Grupo cobra concessão da última parcela de reajuste salarial. Paralisação dura oito dias e foi considerada ilegal pela Justiça.
Em greve há oito dias, agentes socioeducativos do Distrito Federal suspenderam na manhã desta quinta-feira (15) a internação de crianças e adolescentes infratores. O grupo protestou em frente à Unidade de Atendimento Inicial, responsável pelos primeiros procedimentos para encaminhamentos dos jovens, contra a suspensão de reajustes salariais. O governo alega não ter condições financeiras de manter os aumentos. Por e-mail, a Secretaria da Criança informou que reforçou a segurança do local com policiais militares e disse que conseguiu na Justiça a ilegalidade da paralisação.
De acordo com o Sindicato dos Servidores do Sistema Socioeducativo, 1,4 mil profissionais participam da greve – apenas servidores da gestão não aderiram. A categoria cobra, além da última parcela do reajuste salarial concedido de forma escalonada desde 2013, infraestrutura e segurança. O salário inicial de um agente é de R$ 3,5 mil e com o aumento subiria 10%.
“Não temos luvas, colchões, carros. O sistema está caótico. Não cabe mais nenhum menor”, disse o presidente do sindicato, Cristiano Torres.
Com a paralisação, visitas aos finais de semana, entrega de alimentos, atividades escolares e psicossociais e escoltas judiciais estão suspensas por tempo indeterminado. Apenas as atividades de ronda e vigilância estão sendo mantidas nas 27 unidades – cinco de internação, uma unidade de saída sistemática, uma provisória, 15 de liberdade assistida e cinco casas de semiliberdade.
O agente Daniel Melo, de 32 anos, conta que as condições de trabalho nas unidades de internação são ruins. “Já aconteceu várias vezes de estarmos dirigindo e uma roda se soltar, por exemplo. Os menores também estão sem materiais de higiene, sem colchões para dormir. Além disso, não existe segurança, várias vezes já fomos ameaçados de morte pelos próprios infratores.”
A agente Gabriela Barbosa, de 29 anos, estava contando com o dinheiro do reajuste para pagar contas e continuar com a faculdade. “A inflação é gigante, mal consigo comprar alimentos e colocar gasolina no meu carro além disso, tenho problema cardíaco e os remédios não são baratos. Não vamos abrir mão do reajuste, é nosso direito.”
O DF tem atualmente mil jovens cumprindo medidas socioeducativas, e a média de apreensões diárias é de 15. Internos de Santa Maria fizeram um protesto e realizaram greve de fome para cobrar cursos, escolas, lazer e comida digna.
Pai de um garoto apreendido por tentativa de assalto, o motorista Leandro Santos, de 32 anos, foi até a Unidade de Atendimento Inicial. Ele relatou falta de informações e constrangimentos causados devido à greve.
“É um transtorno né? Já basta a dor de cabeça que é ter um filho apreendido, e ainda não informam nada com clareza. Me ligaram e disseram que ele estaria aqui. Vim de ônibus e me encaminharam para outro lugar”, afirmou.
Pela manhã, sete adolescentes que estavam no local foram encaminhados pelos policiais da Delegacia da Criança e do Adolescente para o Ministério Público. Outros 14 que aguardavam para os procedimentos iniciais de internação também foi transferidos para o MP.