Em relatório divulgado nesta sexta-feira pela instituição, desempenho negativo da atividade é influenciado, em grande parte, pela crise de confiança dos agentes econômicos
Um dia após divulgar que a atividade do país recuou 4,08% em 2015 na comparação com o ano anterior, o Banco Central admitiu nesta sexta-feira de forma clara que a economia brasileira segue em processo recessivo. No boletim regional divulgado pela instituição, esse desempenho negativo da atividade é influenciado, em grande parte, pela crise de confiança dos agentes econômicos.
Os desdobramentos desse cenário, segundo o BC, exercem efeitos negativos sobre os gastos com investimentos e consumo. Já estes gastos, continua a autoridade monetária, são influenciados também pelo menor dinamismo no mercado de crédito e pela deterioração da renda real. Esses desdobramentos também são intensificados, conforme o boletim regional, pelos impactos do processo de ajuste macroeconômico que está em curso. Para o BC, no entanto, esse ajuste é “essencial” para a consolidação de fundamentos que favoreçam a convergência da inflação para a meta em 2017.
Vale destacar que o BC não cita o termo “este ano” em seu documento. Conforme declarações dadas ontem pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, a instituição segue seu objetivo de levar o IPCA de 2016 para um patamar que fique abaixo do teto da meta de 6,50%. Para o ano que vem, a banda superior de tolerância é menor, de 6%, mas o BC se diz confiante em levar a inflação ao centro da meta, de 4,50%.
IBCR-N – O Banco Central divulgou na manhã desta sexta-feira o resultado acumulado no trimestre encerrado em novembro do índice de atividade das cinco regiões do país. Na quinta-feira, 18, a instituição informou que, em 2015, o Índice de Atividade do BC (IBC-Br) teve baixa de 4,08%. Segundo o boletim regional, de setembro a novembro, o IBC-Br caiu 1,8% na comparação com o trimestre encerrado em agosto. Todos os dados mencionados sobre os trimestres são dessazonalizados.
As regiões que tiveram pior resultado nesse período foram Norte e Nordeste. Em todas elas, no entanto, foi visto um movimento de baixa na comparação com o período anterior. Centro-Oeste e Sudeste ficaram na posição intermediária no período e a região Sul foi a que apresentou a menor deterioração de seu quadro econômico, segundo os cálculos feitos pelo BC.
De acordo com o boletim regional, a atividade econômica no Norte foi impactada pelas trajetórias negativas da indústria de transformação, que recuou 7,5%, em cenário de redução da atividade no polo industrial de Manaus, e das vendas do comércio ampliado, que decresceram 3,1% no período. O documento cita que, nesse contexto, em que o mercado de trabalho registrou cortes de empregos formais, com impacto sobre a renda disponível dos consumidores, e os índices de confiança persistiram em declínio, o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR-N) recuou 1,6% no trimestre encerrado em novembro em relação ao finalizado em agosto.
No caso da economia do Nordeste, o BC identificou um aprofundamento do processo recessivo na região. Essa piora, conforme o boletim, foi expresso em “retrações acentuadas” nas vendas do comércio ampliado (que decresceram 4,1% no trimestre encerrado em novembro em relação ao finalizado em agosto), com destaque para o desempenho negativo das vendas de material de construção – e na produção da indústria. “Nesse ambiente, em que o mercado de trabalho registrou perdas líquidas de postos, apesar da sazonalidade favorável a contratações, o IBCR-NE recuou 1,6% no período”, informou o BC.
No Centro-Oeste, o aprofundamento da desaceleração da atividade registrado no trimestre encerrado em novembro foi evidenciado pelas trajetórias de indicadores relacionados à indústria de transformação, à construção civil e ao comércio ampliado, segundo o BC. As vendas comerciais recuaram 5,2% no período, após retração de 3,1% no trimestre encerrado em agosto. “Essa dinâmica reflete, em grande parte, o impacto do patamar reduzido das expectativas dos agentes econômicos e a distensão do mercado de trabalho, expressa na retração do emprego formal e na redução da renda disponível dos trabalhadores”, considerou o BC no documento. Assim, o IBCR-CO diminuiu 1,3% em relação ao trimestre finalizado em agosto.
Sobre a retração da atividade econômica no Sudeste, o BC lembrou que se trata de uma trajetória que foi mantida nos últimos meses de 2015 e que essa dinâmica foi evidenciada pelo patamar reduzido dos indicadores de confiança de consumidores e empresários, pelas reduções contínuas das vendas do comércio ampliado e da produção industrial, e pela distensão do mercado de trabalho. O boletim regional ressalta que foram eliminados 244,9 mil empregos formais no trimestre encerrado em novembro ante corte de 11,2 mil em igual período de 2014. O IBCR-SE recuou 1,3% no trimestre mencionado, em relação ao finalizado em agosto, de acordo com dados dessazonalizados.
Já no Sul, a persistência do processo de retração do nível de atividade pode ser comprovada no período pela trajetória do comércio ampliado – as vendas de veículos automotores decresceram 6,7% no período, evolução consistente com o ambiente de redução da confiança e da renda real dos consumidores e de moderação das operações de crédito – e da atividade industrial. “Nesse cenário, em que o volume do setor de serviços passou a apresentar resultados negativos, o IBCR-S recuou 0,9% em relação ao terminado em agosto, quando decrescera 5,9%, nesse tipo de comparação, dados dessazonalizados”, comparou a autoridade monetária.
Seguro-desemprego – As mudanças das regras do seguro-desemprego geraram um aumento da oferta de mão de obra, conforme estudo publicado pelo Banco Central. Intitulado “Efeitos das Mudanças das Regras do Seguro-desemprego”, o boxe que acompanha o Boletim Regional cita, porém, que o efeito dessa maior oferta de trabalho tem efeito relativamente pequeno sobre a taxa de desemprego. Por isso, de acordo com o documento, fatores como os reflexos do ajuste macroeconômico em curso no país concorrem para explicar o aumento da taxa de desemprego nos últimos meses.
As regras de concessão do benefício foram alteradas no início do ano passado e ficaram mais restritas. As mudanças no seguro-desemprego afetaram, principalmente, os trabalhadores com menos de um ano no emprego, e que tinham direito ao benefício em três parcelas. Desde março de 2015, não existe mais a possibilidade de acesso ao pagamento a trabalhadores com menos de um ano no emprego, restando apenas os beneficiários com mais tempo de serviço.