Aprovação da nova lei que permite aquisição de imunizantes pela iniciativa privada ainda deve ser votada no Senado; negociação com embaixa surge na tentativa de acelerar processo de compra
A frente de empresários que defende a compra de vacinas contra a covid-19 está negociando importações diretamente com a embaixada chinesa. As conversas são uma maneira de acelerar o processo de compra e distribuição de imunizantes, enquanto a nova lei está em tramitação no Congresso brasileiro.
Em nota, o lobby de empresários liderado por Carlos Wizard e Luciano Hang, responsável pela pressão feita aos parlamentares brasileiros, afirma que na última semana, um emissário do movimento se reuniu com representantes da embaixada da China em Brasília, com o objetivo de comprar vacinas fabricadas no país asiático.
O encontro foi articulado pelo Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), presidido pelo advogado Thomas Law, e pelo Comitê de Crise da Covid-19, ligado à Frente Parlamentar Mista do Comércio Internacional e Investimentos, que conta com 207 deputados, 7 senadores e é coordenada pelo deputado Evair de Melo (PP-ES). Também participou da reunião um representante da Belcher Farmacêutica, indústria paranaense que integra a iniciativa de Wizard e Hang.
As negociações, porém, não envolvem o laboratório Sinovac, que produz insumos para a fabricação da vacina Coronavac, distribuída nacionalmente pelo Instituto Butantan. A decisão pretende evitar possíveis concorrências. Para isso, o grupo conversou com Qu Yuhui, ministro conselheiro da embaixada da China, sobre a possibilidade de compra de imunizantes de outros fabricantes chineses, como Sinopharm e Cansino.
De acordo com Melo, Yuhui garantiu durante a reunião que a embaixada Chinesa no Brasil está em contato constante com os laboratórios que produzem os cinco tipos diferentes de imunizantes contra o coronavírus. Ele lembrou que existem tratativas com o Ministério da Saúde para que “outras vacinas sejam aprovadas para distribuição e isso pode aumentar o fluxo de fornecimento”, diz a nota.
A vacina produzida pela Sinopharm com o Instituto de Produtos Biológicos de Pequim tem eficácia de 79%, segundo a farmacêutica. A China aprovou, no final de 2020, o uso emergencial do imunizante. Antes disso, países como Emirados Árabes Unidos e Egito já utilizavam a vacina em seus programas de imunização nacionais.
Sob o apoio de parlamentares como o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), o grupo comemorou a aprovação do texto-base da nova legislação pela Câmara dos deputados, no início do mês. O projeto seguiu para aprovação no Senado, que ainda não o colocou em votação. Naquele mesmo dia, diversos representantes do Governo – incluindo o presidente da República Jair Bolsonaro – e empresários envolvidos no movimento se reuniram na casa de Washington Cinel, dono da empresa de segurança Gocil, para discutir a agenda de reformas administrativas e tributárias e a aprovação da compra de imunizantes pela iniciativa privada.
Na lei atualmente em vigor, a iniciativa privada só pode comprar vacinas após todos os grupos de risco serem imunizados por intermédio do SUS. São cerca de 78 milhões de brasileiros. Enquanto a vacinação não estiver concluída, as empresas devem doar 100% das doses adquiridas para o Ministério da Saúde. Após a vacinação dos grupos prioritários, a obrigação de doação cai para 50%, de acordo com a nova lei.