Cientistas avaliaram o DNA de nove restos que foram atribuídos à figura lendária e descobriram que oito deles são de ursos e um pertence a um cachorro
Parece que o Abominável Homem das Neves, uma criatura misteriosa e com características humanoides que habitaria as montanhas da Ásia, não é tão abominável assim. Cientistas analisaram o DNA presente em nove amostras coletadas na cordilheira do Himalaia e no planalto tibetano, todas atribuídas à figura lendária (restos de pelo, pedaços de pele, dentes, fezes e até um osso), mas os resultados indicam que os materiais pertencem, na verdade, a oito ursosasiáticos e um cachorro. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira no periódico Proceedings of the Royal Society B.
“Nossos resultados sugerem fortemente que os fundamentos biológicos da legenda do Homem das Neves podem ser encontrados em ursos locais, e nosso estudo demonstra que a genética deve ser capaz de desvendar outros mistérios semelhantes”, diz a líder do estudo, Charlotte Lindqvist, professora de ciências biológicas na Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, em comunicado.
Há décadas pessoas alegam ter visto a criatura ou indícios de que ela passara por aquele lugar enquanto caminhavam pelas montanhas asiáticas. Os restos analisados por Lindqvist e sua equipe, inclusive, faziam parte de coleções particulares e foram vendidos como se pertencessem à figura mitológica.
A equipe da Lindqvist não é a primeira a buscar por amostras de DNA do Homem das Neves, também conhecido como Yeti, em algumas partes do mundo. Mas, segundo ela, os estudos anteriores realizaram análises genéticas mais simples, o que deixou questões importantes em aberto.
“Este estudo representa a análise mais rigorosa até agora de amostras suspeitas de derivar de criaturas anômalas ou míticas semelhantes a ‘hominídeos’”, afirma. Das amostras analisadas, uma pertencia a um urso preto asiático, outra a um urso marrom do Himalaia e as seis restantes a ursos marrons tibetanos. A raça do cão ao qual pertencia a última amostra não foi especificada.
Lindqvist diz que a ciência pode ser uma ferramenta útil para explorar as raízes dos mitos sobre criaturas grandes e misteriosas. Ela lembra que algo semelhante aconteceu no início do século passado na África, quando a lenda ocidental de um “unicórnio africano” foi desmistificada por pesquisadores britânicos. A criatura era, na verdade, um parente da girafa pertencente a uma espécie desconhecida até então, chamado okapi, que lembra uma mistura entre esse animal, uma zebra e um cavalo.
No caso, Lindqvist e sua equipe relacionaram as amostras a animais já conhecidos. Mas, assim como a descoberta do okapi, a pesquisadora afirma que os resultados são diretos. “Claramente, uma grande parte da lenda do Homem das Neves tem a ver com os ursos”, diz ela.
Além de traçar as origens da figura mitológica, o estudo fornece informações importantes sobre a história evolutiva dos ursos asiáticos. “Os ursos nessa região estão ou em situação vulnerável, ou criticamente ameaçados. Pouco se sabe sobre seu passado e sua história”, lamenta a pesquisadora. “Os ursos marrons do Himalaia, por exemplo, estão muito ameaçados. Esclarecer a estrutura de sua população e sua diversidade genética pode ajudar a estimar o tamanho de sua população atual e pensar em estratégias de administração [desses grupos].”