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segunda-feira, 23/12/24
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Em Nova York, o comércio do metrô luta para sobreviver

Enquanto o estado de Nova York enfrenta uma nova onda de covid-19, os pequenos negócios que dependem do fluxo de pessoas sofrem

Backwoods, uma loja de roupas e acessórios femininos da estação Times Square: 77 dos 321 negócios que operam no metrô de NY fecharam permanentemente (Simbarashe Cha/The New York Times)

Um dia, mesmo quando os trens estavam praticamente vazios e o silêncio tomava conta do Vanderbilt Hall, um canto do terminal da Grand Central Station parecia ser uma cápsula do tempo: o famoso Oyster Bar da estação, que permanecera sete meses fechado por causa das restrições da pandemia, reabriu, e 80 de suas 81 vagas de reserva foram preenchidas.

Lá dentro, os bartenders preparavam coquetéis, funcionários abriam ostras e clientes se sentavam em cadeiras de couro, em uma cena familiar desde que o restaurante abriu em 1913.

Mas a atividade foi passageira. Com o passar dos dias, a enxurrada de clientes desapareceu. Então, apenas duas semanas depois de reabrir, o restaurante fechou de novo.

Há mais de um século, o metrô da cidade de Nova York é a espinha dorsal da economia da cidade, transportando as pessoas para seu local de trabalho e os visitantes para pontos turísticos famosos. Ao mesmo tempo, o sistema gerou o próprio ecossistema econômico de negócios, sustentado por milhões de usuários que passam pelas estações todos os dias.

Porém, quando a pandemia afastou os passageiros, esses estabelecimentos perderam quase todos os seus clientes, causando um golpe pelo menos tão devastador, se não pior, quanto a dor que o surto infligiu aos negócios acima do chão.

O número de empresas dependentes dos passageiros, desde bancas de jornal e vendedores de cachorro-quente até floristas e engraxates, já estava em constante declínio à medida que os jornais impressos caíam em desuso e lojas eram fechadas devido a regulamentações mais rigorosas, destinadas a limpar e organizar o sistema metroviário.

Agora, o prolongado período de quarentena piorou ainda mais a situação. Desde março, 77 das 321 lojas que ainda operam no sistema fecharam permanentemente, de acordo com a Autoridade de Transporte Metropolitano (MTA, na sigla em inglês), que administra o metrô da cidade.

“Como vamos sobreviver? Não temos turistas, as pessoas estão trabalhando em casa. Não temos nada”, disse Jairo Cardenas, de 62 anos, sapateiro que dirige uma loja de engraxate no trecho da Oitava Avenida da estação Times Square, normalmente uma das paradas mais movimentadas do sistema.

No Oyster Bar, Sandy Ingber, chef e coproprietário, estava otimista com a volta de clientes antigos. Mas, em poucos dias, as reservas pararam. Quando o número de comensais diminuiu, o mesmo aconteceu com a equipe. Os primeiros a ser dispensados foram os garçons, depois alguns cozinheiros. Ingber lutou para manter seu último responsável por abrir as ostras – é um bar de ostras, afinal –, mas logo depois até ele foi demitido. “Não é sustentável. Até termos mais tráfego a pé na Grand Central, não podemos abrir”, afirmou Ingber, de 66 anos.

Ele não sabe quando isso será viável. “As pessoas estão com medo de entrar em restaurantes fechados, ainda mais em uma estação de trem”, observou.

Em um esforço para manter as lojas remanescentes abertas, a agência adotou recentemente um plano para oferecer alívio no aluguel de longo prazo, ajustando os valores para refletir as vendas atuais até que os negócios voltem ao normal. “Queremos ter certeza de que, quando o sistema voltar, não teremos perdido todas as comodidades para nossos clientes”, disse Janno Lieber, chefe de construção e desenvolvimento da autoridade.

Ainda assim, alguns donos de lojas dizem que, com a frequência do metrô em apenas 30% dos níveis normais – e com a pouca probabilidade de que volte aos níveis pré-pandemia, porque cada vez mais as empresas mantêm seus funcionários trabalhando de casa –, o alívio do aluguel pode não ser suficiente para mantê-los funcionando.

Mesmo os negócios mais icônicos não foram poupados da queda livre financeira.

Mais à frente da Backwoods, a loja Record Mart – que vendia vinis e equipamentos de som – estava presente na estação havia meio século. Mas, nos últimos anos, seu proprietário, Lou Moskowitz, assistiu ao fechamento do banco do outro lado do mezanino e à queda em suas vendas recordes à medida que a maioria do varejo migrava para o mundo on-line. A pandemia parecia um catalisador de um fim inevitável. No início de junho, a loja fechou permanentemente. “As coisas estão tão diferentes agora que é difícil ter uma loja de discos no metrô. E eu sabia que ninguém ia usar os trens, por isso não valia a pena reabrir”, disse Moskowitz, de 53 anos, que assumiu a loja de seu pai há 14 anos.

A MTA tentou nos últimos anos renovar espaços vazios de varejo para tornar o sistema mais atraente para os passageiros e também produzir algum dinheiro para o sistema: no ano passado, os imóveis geraram cerca de US$ 60 milhões em receita – abaixo dos cerca de US$ 80 milhões do ano anterior, de acordo com autoridades de trânsito.

A agência anunciou planos para novas lojas pop-up e máquinas de venda automática de alta tecnologia, e tentou atrair desenvolvedores com ofertas de reforma de mezaninos inteiros nas principais estações.

O primeiro empreendimento foi inaugurado na estação Rua 59-Columbus Circle, onde um corredor vazio foi transformado em um minishopping conhecido como Turnstyle Underground Market, com um estande de donuts, um restaurante de paella e uma loja de sabonetes que também vende sais de banho. “Estamos num momento em que as pessoas querem entrar e sair rapidamente dos espaços públicos. Elas podem querer frequentar as lojas de conveniência de que precisam em seu trajeto”, afirmou Lieber, que está liderando a iniciativa.

A agência espera reformar os dois mezaninos na estação Times Square, onde lojas vazias estão cobertas de cartazes azuis brilhantes anunciando o espaço aos desenvolvedores.

Cardenas, o sapateiro da estação, olha para os cartazes quando abre sua loja. Mesmo antes da pandemia, as placas chamativas já o lembravam de que seu tempo na estação estava provavelmente acabando.

Hoje, a mensagem parece ainda mais exata. Antes da pandemia, cerca de 80 pessoas por dia paravam em sua loja apertada, onde o cheiro de graxa paira no ar. Ele disse, porém, que, nas últimas semanas, se considera um sujeito de sorte quando atende dez clientes. Já demitiu três de seus quatro empregados. “É terrível, o negócio está terrível. Todo dia ele morre um pouco”, queixou-se Cardenas.

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