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quarta-feira, 25/12/24
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Caracas bloqueia Brasília. Dilma vira refém política do PSDB. É bom desconfiar

A narrativa tucana se cristalizou: na Venezuela, o governo local e o governo do Brasil não se importam com presos políticos e por tabela, com a liberdade.

A oposição derrotada nas urnas brasileiras em Outubro de 2014 controla as duas casas do Congresso. O segundo governo Dilma Rousseff segue acossado por incessante pressão parlamentar, em parte responsável pelo seu desgaste prematuro (somada aos efeitos corrosivos do marketing da própria Presidenta e das alianças questionáveis que permitiram ao PT a apertada vitória). Quando essa mesma oposição obtém uma improvável vitória na política externa, é bom desconfiar.

A segunda quinzena de Junho principiou com a derrota da Presidenta e do PT na Comissão de Constituição e Justiça, que aprovou parecer favorável à redução da maioridade penal – uma das mal disfarçadas bandeira da oposição no pleito de 2014. No dia seguinte, o Tribunal de Contas da União rejeitou as contas do primeiro mandato de Dilma, sumarizada sintomaticamente em 13 itens que configurariam irregularidades. E em seguida, Aécio Neves comandou uma comitiva de senadores da oposição numa atribulada viagem à Venezuela turbulenta do Presidente Nicolás Maduro.

Aécio e o PSDB gastaram boa parte de seu marketing eleitoral associando as contas do governo e a Venezuela a um hipotético pedido de impeachment no Congresso. Na mesma semana – estranha coincidência – as cartas se encontram todas na mesa.

Na Câmara, a toada do binômio fundamentalismo religioso-fisiologismo de Eduardo Cunha (PMDB) levou Dilma a sofrer seguidas derrotas em sua tentativa de implementar o que restou do programa vitorioso nas urnas. E mesmo o ajuste contracionista do ministro da Fazenda Joaquim Levy foi interrompido na última quinta-feira, dia 18. O motivo: a viagem dos oposicionistas a Caracas.

No Senado, além dos rompantes colloridos de Renan Calheiros (PMDB), o PSDB controla a Comissão de Relações Exteriores. Integrada por oposicionistas como Ricardo Ferraço (colega de Cunha e Renan), a CRE rejeitou, em Maio, a indicação do diplomata Guilherme Patriota para representar o Brasil na Organização dos Estados Americanos – situação inédita na história brasileira.

A CRE organizou a comitiva opositora, que chegou a Caracas num avião oficial da Força Aérea Brasileira sob alegações “humanitárias”, liderada pela chapa derrotada em 2014: os tucanos Aécio e Aloysio Nunes Ferreira (atual presidente da CRE). O que tornou possível essa inusitada visita?

Além do desgaste de Dilma, o esgarçamento das relações entre a Presidência e o Itamaraty criou oportunidade para o Senado agir em questões de política externa. Na Venezuela, o calcanhar de Aquiles de Maduro foi apontado por ONGS internacionais (como a Anistia) e pela missão da UNASUL no país: prisões ilegais, arbitrárias, politicamente motivadas e que violam tratados internacionais aos quais a Venezuela aderiu (e também o Brasil). A existência de prisioneiros políticos (incluindo destacados oposicionistas, como o prefeito de Caracas Antonio Ledezma e o ex-candidato presidencial Leopoldo López) abriu caminho para a viagem de parlamentares brasileiros à Venezuela após a CRE acolher denúncias de familiares dos presos em visita ao Brasil. Direitos Humanos não são “questões internas”; a CRE se resguardou de acusações de ingerência indevida na soberania alheia.

A missão foi rapidamente orquestrada distante dos canais diplomáticos do Itamaraty. Sua composição não deixa dúvidas quanto à motivação de sua presença na Venezuela. Tampouco desperta surpresa a recepção hostil que lhes foi concedida por Maduro, responsável pelas prisões e na corda bamba de um país cingido politicamente no declínio econômico de sua petrodependência.

Nem a Unasul, tampouco o governo Dilma tiveram sucesso em tentativas de resolver a situação dos presos políticos na Venezuela. Clamores internacionais por “união nacional” esbarram em lideranças oposicionistas loteadas nas prisões; as eleições parlamentares previstas para 2015 não têm data para acontecer. Em vista da situação crítica do país, Maduro receia ver encerrado nas urnas o que sobrou do projeto do “socialismo do século XXI” cunhado pelo ex-presidente Hugo Chávez.

Dias antes, o ex-Primeiro Ministro da Espanha, o socialista Felipe González, tentara contatar os presos políticos. Maduro tratou de assegurar que isso não ocorreria; Felipe ficou a ver navios. As chances de sucesso de Aécio eram ínfimas, algo decisivo para o sucesso da manobra oposicionista.

A cautela com que Dilma lidou com a efervescência política na Venezuela foi utilizada habilmente pela oposição brasileira. O fracasso da missão “humanitária” seria automaticamente convertido em trunfo na política doméstica: Dilma seria responsabilizada pelo “bloqueio” em Caracas, não Maduro. A recepção calorosa na Venezuela deu ao PSDB uma batata quente, repassada imediatamente para o Alvorada. O sumiço do embaixador brasileiro Ruy Pereira e demonstrações de violência diante do veículo que levava os parlamentares serviram como cerejas pirotécnicas no bolo de Aécio. O sucesso foi tamanho que partidos como o PSOL e até o PT se solidarizaram com os senadores oposicionistas, diante da violência demonstrada pelos partidários de Maduro… Cenas surpreendentes.

A ação foi meticulosamente calculada para infligir o máximo de dano possível à imagem de Dilma num ponto-chave de sua biografia: seu corajoso passado como militante e prisioneira política de uma ditadura. Ademais, foi no governo Dilma que o Mercosul suspendeu um de seus integrantes – o Paraguai – fazendo uso da cláusula democrática de Ushuaia. Seriam presos políticos na Venezuela compatíveis com essa cláusula? Na ausência de uma resposta (de Dilma ou Unasul), os integrantes da comitiva propuseram (sem surpresas) suspender a Venezuela do Mercosul…

A narrativa da oposição se cristalizou diante dos olhos: na Venezuela, o governo local e o governo do Brasil não se importam com presos políticos e por tabela, com a liberdade. A imagem da Presidenta Dilma como líder “hesitante” diante de práticas autoritárias deu imerecido presente de marketing para seu adversário Neves, tornado defensor da liberdade além-fronteiras ao lado de figuras como Agripino Maia (DEM)…

O custo do “fracasso” foi colocado na conta do Itamaraty, alimentando rusgas com a Presidência. Jogado aos leões, o órgão foi fustigado por todos os lados.

Os parlamentares responsáveis pelo veto a Patriota conseguiram “domesticar” a Venezuela, transformando-a em instrumento de pressão sobre Dilma e colocando o Itamaraty na berlinda. Além de enfraquecer a posição brasileira na missão da Unasul e de criar constrangimentos na relação bilateral com a Venezuela, cabe lembrar o contexto internacional dessa visita.

Na véspera da chegada do avião de Aécio, a OEA anunciara disposição de “substituir” a Unasul, ao fazer pressão pela divulgação das datas eleitorais. Na mesma semana, os candidatos presidenciais nos Estados Unidos iniciavam suas campanhas, cortejando o voto latino com demonstrações de que buscarão retomar a “liderança hemisférica”. Em contraste com a aproximação do governo Barack Obama e Cuba, os EUA impuseram sanções econômicas à Venezuela. Dado interessante: os EUA diminuíram suas importações de petróleo recentemente, ao se tornar os maiores produtores mundiais… O que impactou significativamente as já combalidas exportações venezuelanas.

A transformação do Itamaraty em Geni fortalece a CRE como núcleo de formulação da “política externa oposicionista”. No day after de Caracas, a oposição acusa o Itamaraty de abandono e Dilma de ser conivente com prisões políticas e de desrespeitar o Senado. Convocações para o Ministro Mauro Vieira e o embaixador Pereira deporem perante a CRE já foram entabuladas. Mais perturbador: a excursão venezuelana granjeou insuspeitos apoios para o PSDB no Congresso.

Na quinta-feira, Cunha paralisou uma das votações do ajuste de Levy. No lugar da medida, deputados votaram uma moção de repúdio a Maduro. Enquanto Dilma se reunia às pressas com Vieira, Calheiros demandava “altivez” na política externa. Para bom entendedor…

No terceiro turno murmurado, há um bloqueio a meio-caminho entre Caracas e Brasília. A “domesticação” da Venezuela alimenta o rolo compressor na Câmara e ações de política externa do Senado oposicionista, com impactos internos consideráveis.

Existem alternativas à narrativa “inevitável” protagonizada por PSDB e PMDB? Cabe ao PT responder mais essa pergunta. E já.

A narrativa tucana se cristalizou: na Venezuela, o governo local e o governo do Brasil não se importam com presos políticos e por tabela, com a liberdade.

A oposição derrotada nas urnas brasileiras em Outubro de 2014 controla as duas casas do Congresso. O segundo governo Dilma Rousseff segue acossado por incessante pressão parlamentar, em parte responsável pelo seu desgaste prematuro (somada aos efeitos corrosivos do marketing da própria Presidenta e das alianças questionáveis que permitiram ao PT a apertada vitória). Quando essa mesma oposição obtém uma improvável vitória na política externa, é bom desconfiar.

A segunda quinzena de Junho principiou com a derrota da Presidenta e do PT na Comissão de Constituição e Justiça, que aprovou parecer favorável à redução da maioridade penal – uma das mal disfarçadas bandeira da oposição no pleito de 2014. No dia seguinte, o Tribunal de Contas da União rejeitou as contas do primeiro mandato de Dilma, sumarizada sintomaticamente em 13 itens que configurariam irregularidades. E em seguida, Aécio Neves comandou uma comitiva de senadores da oposição numa atribulada viagem à Venezuela turbulenta do Presidente Nicolás Maduro.

Aécio e o PSDB gastaram boa parte de seu marketing eleitoral associando as contas do governo e a Venezuela a um hipotético pedido de impeachment no Congresso. Na mesma semana – estranha coincidência – as cartas se encontram todas na mesa.

Na Câmara, a toada do binômio fundamentalismo religioso-fisiologismo de Eduardo Cunha (PMDB) levou Dilma a sofrer seguidas derrotas em sua tentativa de implementar o que restou do programa vitorioso nas urnas. E mesmo o ajuste contracionista do ministro da Fazenda Joaquim Levy foi interrompido na última quinta-feira, dia 18. O motivo: a viagem dos oposicionistas a Caracas.

No Senado, além dos rompantes colloridos de Renan Calheiros (PMDB), o PSDB controla a Comissão de Relações Exteriores. Integrada por oposicionistas como Ricardo Ferraço (colega de Cunha e Renan), a CRE rejeitou, em Maio, a indicação do diplomata Guilherme Patriota para representar o Brasil na Organização dos Estados Americanos – situação inédita na história brasileira.

A CRE organizou a comitiva opositora, que chegou a Caracas num avião oficial da Força Aérea Brasileira sob alegações “humanitárias”, liderada pela chapa derrotada em 2014: os tucanos Aécio e Aloysio Nunes Ferreira (atual presidente da CRE). O que tornou possível essa inusitada visita?

Além do desgaste de Dilma, o esgarçamento das relações entre a Presidência e o Itamaraty criou oportunidade para o Senado agir em questões de política externa. Na Venezuela, o calcanhar de Aquiles de Maduro foi apontado por ONGS internacionais (como a Anistia) e pela missão da UNASUL no país: prisões ilegais, arbitrárias, politicamente motivadas e que violam tratados internacionais aos quais a Venezuela aderiu (e também o Brasil). A existência de prisioneiros políticos (incluindo destacados oposicionistas, como o prefeito de Caracas Antonio Ledezma e o ex-candidato presidencial Leopoldo López) abriu caminho para a viagem de parlamentares brasileiros à Venezuela após a CRE acolher denúncias de familiares dos presos em visita ao Brasil. Direitos Humanos não são “questões internas”; a CRE se resguardou de acusações de ingerência indevida na soberania alheia.

A missão foi rapidamente orquestrada distante dos canais diplomáticos do Itamaraty. Sua composição não deixa dúvidas quanto à motivação de sua presença na Venezuela. Tampouco desperta surpresa a recepção hostil que lhes foi concedida por Maduro, responsável pelas prisões e na corda bamba de um país cingido politicamente no declínio econômico de sua petrodependência.

Nem a Unasul, tampouco o governo Dilma tiveram sucesso em tentativas de resolver a situação dos presos políticos na Venezuela. Clamores internacionais por “união nacional” esbarram em lideranças oposicionistas loteadas nas prisões; as eleições parlamentares previstas para 2015 não têm data para acontecer. Em vista da situação crítica do país, Maduro receia ver encerrado nas urnas o que sobrou do projeto do “socialismo do século XXI” cunhado pelo ex-presidente Hugo Chávez.

Dias antes, o ex-Primeiro Ministro da Espanha, o socialista Felipe González, tentara contatar os presos políticos. Maduro tratou de assegurar que isso não ocorreria; Felipe ficou a ver navios. As chances de sucesso de Aécio eram ínfimas, algo decisivo para o sucesso da manobra oposicionista.

A cautela com que Dilma lidou com a efervescência política na Venezuela foi utilizada habilmente pela oposição brasileira. O fracasso da missão “humanitária” seria automaticamente convertido em trunfo na política doméstica: Dilma seria responsabilizada pelo “bloqueio” em Caracas, não Maduro. A recepção calorosa na Venezuela deu ao PSDB uma batata quente, repassada imediatamente para o Alvorada. O sumiço do embaixador brasileiro Ruy Pereira e demonstrações de violência diante do veículo que levava os parlamentares serviram como cerejas pirotécnicas no bolo de Aécio. O sucesso foi tamanho que partidos como o PSOL e até o PT se solidarizaram com os senadores oposicionistas, diante da violência demonstrada pelos partidários de Maduro… Cenas surpreendentes.

A ação foi meticulosamente calculada para infligir o máximo de dano possível à imagem de Dilma num ponto-chave de sua biografia: seu corajoso passado como militante e prisioneira política de uma ditadura. Ademais, foi no governo Dilma que o Mercosul suspendeu um de seus integrantes – o Paraguai – fazendo uso da cláusula democrática de Ushuaia. Seriam presos políticos na Venezuela compatíveis com essa cláusula? Na ausência de uma resposta (de Dilma ou Unasul), os integrantes da comitiva propuseram (sem surpresas) suspender a Venezuela do Mercosul…

A narrativa da oposição se cristalizou diante dos olhos: na Venezuela, o governo local e o governo do Brasil não se importam com presos políticos e por tabela, com a liberdade. A imagem da Presidenta Dilma como líder “hesitante” diante de práticas autoritárias deu imerecido presente de marketing para seu adversário Neves, tornado defensor da liberdade além-fronteiras ao lado de figuras como Agripino Maia (DEM)…

O custo do “fracasso” foi colocado na conta do Itamaraty, alimentando rusgas com a Presidência. Jogado aos leões, o órgão foi fustigado por todos os lados.

Os parlamentares responsáveis pelo veto a Patriota conseguiram “domesticar” a Venezuela, transformando-a em instrumento de pressão sobre Dilma e colocando o Itamaraty na berlinda. Além de enfraquecer a posição brasileira na missão da Unasul e de criar constrangimentos na relação bilateral com a Venezuela, cabe lembrar o contexto internacional dessa visita.

Na véspera da chegada do avião de Aécio, a OEA anunciara disposição de “substituir” a Unasul, ao fazer pressão pela divulgação das datas eleitorais. Na mesma semana, os candidatos presidenciais nos Estados Unidos iniciavam suas campanhas, cortejando o voto latino com demonstrações de que buscarão retomar a “liderança hemisférica”. Em contraste com a aproximação do governo Barack Obama e Cuba, os EUA impuseram sanções econômicas à Venezuela. Dado interessante: os EUA diminuíram suas importações de petróleo recentemente, ao se tornar os maiores produtores mundiais… O que impactou significativamente as já combalidas exportações venezuelanas.

A transformação do Itamaraty em Geni fortalece a CRE como núcleo de formulação da “política externa oposicionista”. No day after de Caracas, a oposição acusa o Itamaraty de abandono e Dilma de ser conivente com prisões políticas e de desrespeitar o Senado. Convocações para o Ministro Mauro Vieira e o embaixador Pereira deporem perante a CRE já foram entabuladas. Mais perturbador: a excursão venezuelana granjeou insuspeitos apoios para o PSDB no Congresso.

Na quinta-feira, Cunha paralisou uma das votações do ajuste de Levy. No lugar da medida, deputados votaram uma moção de repúdio a Maduro. Enquanto Dilma se reunia às pressas com Vieira, Calheiros demandava “altivez” na política externa. Para bom entendedor…

No terceiro turno murmurado, há um bloqueio a meio-caminho entre Caracas e Brasília. A “domesticação” da Venezuela alimenta o rolo compressor na Câmara e ações de política externa do Senado oposicionista, com impactos internos consideráveis.

Existem alternativas à narrativa “inevitável” protagonizada por PSDB e PMDB? Cabe ao PT responder mais essa pergunta. E já.

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