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sexta-feira, 15/11/24
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A nova internet

Duas concepções do mundo online se digladiam: a dos EUA, baseada na livre circulação de informação, e a liderada pela China de um espaço regulado e fechado

China: país pode se sair vitorioso na guerra da internet com a proibição ao TikTok (Florence Lo/Illustration/Reuters)

Nos últimos 10 anos duas concepções do mundo online se digladiaram. A visão dos EUA e do Ocidente em geral baseada na livre circulação de informação e no livre acesso à informação e aplicativos e a liderada pela China de um espaço regulado e fechado. Com a decisão da Administração Trump de proibir a partir de Setembro os aplicativos Tik Tok e WeChat nos EUA, a China conhece uma vitória retumbante. Se a sua visão do mundo online será ou não a dominante está em aberto mas são crescentes os sinais que o “laissez faire” até agora prevalecente no Ocidente tem os dias contados.

Começar esta história pelo fim obviamente não só a simplifica como passa por cima de inúmeros episódios onde o econômico e político se cruzam. No início da década passada o Governo Chinês começou a investir seriamente no controlo do ciberespaço no seu território. O que foi olhado inicialmente como algo exótico e condenado ao insucesso, driblado por exemplo com o uso de uma simples VPN, foi ganhando corpo. WhatsApp, Facebook e Twitter foram proibidos de funcionar no território e mesmo os aplicativos sociais Chineses foram conhecendo uma vigilância crescentemente apertada. Ao contrário do insucesso previsto, a China conseguiu de fato, em grande medida, segregar o seu ciberespaço do resto do mundo.

Se a China adotou uma política defensiva, na linha de uma grande muralha virtual, a Rússia a transformou numa política de ataque e de infiltração política no Ocidente que se apresentou ao mundo na sua plenitude durante a campanha presidencial norte-americana de 2016. É notável a transformação dos aplicativos sociais de agentes de mudança e de optimismo durante a Primavera Árabe de 2011 e o temor e polêmica que os mesmos despertam hoje. Por outro lado, ao contrário do que muitos pensam, Tik Tok (que na China tem uma versão diferente chamada Douyin) é um aplicativo particularmente popular junto das autoridades chinesas.

O seu conteúdo é difícil de controlar e por essa razão o próprio fundador foi obrigado a se desculpar perante a nação. Ironicamente também, o Tik Tok acabou por ser um caso quase único de um aplicativo social chinês conhecer uma popularidade mundial em particular nos EUA. Um exemplo daquela visão, hoje que parece quase pré-histórica, da internet enquanto um espaço universal e comum a todos os países do planeta. A proibição elimina também qualquer argumento moral contra a proibição ou limitação dos aplicativos sociais Twitter, Facebook ou WhatsApp em vários países, nomeadamente na China.

As preocupações de segurança relativas ao armazenamento e uso de dados pessoais por parte de aplicativos como o Tik Tok devem ser analisadas e discutidas. É difícil contudo entender que ameaça concreta o aplicativo representava à segurança norte-americana. Além disso, a decisão repentina de proibir o aplicativo a menos que o mesmo seja vendido a uma empresa norte-americana não parece ser o caminho nem de análise nem de discussão.

É uma medida punitiva que para mais favorece a tendência do Governo Chinês de controlar o espaço de atuação do setor privado do país uma vez que associa quase de forma automática uma empresa chinesa que se globaliza à agenda geopolítica da relação entre EUA e China. Por último, é importante referir que os gigantes norte-americanos de internet Facebook, Google e outros foram usados por diferentes administrações norte-americanos para a obtenção de informação sobre indivíduos a nível global, nomeadamente depois dos ataques às torres gêmeas de Setembro 2001.

A segregação da internet em diferentes espaços parece cada vez mais ser uma realidade. Às limitações formais  impostas por países como a China e agora nos EUA se juntam também as restrições de vistos tech e aos questionamentos das admissões em universidades norte-americanas de estudantes originários da China. Estas tendências vão no longo-prazo distanciar ainda mais os mundos das startups dos dois países. O ecossistema de inovação a nível global ficou mais pobre.

 

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