O arcebispo da capital faz parte do grupo de 17 religiosos nomeados pelo papa Francisco para o cardinalato. Segundo ele, essa será uma oportunidade de expandir os serviços prestados à comunidade
Em 19 de novembro, o manto escarlate dos chamados Príncipes da Santa Igreja cobrirá Dom Sérgio da Rocha, 56 anos. A notícia da futura nomeação como cardeal da Igreja Católica pelo papa Francisco surpreendeu o arcebispo de Brasília. Conhecido por se envolver com trabalhos comunitários, ele, que é presidente da Comissão Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), acredita que o título não seja apenas uma honraria, mas também a responsabilidade de expandir o serviço à comunidade.
Segundo o Código de Direito Canônico, o posto é designado aos que se distinguem “notavelmente pela doutrina, costumes, piedade e prudente resolução dos problemas”. Após a nomeação oficial de Dom Sérgio, a Igreja brasileira contará com cinco cardeais eleitores, os quais são hábeis a compor um eventual conclave, reunião do Colégio Cardinalístico destinada a designar o pontífice da comunidade católica.
O título será entregue aos 17 novos cardeais no último dia do Santo Ano da Misericórdia. A data, segundo Dom Sérgio, traduz os desejos do papa em referência ao futuro da Igreja. “É um sinal muito bonito. Não ouvi da boca dele, mas acredito que o pontífice espere a união entre cardeais e comunidade, e aguarde o abraço dos fiéis de tal maneira que sintamos juntos, soframos juntos. Temos que ser servidores da forma mais pura”, comenta.
O cardinalato chegará às mãos de Dom Sérgio após anos de imersão em comunidades pobres. Nascido em 1959, em Dobrada (SP), ele foi ordenado presbítero na Matriz do Senhor Bom Jesus de Matão, em São Paulo, em 1984. Desde então, percorre lares, paróquias e universidades para prestar auxílio religioso e prático aos fiéis carentes. “Não conhecemos as pessoas nos escondendo atrás dos vidros da casa paroquial ou dos carros. Temos que promover a integração, precisamos guardá-las. É nossa responsabilidade dar o abraço misericordioso de Deus a todos”, explica.
O anúncio da nomeação ocorreu enquanto Dom Sérgio participava de visita missionária a uma área devastada por derrubadas no Recanto das Emas. “Soube da notícia por moradores locais e pela imprensa. Não esperava o título. Porém, acredito que a escolha simbolize a confiança do papa não apenas em mim, mas na caminhada traçada pela Igreja Católica brasileira. Temos experiências muito ricas, as quais devem ser compartilhadas com o mundo.”
Dom Sérgio manteve a agenda pré-definida: recebeu jovens na Paróquia São José Operário e celebrou a missa das 19h no mesmo local, que contou com a presença dos arcebispos Dom Marconi e Dom José Aparecido. Na homilia, ele reforçou a doutrina do papa Francisco e disse que quer concretizar aqui a Igreja Missionária. “Primeiramente, que abra as suas portas, mas não só isso, a Igreja tem que sair da sacristia, ir ao encontro de todo mundo: das pessoas que estão sofrendo com o desemprego, com a pobreza, com doenças. A Igreja e os fiéis têm de ser solidários neste mundo, em que falta amor e justiça.”
Com a designação de 13 novos cardeais com menos de 80 anos, hábeis a compor o conclave, o Colégio cardinalício terá membros de 58 países. De acordo com Dom Sérgio, as nomeações agregarão valores diferenciados ao Vaticano.
Ele foi nomeado bispo pelo papa João Paulo II em 2001, como auxiliar de Fortaleza. Em janeiro de 2007, o papa Bento XVI o designou arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Teresina. Também pelo papa Bento XVI, em 2011, foi nomeado arcebispo metropolitano de Brasília.
Repercussão
O anúncio da nomeação de Dom Sérgio como cardeal repercutiu na cidade. O ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, José Geraldo de Sousa Júnior, relata que o episcopado dele tem a característica de propiciar o diálogo com a sociedade. “Ele quer abrir cada vez mais caminhos para proporcionar essa transformação na estrutura ainda muito desigual e hierárquica.”
O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, parabenizou o arcebispo. “Com poucas semanas em Brasília, Dom Sérgio já havia conquistado completamente o carinho e a confiança da nossa população. É um bispo presente, sensível e solidário, sobretudo aos mais necessitados. Sua escolha é uma conquista para o povo de Brasília e para o povo brasileiro”, escreveu, em nota oficial.
A coordenadora de Renovação Carismática Católica do DF, Kédina Rodrigues, avalia que Dom Sérgio é um bispo extremamente agregador. “Ele enxerga quais lugares devem ser visitados de uma forma efetiva e tem administrado a Igreja de Brasília de maneira vívida ao longo desses anos”, diz.