O Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro (RJ), acolhe artistas em situação de vulnerabilidade e já atendeu seis mil pessoas
O Retiro dos Artistas vai completar 105 anos. Reprodução/Metrópoles
Mais de um século das artes brasileiras estão presentes no Retiro dos Artistas. Localizando na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o espaço acolhe pessoas que contribuíram com a cultura nacional, em suas mais diversas modalidades. Atores, músicos, pintores e outros grandes talentos encontram no espaço, além de um abrigo, um lugar para compartilhar memórias e manter acesa a paixão pela arte. Prestes a completar 105 anos, a casa acumula histórias e faz parte do patrimônio cultural do Brasil
Atualmente, o Retiro dos Artistas abriga 50 pessoas. Mas, ao longo da centenária história, mais de 6 mil artistas passaram pelo local. Atores, artistas plásticos, músicos, compositores, artesãos, artistas circenses, iluminadores, cenógrafos, maquiadores, e qualquer pessoa que trabalha com arte, pode ser assistida no Retiro dos Artistas, que conta com uma infraestrutura com cinquenta casas, atualmente todas ocupadas, teatro, salão de beleza, refeitório, cinema e capela, distribuídos em quase 15 mil m². O espaço também oferece cuidados com equipe de médicos e enfermeiros.
Em entrevista ao Metrópoles, a administradora do Retiro, Cida Cabral, revelou que o local sobrevive de doações. Para isso, a casa, que já abrigou grandes nomes como Solange Couto, Leny Andrade, Sérgio Natureza e Silvio Pozatto, promove eventos mensais para arrecadar fundos e continuar com suas atividades, além de contar com a ajuda de grandes artistas que estão na ativa. Ela cita duas que mantém colaborações frequentes: Glória Pires e Mariana Ximenes.
Por depender, exclusivamente, das doações, Cida afirma que não é fácil manter a instituição de pé, já que o Retiro tem uma despesa de R$ 200 mil por mês. “A gente sempre está passando por grandes dificuldades, porque não recebemos nenhum tipo de ajuda do governo. Então estamos sempre em campanha, buscando apoio. Ainda não conseguimos atingir a meta de arrecadar esse montante, então trabalhamos sempre com deficit mensal”, conta a administradora.
Leny Andrade, que morreu em julho aos 80 anos, era um dos grandes nomes da cultura nacional que optou por viver os últimos anos da vida no Retiro dos Artistas. “Aqui, até o ar é diferente, mais puro. É uma coisa comovente. Tem piscina, seis refeições deliciosas, a roupa volta cheirosa da lavanderia…”, comentou, em entrevista dada ao jornal O Globo em 2019.
O ator Stepan Nercessian é presidente do Retiro dos Artistas/ Zezé Motta é a vice-presidente da instituição/ Jaime Leibovitch é um dos artistas assistidos no Retiro/ Ator Rui Resende mora no Retiro dos Artistas. Reprodução
Artistas Assistidos
A ator Jaime Leibovitch, de 75 anos, conhecido pela participação nas peças teatrais As Feiticeiras de Salem, A Mulher sem Pecado e Diários do Paraíso, é um dos atauis moradores do Retiro dos Artistas. Ao Metrópoles, o carioca afirma que procurar ajuda no local foi a “coisa mais sábia que fez na vida”.
“O Retiro, para mim, representa o acolhimento em uma fase da vida em que vários de nós vivemos situações difíceis como ausência de família, problemas emocionais, físicos, impossibilidade de continuar atuando”, explica Jaime.
“Eu diria que a coisa mais sábia que eu fiz na minha vida foi recorrer ao Retiro [dos Artistas] como uma forma de permanecer vivo, atuante. E diria mesmo, de maneira jocosa, que quando eu morrer, vou sentir muita saudade da velhice. A velhice que o retiro está me proporcionando”, completa o ator.
Rui Resende, ex-ator global, de 85 anos, fez sua última novela Um Lugar Ao Sol, em 2o21, como o personagem Napoleão, e vive no retiro há quase três anos. Mesmo no instituto, Rui seguiu trabalhando na TV. Questionado sobre sua estadia, revelou que tem tudo o que precisa: “o que posso querer mais?”.
Arte no Comando
Atualmente, a presidência do Retiro dos Artistas é de Stepan Necessian. O ator começou a presidir o instituto em 2000, durante um período turbulento, quando, segundo Cida, “ninguém queria tomar a responsabilidade para si”, já que à época a casa estava com “dividas astronômicas, não só de impostos, como de ações trabalhistas”.
Zezé Motta, vice-presidente do instituto, chegou em 2012, e também ajudou o Retiro a se reerguer. “Com toda a equipe que fomos formando conseguimos sanar uma série de dívidas e colocar a casa nos trilhos para que as coisas pudessem funcionar e para que os residentes pudessem ser atendidos de forma digna”, completa Cida.
Fonte: Metrópoles