Confusão teria começado após um militar, armado, chamar os funcionários de uma loja de carros de “picaretas”
Um sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) se exaltou durante uma discussão e sacou a arma de serviço para intimidar trabalhadores de uma concessionária na Cidade do Automóvel, no Setor de Indústrias de Abastecimento (SIA). Funcionários do local gravaram o momento em que o policial pega o revólver e aponta para baixo, enquanto ameaça o dono do local “vem pra cima”. Houve troca de ofensas entre as duas partes, até que o PM deu voz de prisão ao proprietário da loja por desacato. O 15ª Batalhão da PMDF foi acionado. Todos os envolvidos foram encaminhados para a 8ª Delegacia de Polícia (SIA). O caso foi na quinta-feira (4/11).
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o sargento está parado no meio da rua, em frente a concessionária, ao lado do carro e armado. “Eu estou paradinho aqui. Aqui, no meu lugar. Vem para cima”, intimida o militar. O comerciante responde: “Não precisa ficar paradinho não, está tudo gravado”. Os dois trocam insultos. O PM afirma que, na loja, todos são “picaretas”, mas o proprietário rebate: “Você está me chamando de picareta, seu vagabundo?”. Então, o policial dá voz de prisão: “Você está preso”.
Neste momento, o sargento aciona uma equipe de policiais militares, que, segundo os funcionários, em poucos minutos estavam na loja. Com a chegada do 15ª Batalhão, uma nova confusão começa. O comerciante afirma que está no seu local de trabalho e é levado para dentro do comércio. Um dos agentes da PM ordena que os funcionários se afastem do grupo: “se passar daqui, estão presos também”.
Ao menos quatro policiais atuaram para cercar e prender o empresário. Os funcionários do estabelecimento, ao verem a atuação policial, tentam intervir e são impedidos de entrar na loja com spray de pimenta. Após muita discussão, o dono da concessionária foi levado para a 8ª Delegacia de Polícia pelo 15ª Batalhão da PMDF. Ele foi autuado por desacato e danos simples.
Entenda
Tudo começou após a concessionária se recusar a executar um serviço em carro comprado na loja meses antes. O dono do veículo é irmão do policial e teria entrado em contato o estabelecimento depois que o prazo de garantia expirou. Quando o PM foi buscar o irmão, ele se referiu aos trabalhadores como “picaretas”, e o bate-boca teve início.
O Correio conversou com um dos funcionários que estavam presentes quando aconteceu a confusão, e ele explicou que o veículo foi comprado entre abril e março deste ano. “Demos toda a assistência quando (o carro) estava com a garantia, de acordo com o Código do Consumidor, de 90 dias. Ele trouxe o carro agora, mas o veículo já estava fora da garantia e com 40 mil km rodados”, destaca o funcionário.
Questionado sobre o ocorrido, a PMDF prestou esclarecimento a partir do relato do policial. “Ele (sargento) foi até a concessionária para buscar seu irmão que havia deixado um carro, adquirido na agência, para sanar problemas que apareceram no veículo. Ao chegar na agência, presenciou uma discussão entre seu irmão e o funcionário da agência, pois houve recusa em consertar o veículo. O policial falou para o irmão deixar o local, pois, ali, não seria resolvido o problema. O carro do policial foi cercado, e ele teve que descer e se posicionou em condições de se defender de agressões. O carro do policial chegou a ser avariado”, informou a corporação.
Apesar do relato do sargento afirmar que houve movimento dos trabalhadores contra ele. O dono da concessionária, Nuri Araruna Massuh, 54 anos, ressalta que isso não procede. “Nenhum funcionário chegou perto dele. O único que foi para cima e o ofendeu foi eu, já exaltado. Temos vídeos comprovando isso, que já está na corregedoria da PM”, explica.
A PMDF reforça que qualquer conduta dos policiais militares é passível de apuração pela Corregedoria. “O intuito é dar ampla defesa aos envolvidos e esclarecer os fatos. Sempre é aberto o procedimento apuratório da conduta para esclarecer melhor os fatos”, finaliza a corporação, em nota.