Analistas avaliam que apreciação da moeda norte-americana ajudou a impulsionar preço das ações
As ações de companhias exportadoras apresentaram rentabilidade superior ao Ibovespa desde que dólar superou os 4 reais pela última vez, no último dia 6 de novembro, véspera do leilão da cessão onerosa do pré-sal. O evento, que contou com baixa participação de estrangeiros, frustrou a expectativa de entrada de capital externo.
Então, o dólar avançou. Em pouco mais de uma semana, a moeda já estava acima de 4,20 reais. A marca, até então vista como um possível “teto” por parte de analistas, não foi respeitada e, nesta semana, o dólar bateu três recordes consecutivos, chegando a fechar em 4,25 reais na quarta-feira (27).
Nesse período, exportadoras, como as dos setores de celulose, produtoras de carnes e siderúrgicas valorizaram na Bolsa. Do dia 5 a 27 de novembro, os papéis da Suzano subiram 5,22%, os da Klabin, 7,27%, os da Gerdau, 18,42% e os da Minerva, 24,8%. Enquanto isso, o Ibovespa passou de 108.719,02 pontos para 107,707,75 pontos no mesmo período – queda de 0,93%.
Para analistas consultados, a alta do dólar contribuiu para a valorização desses ativos, mas não foi o motor principal, e sim aspectos relacionados aos setores de atuação de cada empresa.
Papel e celulose
Além da apreciação do dólar, outro fator que tem influenciado a valorização das ações do setor é a expectativa de retomada da cotação da celulose no mercado internacional. “Temos uma visão positiva no médio e longo prazo porque o preço da celulose parece estar bem próximo do piso” afirma Betina Roxo, analista da XP Investimentos.
No ano, o baixo preço da commodity penalizou as ações da Klabin e Suzano. Até quarta-feira (27) , ambas acumulavam valorização abaixo do Ibovespa no ano, de 12,61% e 3,8%, respectivamente, contra alta de 22,55% do principal índice da Bolsa.
Um dos fatores determinantes para a queda do preço da celulose, segundo Betina, foi o aumento dos estoques. “O preço atual por tonelada chega próximo do custo de produção de algumas empresas, o que incentiva a parada para manutenção, reduzindo a oferta”, diz.
Foi assim que uma das maiores produtoras de celulose do mundo, a Suzano, reduziu seu estoque no terceiro trimestre. A medida apresentada no último balanço financeiro da companhia agradou os investidores e as ações passaram a subir.
“No geral, vemos a cotação da celulose parando de cair e mostrando uma estabilidade melhor, com leve aumento de preço e redução de estoques na China”, afirmou Luis Sales, analista da Guide Investimentos.
Frigoríficos
Diferentemente do setor de papel e celulose, os frigoríficos vivem a lua de mel desde que a peste suína devastou rebanhos na China e forçou o país asiático a aumentar a importação do produto para atender à demanda interna. Desta vez, analistas apontam o preço da carne bovina como o principal gatilho para as ações da Minerva.
“É um cenário favorável para a exportação de gado e a cotação do câmbio tem ajudado”, disse Luis Sales. De acordo com ele, a Minerva estava melhor posicionada do que outras companhias do setor, como a Marfrig, para aproveitar o preço do boi em alta.
A analista da Terra Investimentos, Sandra Peres, disse que a apreciação da carne bovina está relacionada com a menor oferta por parte de países que também exportam boi. Isso aumenta a exportação do Brasil.”
Siderúrgicas
O movimento de alta do segmento na Bolsa, liderado pelas ações da Gerdau, está sendo impulsionado, principalmente pela recuperação do preço do minério de ferro na China e pelo aço longo, apontam analistas.
“A gente fala que a receita [do setor] é toda dolarizada. Então, quando o dólar sobe, abre espaço para o preço do aço subir também”, explicou Betina Roxo.
Muito usado na construção o preço do aço longo pode variar conforme o nível da atividade imobiliária. Para Luis Sales, a demanda pelo produto está ficando mais aquecida, “principalmente no Brasil”.