Caixas d’água sem tampa, um córrego e a negligência dos próprios vizinhos são apontados por moradores como motivos da alta incidência da dengue em bairro do distrito do Jaraguá, em São Paulo. No distrito que lidera a lista da doença com 92 casos, uma caminhada de 400 metros na comunidade Ozem é o bastante para localizar dois infectados recentemente pelo Aedes aegipty e mais cinco sob análise.
No estado, mais de 38 mil casos foram registrados nos dois primeiros meses do ano, segundo o governo estadual.
Apenas a cidade de São Paulo registrou 563 casos até a sexta semana de 2015, contra 214 casos no mesmo período de 2014. O aumento foi de 163%.
A Secretaria Municipal de Saúde apura se a morte de uma mulher idosa em 28 de janeiro na Brasilândia, na Zona Norte, foi causada pela doença.
A auxiliar de serviços gerais Marina Aparecida Batista, de 34 anos, está com dois filhos com suspeita da doença. Na manhã desta quinta-feira (5), ela lavava roupa e se perguntava se voltaria ao centro médico para fazer a sorologia de Rian, seu filho caçula de 10 anos.
A licença de três dias que ganhou para acompanhar o caçula acabou. Já o outro filho dela, de 14, apresenta muitas dores no corpo, está com os olhos vermelhos, dor de barriga. Ela tem certeza de que ele também está infectado.
“Hoje o caçula está melhor, eu acho que não vou ao posto fazer a sorologia porque o médico não me deu atestado. Ele disse que, com 14 anos, o meu mais velho já sabe tomar remédio sozinho. À noite, ele queima de febre”, contou Marina. Na tentativa de convencer os patrões de que está enfrentando o problema de doença em casa, ela tira fotos do filho recebendo atendimento médico e envia pelo celular.
Marina, que já teve a forma mais forte da doença, a hemorrágica, mostra da janela do quarto uma caixa d´água com apenas uma tela de cobertura. Nos fundos do quintal, o lixo acumulado pelo vizinho também pode se tornar foco para reprodução dos mosquitos.
“Eu pedi para ele jogar fora dois sacos cheios de água verde. Eu mesma fiquei doente uma vez que mexeram nessa caixa d’água”, contou.
As caixas d’água sem tampa afligem a comunidade e os moradores dizem que não se sentem à vontade de reclamar com os vizinhos.
“Naquela caixa ali, a rede fica dentro da água. Os pombos tomam até banho. É certeza que tem algum foco. Se a gente reclama, é muito xingamento e briga (entre os vizinhos). Por isso, a gente não fala nada”, disse uma idosa, que pediu para não ser identificada.
Na casa ao lado de uma das caixas descobertas, duas pessoas estão com suspeita de dengue. Marlene dos Santos de Deus, de 50 anos, contou que o filho de 29 anos amanheceu muito doente.
“Até cuspindo sangue ele estava. Eu fiquei muito preocupada quando eu vi”, disse.
“Aqui tem esse córrego, tem caixas d´água destampadas, falta cuidado do morador com o lixo. Não é só a Prefeitura. A Prefeitura e os moradores têm que trabalhar juntos. É muito grave o que está acontecendo”, desabafa. Ela diz não manter águas nos vasos e não deixar água parada.
A avó de Iuri, de apenas um ano e nove meses, também está preocupada. “Desde domingo ele tem febre, não come. Ele só vai fazer o exame amanhã [sexta-feira]. Aqui tem caixas abertas, essa galeria sem tampa bem em frente de casa”, observa Janaína de Castro Raimundo, de 37 anos.
Repelente caro
Janaína diz que o neto usava repelente, mas que ela não acredita na eficácia. “Ele usava e está desse jeito, por isso eu não acredito”, disse.
Na farmácia do bairro nunca se vendeu tanto desse tipo de produto. A atendente Soraia Ramos, que trabalha há 9 anos no bairro , disse estar espantada. “Eu lembro de outras epidemias de dengue, mas nunca vendi repelente desse jeito”, afirmou enquanto mostrava as diversas embalagens. Um frasco pequeno de 100 ml, em creme, custa cerca de R$ 10.
“É muito caro. Eu tenho três filhos. Como eu vou comprar? Mas mais caro é a vida, né?”, observou Marina, que após conversar decidiu procurar atendimento médico novamente para as crianças.