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terça-feira, 23/04/24
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Europa discute relação distante com Turquia e América Latina

Os ministros de relações exteriores da UE se reúnem para debater a relação com dois aliados cada vez mais distantes: a Turquia e a América Latina

A BASÍLICA DE SANTA SOFIA: novo palco de distancialmente entre a Turquia e a União Europeia (REUTERS/Murad Sezer/Reuters)

Os ministros de relações exteriores da União Europeia se reúnem nesta segunda-feira (13) para debater a relação com dois aliados cada vez mais distantes: a Turquia e a América Latina.

O encontro ocorre dias depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decidir converter a basílica de Hagia Sophia (“Santa Sofia”) em uma mesquita, causando consternação entre líderes europeus. O comissário de relações exteriores da União Europeia, Josep Borrell, considerou a decisão da Turquia “lamentável”.

O monumento construído no ano 532 durante o Império Bizantino é considerado um patrimônio histórico da humanidade. Ele foi um importante templo da igreja católica romana e da igreja ortodoxa durante séculos e, em 1453, foi convertido em uma mesquita durante o Império Otomano. Em 1935, a basílica foi transformada em um museu.

A mudança de status do templo é apenas o mais recente movimento do governo de Ancara para se distanciar dos valores e das políticas defendidos pela União Europeia. Desde o ano passado, a Turquia tem promovido atividades de perfuração no Mar Mediterrâneo em uma área que a Grécia e Chipre consideram fazer parte do seu território. O caso levou a União Europeia a adotar sanções contra a Turquia em novembro.

Outro foco de tensão foi uma recente provocação de navios turcos contra uma fragata da França no mês de junho. A embarcação francesa operava em uma missão da Otan e tinha ordens para inspecionar um navio de bandeira da Tanzânia suspeito de contrabandear armas para rebeldes da Líbia.

Os navios da Turquia – que também é membro da Otan – impediram a ação e provocaram a fragata francesa. Por causa do incidente, a França pressiona para que novas sanções contra a Turquia sejam aplicadas pela União Europeia e pretende colocar o tema em discussão na reunião ministerial desta segunda-feira.

Durante anos a Turquia foi uma potencial candidata a se juntar à União Europeia. Mas as negociações estão estagnadas desde que um golpe de Estado frustrado contra o presidente Recep Erdogan levou a uma escalada autoritária do seu governo. Erdogan também vem se aproximando cada vez mais do presidente russo Vladimir Putin. Recentemente, a Turquia finalizou um acordo com a Rússia para comprar mísseis antiaéreos do modelo S-400, capazes de derrubar caças americanos.

Entretanto, a dependência econômica da União Europeia limita as ações do presidente da Turquia. Os países do bloco europeu são o destino de metade das exportações da Turquia e fornecem 36% dos produtos importados pelo país. Além disso, as empresas europeias correspondem a 65% dos investimentos estrangeiros diretos na Turquia. E, apesar de a pandemia ter interrompido o fluxo de turistas, a Turquia recebe todos os anos milhões de turistas de países da União Europeia, especialmente da Alemanha. O custo da briga com a Europa, portanto, tende a ser alto para o governo Erdogan.

No caso da América Latina, a discussão da UE é sobre uma ajuda ao combate à Covid-19. Os europeus até agora pouco cooperaram no combate à pandemia fora de suas fronteiras. “A China, primeiro epicentro da crise, tem sido mais solidária”, diz o ex-secretário de comércio exterior Welber Barral. Sinal disso é que o principal bilionário chinês, Jack Ma, fundador do comércio eletrônico Alibaba, se comprometeu a enviar máscaras e luvas a profissionais de saúde de países latinos severamente atingidos pela pandemia, inclusive o Brasil.

Para além da apatia, os europeus olham os governos da América Latina com desconfiança cada vez maior, em particular o do Brasil. “A imagem do País está muito abalada por causa da política ambiental equivocada do governo Bolsonaro”, diz Carlos Braga, professor de economia internacional na Fundação Dom Cabral e mediador de negociações com a UE quando trabalhou no Banco Mundial, nos anos 2000. “Essa situação atrapalha a cooperação inclusive em outras áreas, como o combate à Covid-19”.

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