O Senado dos EUA omitiu uma cláusula para proibir que armas entregues à Ucrânia acabem nas mãos do Batalhão Azov neonazista, levando especialistas a teorizar sobre a causa disso.
O pacote de ajuda militar à Ucrânia aprovado na quinta-feira (19) pelo Senado dos EUA omite algum tipo de proibição de entrega de fundos ao Batalhão Azov neonazista, disse Karen Kwiatkowski, ex-conselheira do Pentágono, à Sputnik.
Os legisladores têm citado estatutos domésticos amplamente aplicáveis já em vigor, chamados de Leis Leahy, que proíbem a ajuda a qualquer unidade militar estrangeira se houver “informações confiáveis” de violações graves dos direitos humanos, como justificativa para o passo.
O Batalhão Azov foi proibido em 2015 de receber qualquer ajuda por Washington, e apesar da proibição ter sido suspensa em 2016, ela foi reinstituída em um projeto de lei de Dotações de Defesa de 2018.
No entanto, Kwiatkowski referiu que os EUA ainda não identificaram o grupo como um violador de direitos humanos, e que tais leis são opostas pelo Pentágono por serem suficientemente amplas para minar seus esforços de assistência à segurança na América Latina, na Europa Oriental e no Oriente Médio. Além disso, o Departamento de Estado critica as Leis Leahy por poderem visar Israel, “um violador dos direitos humanos bem documentado aos olhos de muitos”, segundo a ex-conselheira do Pentágono.
As verdadeiras razões para a omissão, crê a ex-política, é para simultaneamente criar um álibi no caso de neonazistas ucranianos violadores de direitos humanos serem altamente divulgados na mídia, e lhes enviar bilhões de dólares “inocentemente”, e também porque o Batalhão Azov é a força mais eficaz e antirrussa que resta na Ucrânia.
“O Pentágono, em particular, prefere trabalhar com o que vê como vencedores, sobreviventes de longo prazo e, claro, aqueles que já estão treinando, e isso inclui neonazistas e banderistas uniformizados do Exército ucraniano regular, segundo o próprio presidente [Vladimir] Zelensky em recente entrevista à mídia dos EUA”, disse Kwiatkowski. Além disso, notou ela, em 2018 os legisladores democratas estavam “eufóricos” com tentativas de prevenir abusos de direitos humanos.
Phil Giraldi, ex-responsável da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos EUA, por sua vez, vê duas razões principais para a ausência da cláusula.
“Primeiro, a proibição era inútil, pois dar armas ao Exército ucraniano significaria que certa porcentagem das armas acabaria nas mãos do Batalhão Azov, e, segundo, o Congresso [dos EUA] quer realmente punir a Rússia e está inclinado a colocar novas armas nas mãos daqueles que sabem como usá-las e estão dispostos a lutar duro e até mesmo morrer para matar os russos”, teorizou à Sputnik.
Beau Grosscup, professor de ciências políticas da Universidade Estadual da Califórnia, EUA, citou uma máxima clássica americana de segurança para explicar a ausência da cláusula.
“Há um princípio [e] prática de longa data na política externa americana, ‘o inimigo de meu inimigo é meu amigo'”, apontou Grosscup à Sputnik, acrescentando que a administração Biden e a mídia corporativa ajudarão a garantir que ninguém perceba a mudança, e que aqueles que a perceberem serão duramente criticados como pró-russos e anti-OTAN ou anti-EUA.