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segunda-feira, 23/12/24
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Desmatamento na Amazônia brasileira bate recorde em abril

Dados do Inpe apontam que em abril de 2021 a região registrou o maior índice de alertas de destruição para o mês em toda a série histórica, que começou em 2015

(Bruno Kelly/Reuters)

O Brasil volta a registrar novos recordes de desmatamento na Amazônia, após o governo prometer dobrar as fiscalizações para proteger a floresta. Os dados oficiais do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira, 7, apontam que em abril de 2021 a região registrou o maior índice de alertas de destruição para o mês em toda a série histórica, que começou em 2015 com a operação do satélite Deter B, usado no mapeamento (compreendendo o período entre agosto de 2015 e julho de 2016).

O desmatamento cresceu 42% em abril, em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram 581 km² até o dia 29, contra 407 km² em abril de 2020. A organização Observatório do Clima chama a atenção para o fato de que 26% da Amazônia estava coberta de nuvens no período, ficando, assim, invisível ao satélite. É o maior porcentual de nuvens para o mês na série iniciada em 2015. Isso significa que há grande chance de a área ser ainda maior.

Os dados apontam que, na prática, perdeu-se 58 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 58 mil campos de futebol, em apenas um mês. “A estação seca na maior parte da Amazônia começa em maio e a partir de junho, a tendência da devastação será consolidada. Neste momento não é possível afirmar o que acontecerá, mas pode ser que em 2021 ocorra uma inédita quarta alta consecutiva do desmatamento. Os próximos meses dirão”, alerta o Observatório do Clima.

Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, afirmou que “o desmatamento vai continuar em alta se nada for feito e é difícil imaginar que uma solução seja apresentada por um governo que é responsável por um aumento histórico do desmatamento e que represa e corta recursos para a proteção do meio ambiente”.

A preocupação geral é de que o País volte a registrar catástrofes como as ocorridas em 2019 na Amazônia e em 2020 no Pantanal. Duas semanas atrás, depois de o presidente Jair Bolsonaro afirmar que iria dobrar os recursos de fiscalização do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), o governo fez exatamente o oposto, cortando aquilo que já estava previsto no orçamento dos órgãos por meio de vetos.

Horas depois o ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, afirmou que chegou a um acordo com o Ministério de Economia para repor os orçamentos dos dois órgãos aos valores de 2021 e ampliar os repasses da fiscalização, conforme prometido. Segundo Salles, serão adicionados 270 milhões aos órgãos. Nesta semana, foi anunciada a contratação temporária de 1,6 mil profissionais para atuarem no apoio às operações.

Em abril, teve fim a participação dos militares na floresta, ação que foi liderada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, por meio da operação Verde Brasil 2. Hoje, Ibama e ICMBio vivem séries restrições financeiras para executarem seus serviços básicos. O sistema de autuação por crimes ambientais também está paralisado, após Ricardo Salles impor novas regras que, na prática, impossibilitaram que o trabalho seja executado em campo.

Desmatamento

Questionado pela reportagem sobre os índices de desmatamento, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, delegou a responsabilidade pelo controle ao vice-presidente Hamilton Mourão, alegando que, até abril, ainda estava em vigor a chamada Garantia de Lei de da Ordem (GLO), que enviou militares à Amazônia para apoiar o combate ao desmatamento.

“Abril ainda estava em vigor a GLO sob o comando do vice-presidente. Peço encaminhar a ele os questionamentos”, declarou. A reportagem questionou a vice-presidência. Ainda não houve posicionamento até o fechamento deste texto.

Para Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e especialista sênior em políticas públicas da organização Observatório do Clima, os números do sistema Deter de abril, com o maior valor desde 2015 refletem a ineficácia do governo atual no controle do desmatamento.

“Abandonam o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, substituem por narrativas, discursos em PDF com o título de plano no cabeçalho, deslegitimam os órgãos de fiscalização ambiental, e querem que esse esquema funcione”, comenta Araújo. “Não adianta prometer fiscalizar. Devem ser concretizadas medidas efetivas, em reversão completa da antipolítica ambiental que está sendo conduzida pelo atual governo. Eu duvido que essa reversão ocorra até o fim do governo Bolsonaro. O projeto deles é de desinstitucionalização da política ambiental.”

 

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