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Eleição presidencial nos EUA tem a maior participação popular em 56 anos

Com 99,74% das urnas apuradas, foram contabilizados mais de 156,5 milhões de votos, o equivalente a 60,8% da população americana com idade para votar. Em 1964, participação foi de 61,4%.

Eleitores aguardam em uma longa fila para votar em Oklahoma na eleição presidencial dos EUA, em 3 de novembro de 2020 — Foto: Nick Oxford/Reuters/Arquivo

Antes mesmo da conclusão da apuração dos votos, a eleição presidencial americana deste ano já tem a maior participação popular, em relação à população em idade de votar, desde 1964.

Já são mais de 156,5 milhões de votos contabilizados até a manhã desta sexta-feira (27), segundo a agência de notícias Associated Press.

Os Estados Unidos têm atualmente 257,6 milhões de habitantes em idade de votar, segundo o “Projeto Eleições”, da Universidade da Flórida, que acompanha a disputa presidencial americana. O voto no país não é obrigatório.

Assim, mais de 60,8% dos americanos compareceram

às urnas neste ano, o maior nível de participação em 56 anos (ou 14 disputas presidenciais).

Os dados da população com idade para votar são do “Projeto Presidência Americana”, da Universidade da Califórnia (veja no gráfico abaixo).

Em 1964, quando o democrata Lyndon Johnson derrotou o republicano Barry Goldwater, 61,4% dos americanos com aptos para votar foram às urnas, segundo o projeto.

A pior participação popular registrada desde então foi em 1996, quando o democrata Bill Clinton se reelegeu contra o republicano Bob Dole. Só 49% dos americanos com idade para votar foram às urnas.

Trump x Biden

Apesar de a apuração oficial deste ano ainda não ter terminado, Joe Biden foi declarado vencedor pela imprensa americana no dia 7. O democrata será o 46º presidente americano.

Mas o republicano Donald Trump, que tentava se reeleger, até agora não reconheceu a derrota e tem recorrido a uma série de contestações judiciais para tentar mudar o resultado da eleição.

Sem apresentar provas, ele reclama de uma suposta fraude na apuração de estados decisivos. Mas, até agora, nenhuma autoridade reportou qualquer irregularidade na contagem dos votos.

Joe Biden recebeu 80.063.589 votos até o momento, a maior votação já recebida por um candidato a presidente na história dos EUA. Ele passou a marca de 80 milhões de votos na noite de terça-feira (24).

O recorde anterior era do também democrata Barack Obama, que em sua primeira eleição recebeu 69.498.516 votos. Biden foi vice de Obama durante os oito anos de governo (2008-2016).

O então presidente dos EUA, Barack Obama, ouve seu vice-presidente, Joe Biden, durante evento na Casa Branca, em foto de 13 de dezembro de 2016 — Foto: Carolyn Kaster/AP/Arquivo
O então presidente dos EUA, Barack Obama, ouve seu vice-presidente, Joe Biden, durante evento na Casa Branca, em foto de 13 de dezembro de 2016 — Foto: Carolyn Kaster/AP/Arquivo.

Trump, que se tornou o primeiro presidente americano a não conseguir se reeleger desde George H.W. Bush em 1992, tem 73.904.195 até o momento.

Em 2016, o republicano foi eleito com 62.984.825 votos (quase 11 milhões a menos do que em 2020). Sua adversária, a democrata Hillary Clinton, recebeu 65.853.516 votos, mas perdeu no Colégio Eleitoral.

Com 99,74% das urnas apuradas, o rapper Kayne West teve 66.281 votos e está em 7º na corrida presidencial, atrás de vários nomes menos conhecidos:

  • 3. Jo Jorgensen: 1.855.628 votos
  • 4. Howie Hawkins: 391.738
  • 5. Roque De La Fuente: 87.788
  • 6. Gloria La Riva: 83.780
Combinação de fotos mostra os candidatos independentes e de partidos de terceira via que disputam os votos de Trump e Biden na eleição presidencial dos EUA em 2020 — Foto: Divulgação
Combinação de fotos mostra os candidatos independentes e de partidos de terceira via que disputam os votos de Trump e Biden na eleição presidencial dos EUA em 2020 — Foto: Divulgação.

Votação antecipada recorde

A eleição presidencial deste ano foi marcada por uma forte mobilização e polarização e um recorde de votos antecipados, que impulsionaram a participação popular.

Mais de 100 milhões de americanos votaram presencialmente ou pelo correio antes do dia oficial da eleição, que ocorreu em 3 de novembro.

Eleitores vão às urnas em Arlington, na Virgínia, na votação antecipada das eleições presidenciais americanas — Foto: Al Drago/Reuters
Eleitores vão às urnas em Arlington, na Virgínia, na votação antecipada das eleições presidenciais americanas — Foto: Al Drago/Reuters

Por causa da pandemia do novo coronavírus, o voto antecipado – que até 2016 era disponível só em alguns estados – foi adotado em todo o país.

A pandemia é apontada também como um fator crucial para a derrota de Trump. Os EUA são o país mais afetado pela Covid, com mais de 260 mil mortes e 12 milhões de casos (cerca de 20% de todas as mortes e infectados do mundo).

Década de 60
Até o recorde deste ano, as maiores participações populares nas eleições presidenciais americanas tinham sido registradas na década de 60, na época do movimento pelos direitos civis (veja mais abaixo).

A porcentagem de americanos em idade de votar que foram às urnas em 1960, 1964 e 1968 foi de 62,8%, 61,4% e 60,7%, respectivamente.

Em 1960, a eleição com maior participação da década, o democrata John F. Kennedy derrotou o republicano Richard Nixon. Em 1964, Lyndon Johnson venceu Barry Goldwater.

Em 1968, os republicanos enfim voltaram à Casa Branca. Nixon concorreu novamente e, desta vez, derrotou o democrata Hubert Humphrey e o candidato independente George Wallace, que teve uma expressiva votação e ganhou em cinco estados.

Direito ao voto
Antes disso, os EUA registravam alto porcentual de participação popular nas eleições no século 19 e início do século 20. Mas essa porcentagem pode ser explicada porque muito menos pessoas tinham direito ao voto.

As mulheres só conquistaram esse direito em 1920, com a 19ª emenda à Constituição americana. A luta dos negros foi ainda mais difícil.

Apesar de a 15ª emenda ter garantido o direito ao voto aos negros em 1870, estados criavam diversos mecanismos para dificultá-lo, como a cobrança de taxas e testes de alfabetização e até a “cláusula do avô” (que impedia o voto de descendentes de escravos).

Isso mudou com a 24ª emenda em 1964 e a Lei de Direito ao Voto em 1965, aprovadas em meio ao movimento pelos direitos civis liderado por Martin Luther King.

O boxeador Muhammad Ali e o pastor Martin Luther King em foto de 29 de março de 1967 — Foto: Arquivo/AP
O boxeador Muhammad Ali e o pastor Martin Luther King em foto de 29 de março de 1967 — Foto: Arquivo/AP.

 

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