Segundo o FMI, a turbulência política na Bolívia e em seu vizinho, o Chile, deve impactar negativamente a economia dos dois países, mas não a da região
São Paulo — O congresso boliviano deve se reunir nesta terça-feira para confirmar um governo interino até que, espera-se, novas eleições sejam organizadas. Mas há um problema: como dois terços dos congressistas são do esfacelado partido de Evo Morales, pode faltar quórum para confirmar a renúncio do ex-presidente do país. A incerteza política, portanto, não deve deixar a Bolívia tão cedo.
Carlos Mesa, ex-presidente e candidato derrotado nas eleições de outubro, pediu uma solução constitucional, com chancela do exército e da polícia. O próprio Mesa alertou, ontem, que “uma turba violenta” se dirigia à sua casa. A residência de Morales já havia sido saqueada. A maior fonte de insegurança, atualmente, vem de Luis Fernando Camacho, uma espécie de líder popular da extrema-direita evangélica, que pediu uma junta de transição “social”. Partidários de Evo também são acusados de atos de violência e posaram fortemente armados para fotos de agências de notícias.
A senadora Jeanine Añez, que deve assumir como presidente interina, afirmou ontem que o país deve organizar novas eleições em janeiro.
Enquanto isso, Evo viajou na noite desta segunda-feira em um avião militar com destino ao México, que lhe concedeu asilo político após sua renúncia. “Irmãs e irmãos, parto rumo ao México, agradecido pelo desprendimento do governo deste povo irmão que nos deu asilo para proteger nossa vida”. A viagem ao México foi alvo de chacota do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. “Lá (no México) a esquerda tomou conta de novo. Tenho um bom país para ele: Cuba”, afirmou Bolsonaro em frente ao Palácio do Alvorada.
Segundo o Fundo Monetário Internacional, a turbulência política na Bolívia e em seu vizinho, o Chile, deve impactar negativamente a economia dos dois países, mas não a da região. “Não são países com grandes transações comerciais com outros países da região e têm economias pequenas”, disse o chefe de divisão de estudos do Hemisfério Ocidental Jorge Roldos, segundo o jornal Valor. Uma fonte de incerteza, com o Brasil, é o fornecimento de gás boliviano, responsável por 83% do fornecimento brasileiro. Possíveis tensões na fronteira também preocupam o governo, segundo o jornal El País. A vida real, claro, vai além da bravata.