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quarta-feira, 04/12/24
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Diferença salarial cai, mas só 17% das empresas no Brasil têm mulheres na presidência

Claudia Woods, da WeWork, já teve de combinar diálogos para ter voz em reuniões dominadas por homens — Foto: Maria isabel oliveira

No Dia Internacional da Mulher, é possível ver que houve avanços no país, apesar de a situação ainda estar longe do ideal

‘Era um jogo combinado, fulano vai te cortar, você não vai conseguir terminar a frase. Eu entro e falo: ‘Espera, deixa a Claudia falar’. Era esse o nível de planejamento para conseguir ocupar o espaço que merecia’. Foi assim que Claudia Woods, atualmente CEO da WeWork no Brasil, conseguia ter voz em reuniões quando começou sua carreira de gestão em grandes empresas, apoiando-se nesse diálogo ensaiado entre ela e um homem. Acostumada à informalidade das startups, viu-se em um ambiente em que era a única mulher na mesa da diretoria.

Claudia integra a pequena fatia de mulheres sentadas na cadeira de CEO no país: elas somam apenas 17% do total. Ainda assim, hoje, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, é possível ver que o avanço foi inegável no Brasil. No ano passado, o país passou da 94ª posição no ranking de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial para a 57ª colocação — subida puxada principalmente por uma maior presença feminina em órgãos do governo e no Legislativo.

Híbrido ajuda

Na empresa comandada por Claudia, 56% da liderança estão em mãos femininas. Não é mais um exercício solitário como era no início de carreira de gestão de várias mulheres que já têm o nome consolidado no mercado, diz. E o trabalho híbrido pode contribuir para acelerar essa mudança:

— Daqui a dez anos, vai ter um equilíbrio maior entre homens e mulheres. Esse modelo chegou para ficar e deve causar um impacto muito grande na quantidade de mulheres dentro do ambiente de trabalho e da alta liderança, com mais autonomia para ditar sua agenda.

No mercado de trabalho como um todo, o salto foi significativo nas últimas décadas. Nos anos 1980, as mulheres representavam apenas 33,5% da população ocupada. Em 2023, essa fatia sobe para 43%. O salário cresceu e se aproximou do ganho dos homens. Nos anos 1970, representava 56% do rendimento masculino subindo em 2023 a 79,2%. A velocidade e a qualidade dessa entrada da mulher no mercado de trabalho dependem para onde se olha, diz Ana Diniz, pesquisadora do Insper especializada em gênero.

— As mulheres têm diferentes experiências. Quando se observam outros eixos, como etnia, classe social, geração, vemos retratos diferentes. É importante entender que o avanço é muito mais lento do que se gostaria e que esse avanço não está trazendo todo mundo ainda. Não podemos deixar nenhuma para trás.

Situação no mercado de trabalho — Foto: Arte

Segundo Ana, as mulheres negras estão mais concentradas no trabalho informal. Quando estão no emprego formal, são mais concentradas nos trabalhos sub-remunerados, menos protegidas ou na base da pirâmide. Seguem como raridade no topo da gestão das companhias, mas começam a ganhar espaço. Já para as mulheres brancas, mais favorecidas economicamente e na educação, o desafio é a ascensão, o teto de vidro que impede que elas avancem mais rapidamente.

Mesmo com o aumento de mulheres em cargos de liderança, chegando a quase 40%, Vivian Broge, vice-presidente de Relações Humanas e Marketing da Totvs, diz ainda se sentir sozinha nesses espaços dominados por homens:

— São poucas as mulheres em vice-presidências.

Nesses cargos de liderança, a desigualdade salarial é mais acentuada, afirma a economista do IBGE Cristiane Soares, pesquisadora de gênero. Na média, a mulher ganha cerca de 80% do que recebe o homem. Nos cargos de liderança, essa parcela cai para 73%:

— Quase 10% das mulheres em cargos de chefia estão na construção civil, são arquitetas, engenheiras, mestres de obras, mas elas só ganham 49% do salário do homem. E piorou, era 54% em 2013.

Essa ascensão desigual foi conseguida a custo de ter que provar permanentemente que merecia estar naquela posição. Carolina Buzetto, CEO da WPP Media Services, lembra que no início da carreira não havia modelo de liderança feminina:

— Sempre que havia uma mulher importante, um homem dava a palavra final. Não conseguia enxergar até onde minha carreira poderia ir.

Os avanços no ambiente corporativo vêm sendo impulsionados pela adoção de diversas medidas voltadas para promover a equidade de gênero, sobretudo no alto da pirâmide do trabalho. Programas de formação de liderança; bonificações ancoradas no cumprimento de metas de diversidade; iniciativas para recrutar e preparar talentos femininos para promoções estão entre elas.

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