Variantes mais agressivas e aumento das mortes entre os mais jovens mostram que distanciamento social é a única matemática possível
O Brasil atingiu no último domingo uma média móvel de 778.654 doses de vacinas contra o coronavírus aplicadas por dia em todo o país. O número está próximo do recorde, atingido no dia anterior (média de 787.946 doses por dia). Embora estejamos no patamar mais alto desde o início do Plano Nacional de Imunização (PNI), o ritmo de crescimento da vacinação vai perdendo força.
Entre o final de janeiro e o final de fevereiro, a média de doses aplicadas diariamente girou em torno de 250 mil. Houve um salto relevante na primeira semana de março, quando, no dia 7, a média móvel de doses passou pela primeira vez da casa dos 360 mil, uma alta de 44%. Uma segunda onda de aceleração ocorreu entre 19 de março e 1º de abril, quando a média móvel dobrou, de 372,2 mil para 746,5 mil. Os dados são do Laboratório de Estudos Espaciais do Centro de Pesquisas Computacionais da Rice University, dos Estados Unidos.
Mas nos últimos dez dias o ritmo está mais ou menos estagnado. E ele ainda é bem inferior à capacidade do SUS, que poderia aplicar até 2 milhões de doses a cada 24 horas. E isso ocorre por um motivo simples: não há vacinas disponíveis para serem ministradas. Na prática, é como uma fábrica que pode produzir 1.000 carros por dia, mas só produz 500 porque não há peças suficientes.
Até ontem, 23,28 milhões de brasileiros já haviam recebido ao menos a primeira dose de alguma vacina. O número equivale a 11% da população brasileira. Mas a segunda dose, que garante ao menos alguma dose de imunidade, foi aplicada em pouco mais de 7 milhões de pessoas, ou apenas 3,33% da população.
Significa dizer que o Brasil levou quase três meses (desde 17 de janeiro) para imunizar 3,33% dos seus habitantes. O número é muito baixo. Mesmo se levarmos em consideração a média atual, de 778,6 mil doses diárias, ainda levaríamos 240 dias para aplicar ao menos uma dose em cada brasileiro, ou oito meses.
Fim do efeito feriado
Enquanto a imunização ainda caminha a passos lentos, o Brasil ultrapassou neste fim de semana a barreira das 350 mil mortes por covid-19. O país chegou a 353.137 vítimas desde o início da pandemia.
Após o fim do efeito estatístico do feriado de Páscoa, que fez a média móvel de mortes cair artificialmente, o número diário de vítimas nos últimos sete dias voltou a superar a barreira dos 3.000 óbitos, atingindo 3.101 ontem, patamar próximo do triste recorde de 3.117 mortes ao dia atingido em 1º de abril.
O mês de abril caminha a passos largos para se confirmar como o pior de toda a pandemia. Nos 11 primeiros dias, foram registradas 31.672 mortes, mais da metade de todos os óbitos ocorridos em março. Mantido esse triste ritmo atual, o Brasil superaria a impressionante casa das 86,3 mil mortes em um mesmo mês. Até aqui, março de 2021 foi o pior mês desde o início da pandemia, com 62.918 mortes.
Após o efeito feriado, a média móvel de casos também voltou a crescer. Ela havia saído de 77.129 em 27 de março para 62.855 em 6 de abril. Ontem, voltou a superar o patamar de 70 mil, ao atingir 71.010 casos novos por dia, em média. O patamar é ainda elevado, o que projeta novas elevações nos números de mortes nas próximas duas ou três semanas.
Cresce morte entre jovens
A escalada no número de mortes traz ainda outra estatística assustadora.
De acordo com dados da Fiocruz, entre a primeira semana epidemiológica de janeiro e a última de março, cresceram de forma muito acelerada os números de casos e mortes de pessoas mais jovens. O maior crescimento se deu entre pessoas de 30 a 39 anos, com alta de 1.218% nos casos no período analisado.
A elevação no número de mortes entre os mais jovens também impressiona. Na mesma comparação, o crescimento foi de 872,7% entre 20 e 29 anos; 814% entre 30 e 39 anos e 880,7% entre 40 e 49 anos.
Sinal de que as novas variantes são mais agressivas, inclusive para pessoas mais novas e sem comorbidades; e que, provavelmente, os jovens estão se protegendo menos do que deveriam.
Por todo esse cenário, o momento continua sendo dos mais delicados, seja para os mais jovens, seja para os mais velhos e já vacinados. O contágio segue em alta, 21 unidades da Federação estão com ocupação de UTIs acima de 90% e a vacinação continua lenta.
Enquanto essa equação permanecer, os cuidados devem continuar, incluindo medidas restritivas, distanciamento social, uso de máscara e álcool gel etc. Não há outra matemática possível neste momento.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência