rua”, diz Jailton Santos Santarita, de 37 anos, que veio de Salvador com a mulher e está em São Paulo desde o mês passado.

Outro morador de 30 anos, que não quis se identificar e está no abrigo há três meses, reclamou da falta de informação sobre a necessidade da vacinação no local. “Vem gente de todo lugar para cá e as pessoas vão para área de risco. Aqui era o primeiro lugar para estarem vacinando. Já era para ter uns cartazes falando sobre isso aqui e ninguém está falando da vacina.”

Também sem dizer o nome, outro usuário do serviço disse que já tomou a vacina. “Estou usando curativos e perguntei para a enfermeira se precisava me vacinar. Ela disse que sim. Fui no Parque Dom Pedro e tomei.”

A reportagem questionou quantas pessoas em situação de rua foram imunizadas desde outubro para a secretaria, mas ela informou, por meio da assessoria, que não possui o número “porque a (Secretaria Municipal da) Saúde não diferencia quem é morador de rua de quem tem endereço fixo.”

O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, diz que não está sendo realizada uma ação específica para esse público e que a população de rua precisa ser incluída nas ações de vacinação com campanhas eficazes, tendo em vista que são pessoas que circulam não só por várias regiões da cidade, mas por outros municípios e Estados.

“Sabemos que a maior parte da população de rua está na região central, que não é área de risco, mas esse número também é grande na zona norte. Com a situação de desemprego, a população de rua está circulando em cidades diferentes. Na divisa com Guarulhos, por exemplo, é difícil saber quem é de lá e quem é da capital. A circulação por outras cidades e Estados é muito acentuada.”

Lancellotti diz que a ação de conscientização precisa ser forte. “Tem de fazer para eles o que está sendo feito para todos. Não precisa que haja diferenciação ou privilégios. Mas o esquema todo está funcionando como se a pessoa morasse em um mesmo lugar ”

Ações

Professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Celso Granato destaca a importância de se pensar em ações para a imunização dos moradores de rua. “É uma população muito vulnerável. Como eles se movimentam, ficam mais expostos e podem funcionar como fonte de infecção, porque estão sempre caminhando em todas as regiões da cidade. É preciso escolher lugares estratégicos para a vacinação e, seguramente, não deve ser distribuindo senhas para vaciná-los. Poderia fazer postos volantes para que eles sejam vacinados, porque uma parte desses moradores de rua tem problemas mentais, de alcoolismo e dificuldade de compreender a vacinação.”

Fernando Altemeyer Júnior, chefe do departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que a imunização deveria também ter como alvo outras populações que circulam pela capital. “Não são só os moradores de rua que são nômades. Tem os grupos de ciganos, migrantes não adaptados. Em uma cidade como a nossa, as formas de nomadismo são inúmeras e não é difícil encontrá-los. Eles estão nos mesmos circuitos, nos locais onde tomam banho, embaixo dos viadutos. Eles são cidadãos e não tem como não considerá-los parte do processo de vacinação.”

Autonomia

Em nota, a Smads afirmou que todas as pessoas acolhidas nos equipamentos municipais “possuem autonomia para ir até as Unidades Básicas de Saúde” e “são orientadas sobre os locais de vacinação”. Disse ainda que as orientações serão intensificadas

Indagada como a população de rua será vacinada, tendo em vista que a nova etapa de imunização será feita mediante apresentação de senha entregue em residências ou retiradas nas unidades que atendem a região onde está localizada a residência do usuário, a pasta informou que reuniões com a Secretaria Municipal da Saúde serão realizadas “para criar uma estratégia de vacinação dentro dos centros de acolhida com estratégias de comunicação para que todos sejam vacinados e um cronograma de vacinação”.

A Secretaria Municipal da Saúde informou, em nota, que a população de rua está sendo vacinada dentro da rotina de atendimento das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e que não houve ações pontuais em abrigos.

“Nas áreas onde há atuação de equipes de Consultório na Rua, a orientação para imunização foi incluída e reforçada junto aos pacientes abordados. Nos demais locais, as equipes de Estratégia de Saúde da Família transmitem as orientações a este público, que é atendido normalmente dentro das Unidades Básicas de Saúde “

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