Não se mexer por um tempão é um dos motivos por trás da formação de trombos nas veias das pernas. Veja como escapar desse problema e de suas consequências
Você provavelmente já ouviu falar em trombose, quadro que ficou bastante associado ao uso de anticoncepcionais. Mas é hora de saber que as usuárias desses itens não são as únicas que podem ficar na mira do perrengue, caracterizado pela formação de coágulos, os trombos, dentro de uma veia, geralmente na perna.
Um estudo recente das universidades de Minnesota, Vermont e da Carolina no Norte, todas nos Estados Unidos, mostra que o sofá é outro grande patrocinador de tromboses. Segundo os pesquisadores, passar muito tempo na frente da televisão aumenta pra valer o perigo de um congestionamento nas veias.
Os cientistas analisaram episódios do problema entre aproximadamente 15 mil pessoas, bem como as respostas fornecidas em um questionário que, entre outras coisas, perguntava sobre a assiduidade com que elas assistiam a TV. O resultado apontou que, em comparação com quem quase nunca ficava diante da tela, os viciados no aparelho apresentavam uma probabilidade 71% maior de encarar uma obstrução nas veias.
A pesquisa não deixa espaço para dúvidas: movimentar o corpo faz parte da receita para evitar que o enredo se torne trágico. “Quando ficamos parados tempo demais e na mesma posição, a contração da panturrilha não acontece. E ela é a principal responsável por bombear o sangue em direção ao coração”, explica o cirurgião vascular Sergio Belczak, da rede de hospitais São Camilo, na capital paulista.
“Sem a movimentação desse músculo, a velocidade do fluxo sanguíneo diminui e isso favorece a formação dos coágulos”, complementa o cirurgião vascular Luiz Augusto Vasconcellos, do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia. Para a panturrilha – e o sangue – sair da inércia, nada melhor do que andar.
“É importante evitar passar mais de duas horas sentado. A recomendação é fazer pequenas caminhadas sempre que possível”, orienta o cardiologista Luiz Francisco Cardoso, superintendente de Práticas Assistenciais e Pacientes Internados do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O recado é válido não só para os aficionados por novelas, séries e afins mas também para quem permanece muito tempo grudado na cadeira do escritório ou faz viagens longas de carro ou avião.
As principais consequências da trombose venosa
Varizes: um coágulo é capaz de comprometer o funcionamento normal da veia, prejudicando sua tonicidade e dando aquele aspecto estético desagradável. Mais: as varizes podem causar dor e até gangrena.
Inchaço: com a passagem obstruída pelo trombo, o sangue fica estagnado nas pernas, onde vai se acumulando. Essa situação provoca inchaços desconfortáveis e, por vezes, doloridos.
Embolia pulmonar: é o desfecho mais temido. Ocorre quando o trombo formado numa veia da perna se desprende e chega ao pulmão. Das pessoas que sofrem de trombose, 30% podem ter embolia, capaz de levar à morte.
Todo movimento conta
Verdade que, em alguns momentos, fica mais complicado levantar e dar uns passinhos, como em sessões longas de cinema e peças de teatro. Mas dá para investir em uma alternativa. “Enquanto estiver sentado, você pode esticar as pernas, trocar de posição, mexer os dedos dos pés ou contrair a panturrilha”, sugere o angiologista Breno Caiafa, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro. Só tome cuidado para não chutar o colega da cadeira da frente.
Ainda na linha de movimentar a panturrilha, a impulsionadora da circulação, tem outra dica. “Ficar na ponta dos pés repetidas vezes é um ótimo movimento para estimular a região. E é possível fazer esse gesto na poltrona mesmo”, recomenda Belczak.
São estratégias para colocar em prática no trabalho e também durante a maratona de séries. Aliás, se estiver no conforto de seu lar, a boa pedida é levantar as pernas e apoiá-las em um lugar mais alto para o sangue fluir melhor.
O exercício físico propriamente
Se mexer o corpo é tão crucial para evitar os indesejáveis entupimentos das veias, você deve imaginar que o exercício físico merece um horário nobre na rotina, né? “Fazer atividades regulares de duas ou três vezes na semana ajuda a prevenir o problema”, confirma Cardoso. Fique à vontade para escolher a programação: corrida, caminhada, esteira ou bicicleta ergométrica, só para citar algumas possibilidades, são excelentes opções.
Mas, claro, considerando que a panturrilha ocupa papel de protagonista nessa novela, já que atua como uma espécie de “segundo coração”, investir em exercícios que trabalhem tal musculatura faz todo o sentido. Vale, então, conversar com um profissional de educação física para inserir movimentos específicos para ela no seu treino.
Agora, tem um detalhe: se por um lado suar a camisa dá uma força para afugentar a trombose, por outro, é fundamental ter cuidado com práticas muito extenuantes, dessas capazes de levar à desidratação. “Essa situação ocasiona um aumento da viscosidade sanguínea, elevando o risco de formação de trombos”, explica o cirurgião vascular Claudio Augusto de Carvalho, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.
Ora, é natural que um sangue espesso encontre mais dificuldade para trafegar pelas veias. Por isso, mais do que nunca vale o alerta para se hidratar antes, durante e após a atividade física - se não tem garrafinha de água, chegou o momento de providenciar uma.
Mais hábitos que afastam a trombose
“A formação do trombo não envolve um único fator. Na verdade, situações de risco cotidianas podem intensificar predisposições individuais existentes”, observa a especialista em cirurgia vascular Juliana Ramos, do Laboratório Exame, em Brasília. Confira abaixo alguns hábitos que mantém o fluxo sanguíneo livre.
Não fumar: todos sabem que o cigarro faz mal. Aqui, ele é vilão por ter substâncias pró-coagulantes, que abrem brecha para a formação de trombos.
Tratar as varizes: elas podem ser causadas por um trombo, mas também incitá-lo. É que, danificados, os vasos não empurram o sangue de volta para o coração.
Manter-se no peso: o sobrepeso e a obesidade expõem os vasos à inflamação e dificultam o retorno venoso, o que leva ao congestionamento nas veias.
Procurar um médico: um especialista pode pedir exames, avaliar sua tendência ao desenvolvimento de trombos e, se for o caso, indicar um tratamento.
Avaliar o uso de anticoncepcionais: atenção especial aos com mais de 50 miligramas de estrogênio. Se houver propensão, há maior risco.
Cuidar da gestação: grávidas tendem a ser mais vulneráveis à trombose porque, com o barrigão, a circulação se torna lenta e o sangue se acumula nos membros inferiores.
Dentro do hospital
Até pacientes internados devem se movimentar para afastar a trombose. Obviamente que a atividade dependerá do problema de cada um. Mas, dentro do possível, o ideal é dar uma circulada pelos corredores de vez em quando.
Vale também conversar com o médico para checar a possibilidade de manter as pernas elevadas e realizar flexões do tornozelo.