Pessoas politicamente conservadoras também adotaram a energia solar para se tornarem menos dependentes da rede elétrica, o que condiz com o alto valor que muitos australianos colocam em um forte individualismo.
Em dois dos estados mais populosos do país – Queensland, um reduto conservador, e Nova Gales do Sul, onde Sydney se localiza, de esquerda –, cerca de metade das casas tem painéis solares.
“O futuro para Nova Gales do Sul e, de fato, para o país é aquele em que nossa energia vem do sol, do vento e do bombeamento da água, não apenas porque isso é bom para o meio ambiente, mas porque é bom para a economia. Essa é uma das razões pelas quais temos a maior penetração de energia solar nas residências em comparação com qualquer outro lugar do planeta. As pessoas estão fazendo isso porque querem economizar dinheiro”, disse Matt Kean, ministro de Energia e Meio Ambiente de Nova Gales do Sul.
A Austrália limitou as metas federais para conter as emissões de carbono, e seu primeiro-ministro, Scott Morrison, defende a indústria do carvão, que no ano passado exportou mais que todos os outros países, com exceção da Indonésia, de acordo com a Agência Internacional de Energia. No ano passado, o governo aprovou um grande projeto para enviar a commodity para a Índia.
Mas muitos governos estaduais optaram por uma abordagem bem diferente. Depois que o governo federal falhou em adotar uma política de energia renovável no início dos anos 2000, os estados australianos começaram a aplicar políticas climáticas agressivas e dar incentivos aos proprietários para a compra de painéis solares e, mais recentemente, de baterias para armazenamento de energia.
Esses incentivos deram início a um boom, e os painéis solares nos telhados fornecem regularmente cerca de cinco por cento da eletricidade da Austrália, em comparação com pouco menos de um por cento nos Estados Unidos.
“O carvão ainda é o principal gerador de energia lá, mas há momentos em que os painéis solares contribuem com mais de seis por cento da geração”, informou Rishab Krishna Shrestha, analista de pesquisa da Wood MacKenzie Power and Renewables.
A captação tem sido especialmente alta em Queensland, que compõe uma grande parte do nordeste do país e inclui Cairns e Brisbane. O estado tem clima quente e úmido, semelhante ao da Flórida, e também se autodenomina O Estado do Sol.
Peter Row, morador de Bundaberg, a cidade que teve mais instalações solares no ano passado na Austrália, comprou um sistema típico de 6,57 quilowatts para sua casa depois que se cansou dos aumentos em sua conta de luz. Antes de instalar o sistema de US$ 3 mil, a conta mensal de Row geralmente chegava a cerca de US$ 190. Desde então, a companhia elétrica lhe credita uma média de US$ 30 por mês, porque ele está gerando mais eletricidade do que consome. “Odeio o calor, por isso o ar-condicionado é muito importante para mim”, observou Row, de 59 anos, que é semiaposentado e dirige um pequeno negócio caseiro.
Ele e sua esposa procuram usar os aparelhos que mais consomem energia durante os períodos mais ensolaradas do dia. “Normalmente, se você usa o ar-condicionado no verão, a conta é incrivelmente alta”, afirmou ele.
Row acredita que o clima está mudando, mas, como muitos outros conservadores, não sabe ao certo em que proporção a mudança é causada pelos humanos. “Não acho que as energias renováveis sejam a resposta total ainda”, opinou.
Outra razão pela qual a Austrália expandiu rapidamente o uso da energia solar é que seus estados procuram simplificar os códigos de construção e facilitar a obtenção de licenças. Nos Estados Unidos, os municípios tendem a controlar códigos e permissões, e muitos não facilitam a instalação de painéis solares no telhado, tornando o processo mais caro e demorado.
“O que a Califórnia pode fazer para chegar a 30 por cento de penetração? Cortar a burocracia”, disse Bernadette Del Chiaro, diretora executiva da Associação de Energia Solar e Armazenamento da Califórnia.
Apesar do crescimento da energia solar, a abordagem da Austrália ao sistema elétrico também tem suas fraquezas, já que os clientes enfrentam apagões frequentes. Especialistas culpam uma rede não confiável, tensões no sistema causadas pelo calor recorde e danos aos equipamentos devido a incêndios florestais.
O aumento do uso da energia solar em si causou alguns problemas. Tradicionalmente, as geradoras distribuíam eletricidade e as casas a usavam, facilitando a gestão da rede. Agora, muitos proprietários são consumidores e fornecedores, dependendo da hora do dia. Isso forçou os gerentes de rede a alinhar usinas geradoras, que podem aumentar ou diminuir sua produção mais rapidamente para equilibrar a oferta e a demanda.
“Um dos maiores desafios que estão surgindo é que a rede elétrica simplesmente não foi projetada e construída para lidar com altos níveis de energia solar no telhado. Foi projetada para as usinas a carvão. Estamos vendo muitas das regras, e a própria rede, necessitando de reforma”, declarou Kane Thornton, executivo-chefe do Conselho de Energia Limpa, a associação da indústria de energia renovável do país.
Espera-se que mais da metade das cerca de duas dúzias de usinas a carvão em operação sejam desativadas dentro de 15 anos, e não está claro o que vai substituí-las. Enquanto ambientalistas querem mais energia renovável, legisladores conservadores afirmam que o país precisa continuar usando carvão.
“Temos de ser realistas quando fazemos transições. Acredito que o carvão vai fazer parte da nossa economia por muito tempo ainda”, disse Warren Entsch, membro do Parlamento de Queensland pelo conservador e governista Partido Liberal da Austrália.
Especialistas afirmaram que, à medida que a Austrália, a Califórnia e outras partes do mundo buscam aumentar o uso de energia renovável, precisarão investir muito mais em baterias ou em outras formas de armazenamento.