Trabalho executado pelo Banco de Olhos do DF envolve fases que precisam ser cumpridas com urgência e requer, além dos procedimentos cirúrgicos, acordo com familiares dos doadores
Um trabalho intenso, permanente e que literalmente leva muitos a enxergar a vida com outros olhos. O dia a dia da equipe do Banco de Olhos do DF, situado no Hospital de Base, é corrido com o objetivo de garantir o sucesso na captação e o transplante de córneas na capital. De janeiro a abril, já foram mais de 200 captadas em todo Distrito Federal (veja abaixo) e 118 cirurgias de transplante executadas.
A córnea compõe a parte anterior do globo ocular, só pode ser doada após o falecimento e deve ser captada de seis a 12 horas após a parada cardíaca. Trata-se de um tecido transparente e que desempenha papel fundamental na formação da visão.
Vítimas de doenças como a ceratocone (a mais comum), o leucoma e também a queimadura ocular têm indicação médica para receber uma nova córnea e, assim, retomar a vida com normalidade. Mas não é algo simples assim. Passa pela autorização familiar, a retirada do globo ocular e uma análise criteriosa para que ele possa seguir para o transplante.
Uma ação diária que é feita pelos enucleadores, conforme explica a médica responsável técnica pelo banco de olhos, Micheline Lucas Cresta. “São técnicos que vão ao local onde o corpo está, podendo ser o IML, um necrotério, centros cirúrgicos de hospital, entre outros, e realiza a captação que leva no máximo uma hora. O banco funciona 24 horas”, diz.
O tecido é armazenado em três câmaras frias com temperatura de 2ºC e a 8ºC e a sorologia do doador é verificada, com o auxílio do Hemocentro de Brasília. É preciso averiguar a possibilidade de contaminação por doenças infecciosas causadas pelo HIV ou hepatites B e C, por exemplo.
Resistência e desinformação
A córnea pode ficar armazenada até 14 dias, ganha uma numeração e seu receptor é apontado pela Central Estadual de Transplantes (CET) que sistematiza uma fila de espera para cada unidade da federação. De acordo com Micheline, o desconhecimento e o medo ainda impedem famílias de serem solidárias com quem precisa. “Nosso objetivo é evitar que a família tenha qualquer trauma ou culpa em relação a isso. São colocadas próteses no lugar do olho retirado e o velório pode ser realizado sem problemas”, explica a médica oftalmologista. “Não fica qualquer indício que o globo ocular foi manipulado”, complementa Micheline.
Diferentemente de órgãos como o coração – que precisa ser transplantado em no máximo quatro horas – e o fígado – em até 24 horas –, por exemplo, a córnea tem esta “sobrevida” de vários dias. Já a fila de espera por uma córnea, segundo a médica, é atualmente de oito meses. A média de transplantes feitos no DF em 2022 é de cerca de 30 por mês, três vezes mais que o de fígado, por exemplo, segundo números da CET. Pessoas com idade entre 3 e 75 anos estão aptas a doar.
Doação é imprescindível
“Há um volume crescente de transplantes de córnea que são promovidos pela capacidade do banco de gerar esse tecido nobre para a realização da cirurgia. Mas vale lembrar que não é um órgão que nasce no banco de tecidos, por isso é necessária a doação”, frisa a diretora da Central de Transplantes do DF, Daniela Salomão. Tanto unidades públicas como os hospitais de Base e o Universitário de Brasília (HUB) como clínicas da rede privada realizam a cirurgia.
Segundo Daniela, é uma rede bem estruturada, onde há uma busca ativa de doadores elegíveis mas que também está aberta a famílias que quiserem informar a doação de um ente querido. “A gente não deve perder a oportunidade de ajudar o próximo. A chance de precisarmos de um transplante de córnea ou de um outro órgão existe e daí seremos nós os beneficiados”, finaliza.
Contato:
Banco de Órgãos e Tecidos (BOT) do DF
– Telefones: 99556-9117 (WhatsApp) e 3550 8869
– e-mail: bot.crdf@saude.df.gov.br