Apesar do declínio nacional de casos, o avanço da covid-19 em muitos estados americanos mostra que a reabertura começou a criar problemas
O clima de retomada da economia nos Estados Unidos está ameaçado. Ao menos 21 Estados registraram aumento de novos casos de coronavírus nos últimos sete dias, colocando em risco a sensação de que o pior já passou. O país registrou mais de 116 mil mortos e quase 2,2 milhões de infectados por covid-19. Alguns Estados, como Arizona Flórida e Texas, tiveram recorde de novas contaminações em um só dia desde o início da epidemia.
Com o declínio nacional de casos e o controle da situação em Nova York, muitos Estados americanos passaram a reabrir gradualmente lojas e restaurantes, retornando à normalidade incentivados pelo presidente Donald Trump. No entanto, o avanço do vírus na última semana mostra que a reabertura começou a criar problemas.
No sábado, a Flórida registrou mais de 2,5 mil novas infecções em 24 horas, o maior número para um único dia. O Estado já tem mais de 77 mil casos de coronavírus e quase 3 mil mortos. O governador, o republicano Ron DeSantis, garante que o aumento não está relacionado com a reabertura, que começou no dia 4 de maio, mas sim com a maior testagem e surtos em comunidades rurais, prisões e asilos.
O argumento de que há mais testes feitos, no entanto, não explica a alta registrada em quase metade dos Estados americanos pois a porcentagem de testes positivos em relação aos realizados também têm crescido na maior parte deles, assim como o número de hospitalizações.
O Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington, que produz o modelo estatístico que embasa as políticas da Casa Branca, revisou as projeções. A estimativa atual é de que o país registre 201.129 mortes até outubro. Se o estudo estiver correto, os EUA terão mais 85 mil mortes por covid-19 nos próximos três meses e meio. O modelo do IHME é considerado conservador pela maior parte dos especialistas.
Os casos atuais ainda são considerados parte da primeira onda de contágio, que agora chegam a locais que não foram tão afetados. A segunda onda de infecções é prevista para começar entre agosto e setembro, com a volta às aulas e a flexibilização das medidas de segurança adotadas pela população.
O avanço do vírus pelo interior do país, no entanto, ainda não entrou no radar da Casa Branca, que já não faz mais coletivas de imprensa para informar sobre a situação da pandemia. Além disso, Trump prometeu fazer comícios no Arizona, Texas e Flórida, nas próximas semanas, mesmo sabendo dos riscos. Em Houston, maior cidade do Texas, as autoridades definem a situação como “próxima de um desastre”.
Apesar das orientações para que aglomerações e viagens não essenciais sejam evitadas, a campanha de Trump retomará a agenda de campanha no sábado, com um comício na cidade de Tulsa, no Estado de Oklahoma, onde o número de casos também cresce.
As maiores altas da última semana, segundo o Washington Post, foram registradas nos Estados de Alabama (92%), Oregon (83,8%) e Carolina do Sul (60,3%). No Arkansas, as internações cresceram 120,7% desde o feriado do Memorial Day, no fim de maio, quando muitos americanos lotaram praias e parques.
Ainda é cedo para saber se o surgimento de novos casos vai ou não sobrecarregar os hospitais, mas o risco de reabrir a economia cresceu para prefeitos e governadores. Até agora, os Estado de Oregon e Utah decidiram paralisar a reabertura.
Em Nova York, cenas de aglomerações em bares e restaurantes, no fim de semana, fizeram governador, Andrew Cuomo, ameaçar paralisar a retomada. “Temos 21 Estados onde o vírus está crescendo. Não queremos passar pela mesma situação”, afirmou. Segundo ele, se a população não seguir as diretrizes determinadas pelo governo, há uma possibilidade “real” de voltarem as restrições.
O Estado de Nova York foi o que mais sofreu na primeira onda de contágio, chegando ao patamar de 800 mortes diárias. Todos os sinais até agora são de que os nova-iorquinos conseguiram achatar a curva de nova infecções. Há 1,6 mil pessoas hospitalizadas com covid-19 em todo o Estado, o menor número desde 20 de março, e distante do pior momento, quando mais de 18 mil estavam internadas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.