Uma semana após escândalo de corrupção, católicos da cidade de Goiás se dividem entre o silêncio e a revolta, mas não falam em abandonar a fé
“As pessoas ainda estão com o sentimento muito à flor da pele. Depois da operação policial, passaram a despejar raiva em cima de nós.” As palavras são de uma funcionária da Catedral de Formosa (GO), que pediu para não ter o nome divulgado. A operação à qual ela se refere é a Caifás, conduzida pelo Ministério Público de Goiás (GO) e que culminou com a prisão do bispo da cidade, dom José Ronaldo Ribeiro, e mais oito pessoas, sendo outros cinco sacredotes. “Até quem não está envolvido tem sofrido as penalidades”, completa a mulher.
Uma semana depois que a operação foi deflagrada, os fiéis católicos do município goiano buscam recuperar a confiança na instituição. Ainda atônitos com o escândalo de corrupção, os moradores se dividem em grupos antagônicos. Parte prefere o silêncio. Outros mostram revolta. Alguns condenam. Mas nenhum fala em abandonar a Igreja. Sabem que ela também é vítima.
“A fé não se abala, mas essa situação não é algo compreensível. As pessoas erram, podem tropeçar em sua conduta”, explica a professora aposentada Neide Espíndola, 67 anos. O marido dela, o técnico em contabilidade aposentado Antônio Flávio Pessoa, 62, concorda. “Não é uma situação fácil de aceitar, mas quem somos nós para julgar?”
Os dois estavam entre os 700 fiéis que participaram, ontem, da celebração do Domingo de Ramos, que marca o início da semana santa na Igreja Católica. O céu estava fechado quando a procissão de Ramos começou, encurtando o trajeto. O bispo auxiliar de Brasília, dom José Aparecido Gonçalves de Almeida, designado pela Santa Sé para presidir as celebrações de Semana Santa na diocese de Formosa, pediu orações. O religioso garantiu aos fiéis que a Igreja retornará ao estado de “normalidade”.
Ressurreição
Os mais otimistas acreditam na ressurreição da Igreja em Formosa, assim como Cristo ressuscitou no domingo de Páscoa. “Regeneração” parece ser a palavra que define os desejos do fiéis. “Espero que a Igreja recupere sua moral. Mas as pessoas não podem crucificar os católicos. Somos tementes a Deus e não aos homens que lideram a Igreja”, pondera. O irmão dela, o motorista David Batista Teixeira, 56 anos, é menos esperançoso. “A corrupção que aconteceu nos deixa muito tristes e nos coloca em uma situação muito delicada. Agora, só resta rezar.”
O assunto permaneceu praticamente intocado na missa de domingo, mas surgiu perto do fim. “Assumo a administração da igreja com o intuito de correção e de volta à normalidade”, afirmou dom José Aparecido. Ele pediu ajuda aos fiéis. Repetiu trechos do discurso do papa Francisco, quando assumiu o Vaticano em 2013. “Conto com a oração de vocês.”
A dona de casa Maria Vaz Ribeiro, 68 anos, garante que vai atender a recomendação do líder religioso. “Temos que pedir ao Senhor que nos recupere e nos tire desse sofrimento. Não é protestando, prendendo e condenando que se livram a Igreja e o povo de Deus do mal e da calúnia. Só o amor de Cristo nos salva”, defende. Mas o marido dela, o lavrador Valdemário Ribeiro, 78 anos, cobrou respostas. “É uma dor muito grande, mas quem está envolvido deve ser responsabilizado.”