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quinta-feira, 26/12/24
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Cem dias de Macri realinham a Argentina com o mercado e grandes potências

A política externa do novo presidente argentino tem recebido elogios, sobretudo sua aproximação com Washington

O presidente argentino Mauricio Macri (VEJA.com/Reuters)
O presidente argentino Mauricio Macri (VEJA.com/Reuters)

O modelo argentino mudou e agora é pró-mercado, a antítese do governo de centro-esquerda de cem dias atrás, com realinhamento do país com as grandes potências, promovido pelo presidente Mauricio Macri. Apesar da mudança de rumo, o novo chefe de Estado ainda não foi capaz de dissipar as angústias da sociedade argentina, que sofre com a queda das receitas e o aumento da inflação. Quando Macri assumiu a presidência no dia 10 de dezembro, as consultoras internacionais indagavam se ele poderia solucionar o pagamento aos fundos especulativos com um Congresso opositor. Mas em um gesto de moderação, os legisladores estão lhe dando autorização e Macri segue conseguindo cumprir suas metas.

A política externa também tem recebido elogios, sobretudo sua aproximação com Washington, em clara oposição ao desinteresse por alimentar esse vínculo dos ex-presidentes de centro-esquerda Néstor e Cristina Kirchner (2003-2007; 2007-2015). No final de março, selando a reaproximação com os Estados Unidos o presidente Barack Obama irá fazer uma visita oficial ao seu colega Macri. O presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro da Itália, Mateo Renzi, foram outros líderes que visitaram a Argentina e elogiaram a nova etapa das relações com o país latino.

O presidente, pouco depois que assumiu o cargo, anunciou o fim das restrições cambiais existentes e o peso sofreu uma desvalorização de 35% desde então, impactando no salário de milhões de trabalhadores. Além disso, promoveu medidas duras do ponto de vista social: demissões no setor público e privado, e uma inflação em alta. No plano econômico de Macri, os dolorosos ajustes são necessários para garantir o crescimento no longo prazo.

 

“Os cem dias de Macri na economia mostram coerência com seus anúncios eleitorais e celeridade na execução, em temas como a suspensão das bandas cambiais, a eliminação das retenções ao setor agrário e às importações”, disse Rosendo Fraga, consultor político. Em 2015, o déficit fiscal foi de mais de 5%. Agora há uma queda do consumo e inflação de mais de 8% nos dois primeiros meses de 2016. O pacto com os ‘fundos abutres’ “cria as condições para que Argentina acesse os mercados de crédito privados”, apontou Fraga.

Protestos – Em 100 dias de governo, Macri teve uma curta lua de mel e já teve que enfrentar protestos. Seu ministro de Modernização revisou aproximadamente 64.000 contratos na administração pública, cujo quadro temporário cresceu 50% em três anos, e greves foram organizadas como resposta. Em pleno período de férias de verão, houve pelo menos um protesto por semana por demissões no setor cultural, ruptura de contratos temporários em distintas instituições do governo e detenção da reconhecida liderança social Milagro Sala. Houve ainda manifestações de apoio a jornalistas identificados com o kirchnerismo que foram tirados do ar nas redes de televisão e rádio, por que estariam pressionando o governo.

O calcanhar de Aquiles continua sendo a inflação, uma espécie de carma argentino que o governo promete a baixar para um dígito, mas que nesses 100 dias parece mais sem controle do que nos últimos anos. O governo espera terminar 2016 com uma inflação entre 20 e 25%, mas consultoras privadas preveem que será difícil e que ultrapassará os 30%. A consultora Tendências Econômicas e Financeiras apontou que foram perdidos 107.000 empregos no setor público e privado em 2016. Fraga considera que “a inflação é um problema muito relevante no econômico, mas o grande desafio de Macri agora passa antes pelo político-institucional: gerar a coalizão política que lhe dê governabilidade e no marco das regras da divisão dos poderes”.

(Com agência France-Presse)

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