A depender da magnitude dos exercícios chineses nos próximos dias, a ação pode ser vista como a mais provocativa contra Taiwan em décadas
A China começa nesta quinta-feira, 4, um período de exercícios militares e teste de mísseis nos arredores de Taiwan. A movimentação terá duração de quatro dias, segundo o governo em Pequim.
Taiwan fica a cerca de 200 quilômetros (por mar) da China continental.
A movimentação acontece um dia depois de a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, fazer uma visita relâmpago a Taiwan.
Alguma sinalização das duas partes no chamado “estreito de Taiwan”, que liga a ilha à China continental, não é incomum: exercícios, passagem de embarcações militares e outras movimentações foram registradas diversas vezes nos últimos anos.
Mas a movimentação chinesa nos arredores de Taiwan a partir desta quinta-feira (não iniciada até o fechamento desta reportagem) acontece como resposta direta à visita de Pelosi.
A última vez que um oficial do mesmo patamar visitou Taiwan foi em 1997, o que fez da visita da parlamentar do Partido Democrata um marco histórico – e irritou o governo chinês.
A depender da magnitude dos exercícios chineses nos próximos dias, a ação pode ser vista como a mais provocativa contra Taiwan em décadas.
Taiwan tem um governo autônomo desde 1949, ano em que o Partido Comunista Chinês de Mao Tse-Tung venceu uma guerra civil que perdurava desde 1927. O então líder da China derrubado, Chiang Kai-Shek, fugiu com aliados políticos e se refugiou em Taiwan, fundando um governo paralelo.
O caso virou uma disputa entre as “duas Chinas” desde então.
Atualmente, os EUA não reconhecem mais a independência de Taiwan e embasam sua diplomacia no conceito de “China única”, reconhecendo o governo comunista na China continental desde os anos 1970.
Apesar disso, os americanos dizem defender o “status quo”, isto é, que Taiwan continue com governo autônomo frente à China, mesmo que não como um país independente.
A Casa Branca tem tentando convencer a China de que a visita de Pelosi não deve se tornar uma crise global e que não representa uma mudança em sua política de “China única”. O governo americano afirma que Pelosi (que é do partido do presidente Joe Biden) tomou a decisão de ir a Taiwan por conta própria.
A China leu a viagem como uma ameaça a sua soberania e disse, antes do embarque de Pelosi, que o movimento poderia ter “consequências”.
A chegada de Pelosi a Taiwan acontece ainda enquanto os governos tanto de Biden nos EUA quanto de Xi Jinping na China vivem fortes pressões internas.
Biden enfrenta neste ano eleições legislativas em que os democratas caminham para perder a maioria no Congresso, enquanto Xi Jinping deve ser reconduzido ao cargo no Congresso do Partido Comunista, mas sofre com economia crescendo menos e os efeitos da pandemia.
Embora a situação entre China e Taiwan seja antiga, atualmente soma-se ao cenário a possibilidade de o conflito escalar para patamares globais, envolvendo a China, os EUA e outras potências. A situação em casa dos dois governos pode intensificar as pressões para mais demonstrações de força na política externa — como a desta quinta-feira.