Um formulário publicado na internet no começo da tarde desta terça-feira (18) já tinha, às 20h, mais de 1.200 ofertas de aulas “doadas” por adultos nas escolas ocupadas por alunos contra o projeto de reestruturação planejado pelo governo estadual. Segundo o Hub Livre, grupo que apoia movimentos por meio de ferramentas nas redes sociais e que criou a proposta, o link para o formulário começou a ser divulgado às 13h30. Durante a tarde, o link viralizou nas redes sociais.
Segundo os resultados parciais do formulário, às 19h15, já havia 1.076 ofertas individuais de pessoas e grupos interessados em oferecer aulas, palestras e oficinas aos estudantes que protestam dentro das escolas. Às 19h30, o formulário registrava 1.136 respostas. Às 20h, já eram 1.204 voluntários e, às 20h30, o número chegou a 1.323.
O G1 procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação Estadual de São Paulo para saber se voluntários estarão autorizados a entrar nas escolas ocupadas. Em nota, ela afirma que “as atividades colaborativas propostas pelos manifestantes durante o processo reorganização da rede escolar não seguem o currículo oficial do estado, que conta com atividades específicas para cada disciplina proposta no caderno do aluno.”
A Secretaria declara também que haverá reposição do conteúdo perdido nas unidades ocupadas entre 18 e 23 de dezembro. “A Pasta reafirma que a reorganização é um processo democrático e visa melhorar a qualidade de ensino dos estudantes e apromorar as condições de trabalho dos educadores”, afirma a nota.
A maior parte dos voluntários se dispõe a ficar com os estudantes entre uma e duas horas. Cerca de um terço das pessoas interessadas em apoiar as ocupações estão dispostas a “doar” aulas em qualquer uma das escolas atualmente ocupadas.
Um destes voluntários é o arte-educador Amilcar Zanelatto, de 54 anos. Morador de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, ele afirmou que foi professor na rede pública estadula durante 12 anos, mas atualmente trabalha com projetos de artes ligados à educação.
Zanelatto diz que estudou na rede pública até o fim do ensino médio. “Até ingressar numa faculdade, fiz licenciatura em artes plásticas na Faap [Fundação Armando Álvares Penteado]”, contou ele. Ao ficar sabendo do projeto que pretende reunir voluntários para apoiar as ocupações, ele decidiu participar oferecendo uma oficina sobre acessibilidade e direitos das pessoas com deficiência.
“Essa é uma luta por um direito que é um direito inalienável. Então é a mesma luta que nós, pessoas com deficiência, travamos para atingirmos o direito de acesso à educação,
à saúde e a uma série de outras conquistas. E há uma semelhança nesse movimentos dos estudantes, há muita semelhança com movimentos dos quais participei nas década de 80”, relembrou ele.
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo mencionou, na mesma nota, índices relacionados à qualidade de ensino. Dentre eles, é citada a classificação de São Paulo como o segundo melhor ensino médio do país, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O consultor político Vítor Oliveira, de 28 anos, foi outro que decidiu contribuir com o protesto compartilhando seus conhecimentos. Formado em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), e com mestrado em ciência política, o jovem, que é sócio de uma consultoria política, afirma que já tem experiência como professor de cursos livres de educação política e direitos humanos.
“Não acho que seja ilegítimo do governo estadual propor uma reorganização, ainda que implique fechamento de algumas escolas”, explicou ele. “Mas, do ponto de vista da gestão democrática das escolas, que é uma necessidade, acho muito ruim que estudantes, professores e pais não tenham sido ouvidos nessa reorganização.”
Oliveira diz que se ofereceu para “doar aulas” no seu próprio tempo livre, sem vínculo com seu trabalho, e que está disponível para conversar com os estudantes das escolas na Zona Oeste de São Paulo, mais próximas de seu trabalho e de sua casa.
O jovem afirmou que não pensou em contribuir com os protestos com doações. “Não tinha pensado em fazer isso porque não tenho conhecido meu que está envolvido, então seria muito até um pouco ilegítimo da minha parte. Mas a partir do momento que estão pensando em aulas livres, em discussões, se torna mais razoável a minha participação”, disse.
“Não tem nada que me agrada mais nesse mundo do que gente que quer discutir e refletir sobre essas questões. É por isso que pensei na participação dessa forma”, afirmou o consultor.