Há mais de um mês, o Distrito Federal registra diminuição nos indicadores que resultam da soma das mortes semanais dividida por sete e comparadas ao verificado duas semanas antes. Desde 19 de junho, índices apresentam variação negativa
O Distrito Federal registra, há mais de um mês, queda na média móvel de mortes por covid-19. Desde 10 de junho, o indicador — resultado da soma dos óbitos em uma semana dividida por sete — apresenta variação negativa quando comparado ao de 14 dias antes. Em relação aos casos, a diminuição do índice se mantém há 25 dias. Apesar da tendência, o contágio preocupa devido à quantidade de registros diários. Nessa quarta-feira (14/7), a Secretaria de Saúde (SES-DF) confirmou 663 novos infectados e mais 13 vítimas que morreram por causa da doença.
Na avaliação de Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB), o cenário parece favorável, mas a análise dos dados deve ocorrer com parcimônia. “As quedas são incrivelmente positivas. Porém, estamos melhores, não estamos bem ainda. Existe a possibilidade de haver outro boom de casos aqui no DF”, alerta. Nos últimos sete dias, a quantidade média de infectados a cada 24 horas ficou em 589 — 22,7% a menos que duas semanas antes —, enquanto a de mortos no período foi de 12 — diminuição de 15,2% na comparação com o mesmo intervalo.
Se mantiver esse padrão, o DF chega nessa quinta-feira (15/7) aos 440 mil infectados. Nessa quarta-feira (14/7), a capital federal tinha 439.528 casos e 9.420 mortes por covid-19. Para Breno Adaid, não é momento de baixar a guarda em relação aos cuidados até que a maior parte da população esteja vacinada. “(Os resultados) não querem dizer que as pessoas podem relaxar. De jeito nenhum”, ressalta.
Na quarta-feira (14/7), a taxa de transmissão do vírus estava em 0,93, o que demonstra desaceleração, pois cada grupo de 100 pessoas com a doença é capaz de transmiti-la para, em média, outros 93 indivíduos. O indicador está abaixo de 1 desde 21 de junho.
Na terça-feira (13/7), a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) divulgou o boletim semanal sobre a covid-19. Os dados revelam que a capital do país se encontra em quinto lugar no ranking nacional que avalia a mortalidade pela doença nas 27 unidades da Federação e em nível nacional. Os números, consolidados no domingo (11/7), mostram que o DF registra 311 óbitos a cada grupo de 100 mil habitantes, ficando atrás de Roraima (353), Mato Grosso (347), Rio de Janeiro (329) e Amazonas (323), respectivamente.
Faixas etárias
O boletim também demonstra que, nos primeiros 11 dias de julho, na comparação com o mesmo período do mês passado, houve queda na quantidade de casos e mortes registradas entre quase todas as faixas etárias. A diretora de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, Clarissa Schlabitz, explica que o levantamento considera os boletins epidemiológicos divulgados pelo Ministério da Saúde e que, neste mês, os números não tendem a sofrer alterações significativas. “Esses são excelentes indicadores. Todos os resultados têm demonstrado queda (de casos e mortes) na pandemia”, observa.
Para a infectologista Ana Helena Germoglio, a vacinação tem peso para o cenário: “Os imunizantes geram benefícios mesmo com só uma dose. Desde que (o DF) começou a aplicação das doses, o perfil dos pacientes graves com covid-19 tem mudado. Mesmo com todos os problemas que a campanha apresenta e mesmo não sendo a mais acelerada do país, é inegável o efeito positivo que ela tem”, avalia a médica. Ainda assim, ela lembra que as pessoas vacinadas com a segunda dose precisam manter todos os cuidados não farmacológicos. “Vacina, distanciamento e uso de máscaras são as únicas formas que temos de frear o contágio”, completa.
Atualmente, podem se vacinar no DF pessoas com 41 anos ou mais que conseguiram agendar o atendimento. O Executivo local espera receber uma remessa de vacinas contra a covid-19 nesta quinta-feira (15/7). Com isso, a SES-DF deve iniciar, na próxima semana, o atendimento de pessoas a partir dos 38 anos.
Duas doses em 13% da população
Dos mais de 3 milhões de habitantes da capital federal, apenas 13,4% (410,5 mil) receberam as duas doses ou o imunizante de aplicação única. Em relação aos que tomaram apenas a primeira, essa taxa é de 37,2% (1,1 milhão). Na quarta-feira (14/7), a Secretaria de Saúde vacinou mais 11,4 mil pessoas, inclusive em mutirão no Sol Nascente/Pôr do Sol, cujo alvo foi a população sem acesso à internet e que, por isso, não conseguiu agendar o atendimento. Nesta quinta-feira (15/7), a campanha volta a contemplar profissionais da rede privada de ensino.
Servidora pública, Cláudia Pereira, 51 anos, recebeu a segunda dose nessa quarta-feira (14/7), no Estacionamento nº 13 do Parque da Cidade. Ela conta que, agora, sente mais segurança para voltar ao trabalho, principalmente com o retorno das aulas presenciais. “Trabalho na Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação, na 907 Sul. Estou feliz por ter finalizado essa etapa fundamental. Espero que toda a rede possa se vacinar e voltar (às atividades) com todos os cuidados contra o vírus”, opina.
Cláudia relata que teve parentes e colegas diagnosticados com o novo coronavírus. Alguns não resistiram à doença. “Meu irmão teve, mas não ficou em estado grave. Perdi alguns amigos e a nora da minha irmã. A vacinação precisa ser mais ágil, porque perdemos muita gente nesta pandemia”, cobra a moradora de Taguatinga.
Incluída na vacinação pelo grupo dos catadores de materiais recicláveis, Carolina Moura, 24, comenta que receber a primeira dose da vacina gerou alívio. “Querendo ou não, temos contato com o público, não só de hospitais. Está complicado para todo mundo. Muita gente tem passado fome, fiquei desempregada por um mês. Quem tem contas a pagar, fica desesperado”, desabafa. “Vou continuar com os mesmos procedimentos, com uso de máscara e álcool em gel até que não tenha mais necessidade de usá-los”, completa.
UTIs
Na quarta-feira (14/7), a lista de espera por um leito em unidade de terapia intensiva (UTI) na rede pública de saúde tinha 88 pessoas, das quais três tinham quadro suspeito ou confirmado de covid-19. À noite, os hospitais estavam com 57 leitos livres para esse público e 135 com pacientes em tratamento contra a doença, o que levou a taxa de ocupação para 70%. Na rede privada, havia 40 vagas e 157 indisponíveis (80%).