Chanceler paraguaio veio pedir ajuda diante de protestos por falta de imunizantes e remédios contra a Covid-19; no encontro em Brasília, ministro brasileiro também afirmou que acordo de Itaipu será renegociado
BRASÍLIA — O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quarta-feira que o Paraguai será o primeiro país a receber vacinas do Brasil, quando isso for possível. Com seu país sem imunizantes e equipamentos para o atendimento às vítimas do coronavírus, o chanceler paraguaio, Euclides Acevedo, manteve reuniões, em Brasília, com Araújo e o presidente Jair Bolsonaro, para pedir ajuda.
— O Brasil tem como prioridade na sua cooperação internacional o Paraguai. Assim que estivermos prontos para começar a cooperar internacionalmente no provimento de vacinas, o Paraguai será a nossa prioridade número um — afirmou o ministro brasileiro.
No Brasil, o processo de imunização é considerado desastroso por especialistas. A campanha de vacinação não deslancha como deveria e é criticada como lenta demais, pelas dificuldades de o governo federal fechar contratos e garantir as entregas dos imunizantes importados, além de dificuldades de trazer insumos para a fabricação nacional.
Ernesto Araújo também informou que o Brasil está pronto para reabrir as negociações para a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu. O documento, que estabelece as bases financeiras da prestação de serviços de eletricidade, determinará as condições de comercialização e preços de energia da usina binacional a partir de 2023, 50 anos depois deda construção da hidrelétrica, quando as dívidas da obra estarão pagas.
— Estamos prontos a começar as discussões tão logo as circunstâncias da pandemia minimamente o permitam —afirmou o chanceler.
Em agosto de 2019, o Paraguai mergulhou em uma forte crise política depois que veio à tona que o governo do país havia assinado com o Brasil um documento em que se comprometia a comprar energia mais cara do que o habitual da Usina de Itaipu.
Isso provocou a queda de altos funcionários paraguaios e, por pouco, o presidente Mario Abdo Benítez — aliado de Bolsonaro na região — não foi destituído. A negociação em novas bases é considerada crucial pelas autoridades paraguaias.
Euclides Acevedo agradeceu. Chamou Ernesto Araújo de amigo, e elogiou a disposição do Brasil em discutir o Acordo de Itaipu e a solidariedade brasileira quanto a um futuro fornecimento de vacinas.
O apoio do Brasil, mesmo tímido, é importante para o presidente paraguaio. A crise sanitária no país vizinho levou milhares de pessoas às ruas do Paraguai em protestos contra o governo de Abdo Benítez. Nesta quarta, a oposição apresentou um pedido de abertura de um processo para o julgamento político de Abdo, mas não teve maioria para levá-lo adiante.
— Temos dinheiro, mas não temos vacinas para comprar — disse o chanceler paraguaio, que também viajará para a Argentina e o Chile em busca de ajuda.
Na noite anterior ao embarque para o Brasil, Acevedo deixou claro o desapontamento de seu governo com o consórcio Covax, criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o fornecimento de vacinas aos países pobres e em desenvolvimento. O Paraguai comprou 4 milhões de vacinas em outubro do ano passado, mas não recebeu uma única dose por esse mecanismo. Com 7 milhões de habitantes, só chegaram ao país até agora 4 mil doses da Sputnik, doadas pela Rússia.
O chanceler paraguaio disse que está tentando um contato com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Acrescentou que também já conversou com autoridades de Índia, dos Emirados Árabes e de Taiwan.