‘Câncer lavou minha alma’, diz jovem; ela foi curada de linfoma em 2014. Ela tem 15 mil seguidores e recebe mensagens dos EUA e Canadá.
A descoberta de um linfoma (câncer) na amígdala esquerda levou a estudante de psicologia Luciana Calazans, de 22 anos, a fazer uma reflexão que culminou na criação de uma página no Facebook para “levar fé, alegria e solidariedade para as pessoas”. Moradora de Sobradinho, no Distrito Federal, ela já conquistou 15 mil seguidores, incluindo pessoas de outros países, no projeto“Continuar Sorrindo”, que existe desde 2013.
“Fiquei cinco dias internada, esperando o resultado da biópsia, convivendo com pessoas que estavam sofrendo muito, cada uma com uma enfermidade diferente e pior que a outra. Todos eram guerreiros que lutavam muitas vezes sem apoio de familiares. Durante esses dias, amadureci e aprendi muito. Jamais tinha visto a realidade de um hospital público, muito menos vivido algo parecido antes.”
Com o resultado, veio a surpresa. Luciana estava com linfoma plasmoblastico aos 20 anos. A estudante diz ter recebido a notícia como ”um murro na cara”. “Fiquei sem chão, sem fala, não conseguia raciocinar direito, era difícil e tenso pensar que aquilo estava acontecendo comigo, que eu estava com um câncer. Achei que ia morrer, chorei muito, foi bem dolorido.”
O tratamento com quimioterapia terminou em novembro do mesmo ano. As dores, a perda dos cabelos e os enjoos não desanimaram a jovem, que encarou a doença como “um desafio”. Hoje, ela afirma que a doença permitiu que ela “renascesse”, que “lavasse a alma”.
“Aprendi a ser mais humana e tratar todos com igualdade. Não sabemos o dia de amanhã. Os pacientes chegavam na primeira sessão da quimioterapia abatidos e sem esperança. Eu sentava e explicava que era possível desapegar do cabelo e que tudo aquilo era uma fase.”
Durante o tratamento, Luciana publicava mensagens de otimismo e informações sobre a doença, todos os dias em suas redes sociais pessoais. Os amigos, emocionados com os relatos da jovem, a encorajaram a criar a página, que recebeu o nome “Continuar Sorrindo”. “Foi ai que eu pensei: ‘por que não?’ Quero levar para o mundo o que eu venho aprendendo a cada dia.”
Com a ajuda do amigo publicitário Thiago Macedo, de 29 anos, Luciana “colocou a mão na massa” e criou a página. Para a divulgação, os jovens desenvolveram camisetas com uma logormarca do projeto. “A princípio, não tínhamos a ideia de vendê-la, mas todo mundo nos procurou querendo uma”, diz.
A camiseta é vendida por R$ 25, e o dinheiro é repassado para a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). Cabelos, brinquedos, livros e materiais hospitalares, como agulhas e luvas, também são doados para hospitais públicos de Brasília.
“Meu pré-projeto na faculdade foi sobre a Abrace (entidade que presta assistência a crianças e adolescentes com câncer)’. Eu me envolvi demais fazendo esse trabalho. Quando eu descobri que a Luciana estava com câncer, eu pensei se não poderia usar a base dele para montarmos algo”, conta o publicitário que faz toda a parte gráfica da página.
Diariamente, são publicadas mensagens que levam fé e motivação para as pessoas e histórias de pacientes que lutam contra a doença. Luciana diz que o objetivo é trazer mais esperança para o cotidiano de quem precisa. “Já recebi mensagens de pessoas que estavam passando por uma forte depressão. De alguma forma, consegui ajudá-las.”
Com o tempo, o projeto começou a receber mais mensagens, inclusive de internautas de países como Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia. “Não esperava mesmo que eu fosse atingir pessoas de tão longe e criar amizades. Considero como uma ponte de amor, entende? Fiz a página para ajudar. Na verdade, sou ajudada diariamente.”
Mudança
Curada do linfoma há dois anos, Luciana diz que a vida dela mudou completamente após o diagnóstico da doença. A estudante passou a ser preocupar mais com a alimentação e atividades físicas e diz que cuida particulamente da mente, com reflexões positivas que devem ser diárias.
“Eu parei de reclamar de tudo, agora só agradeço. Sou mais otimista, fortaleci a minha fé. Hoje, sou muito grata. Nada acontece por acaso. Se eu tive câncer foi por um motivo”, diz.
“Me sinto mais viva, mais agradecida. O linfoma mudou também a minha família, estamos mais unidos. Ele veio para somar, para me modificar.”
A jovem afirma que perdeu diversos amigos vítimas da doença. Mesmo assim, ela acredita que a batalha não foi perdida. “A morte foi uma forma de vencer, sabe? Como disse, nada é de propósito. Estamos aqui para evoluir. Esse é o anseio da nossa alma. Quanto mais profundo o aprendizado, maior a evolução e o poder de cura.”