Presidente da República insinuou que o país asiático poderia ter fabricado o novo coronavírus em laboratório. Um dia depois, o diretor do Butantan disse que a “falta de alinhamento” do governo federal é causa das reduções nas previsões de importação da matéria-prima
Ao anunciar que a empresa chinesa Sinovac reduziu a previsão de importação do próximo lote de matéria-prima que será enviado ao Brasil para a finalização de doses da CoronaVac, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, atribuiu o problema, na manhã desta quinta-feira (6/5), à “falta de alinhamento” do governo federal. O instituto paulista esperava a entrega de 6 mil litros do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção da vacina, para atender a demanda de abril, mas só deve receber um terço deste montante, ou seja, 2 mil litros.
Covas afirmou que o governo federal vem criando um mal-estar com o maior parceiro comercial do Brasil, travando as negociações do “insumo da principal vacina que vai no braço dos brasileiros”. “Todas essas idas e vindas do governo federal obviamente têm um impacto no ritmo de liberação do IFA. As liberações estão acontecendo, mas em volume menor que poderia acontecer”, disse Covas.
O diretor afirmou que as negociações para o embarque da matéria-prima ainda estão em curso, mas indicou que existe uma preocupação com uma sinalização de redução do volume que será enviado. Além disso, Dimas disse que depende do insumo para continuar a produção da CoronaVac no Brasil e regularizar as entregas ao Ministério da Saúde. O Butantan ainda finaliza a entrega das 46 milhões de doses que deveriam ter sido enviadas até abril.
“Temos que totalizar a entrega de 5 milhões de doses produzidas com o IFA recebido em 19 de abril e, após isso, não temos mais matéria-prima para processar. E nós temos que debitar isso, principalmente, ao nosso governo federal, que tem remado contra”, completou. A chegada do novo lote de insumos da China está prevista a próxima quinta-feira (13).
Críticas
Caso só cheguem ao país dois mil litros do IFA, com o montante, o Butantan só conseguirá produzir aproximadamente 3,3 milhões de doses da CoronaVac. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também externou a preocupação com “as sucessivas manifestações que o governo federal vem fazendo contrariamente ao governo da China e à China, que é o nosso maior e, nesse momento, único fornecedor de insumos para a vacina do Butantan”.
“É lamentável que depois do ministro da Economia, Paulo Guedes, falar mal da China, da vacina, agora ontem (quarta-feira), o presidente Jair Bolsonaro seguindo na mesma linha”, completou Doria, afirmando que as últimas declarações do mandatário geraram um “profundo mal-estar na chancelaria e diplomacia chinesa”. O governador paulista considerou as manifestações “agressivas e desnecessárias”.
CPI da Covid
O tema já repercute na CPI da Covid, que apura omissões e erros do governo federal no enfrentamento à pandemia. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou, nesta quinta-feira (6), um requerimento para convidar a dirigência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a explicar se as declarações de Bolsonaro têm fundamento.